7 dicas para aumentar seu foco nos estudos (de alguém que também sofre)

Aprender dói. Pra algumas pessoas mais, pra outras menos. Mas nosso cérebro naturalmente quer poupar energia, e aprender coisas novas é um desafio pra todo mundo.

Geisa Ponte
Universo Observavel
6 min readMar 1, 2020

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meu caderninho de processos radiativos (matéria da pós-graduação)

Ontem apareceu no meu feed do Twitter um pedido de dicas sobre como focar mais nos estudos. Na hora escrevi alguns tweets rapidinhos sobre isso e achei que valia a pena trazer os pontos pra cá e reescrever sem ficar presa nos 280 caracteres. E esse é um tema que gosto muito de falar.

Eu sempre tive muita dificuldade de concentração, mesmo gostando muito do que estudo e trabalho. Depois de muito sofrer e bater a cabeça ao longo dos anos, tentar e tentar, e depois tentar mais algumas vezes, com a experiência eu desenvolvi uma receitinha de bolo que compartilho com vocês aqui em baixo. Essas são 7 dicas legítimas que tiro da minha própria vivência, que têm funcionado bastante comigo e compartilho com vocês.

Então vou evitar detalhar demais dicas mais clichês (mas que também são importantes): Procurar um lugar silencioso e sem interrupções. Usar mesa e cadeira confortáveis que não causem dor nas costas. Procurar vigiar a postura pra não ficar corcunda com dor de cabeça. Se for lugar barulhento, usar fone de ouvido com uma playlist de música calminha, etc. Acho que essas dicas já estão mais óbvias e vocês conseguem ler por aí em outras matérias do tipo.

Minha área é astronomia/astrofísica (exatas) então não sei se todas dicas servem pra outras áreas também, mas acredito que alguns pontos são aproveitáveis pra todo mundo. Ainda assim, é bom lembrar que esses pontos não são internalizados automaticamente. Trabalhe neles, leia, releia, vai internalizando. Como eu disse, eu não desenvolvi essa receitinha de uma vez só, levou anos. E seria um milagre se você conseguisse aplicar tudo de uma vez, já tudo dando certo, a todo vapor.

A dica zero então é: entenda que o que deu certo pra mim, não necessariamente vai dar pra você. E também que (se der certo pra você), suas atitudes não vão mudar automaticamente do dia pra noite. Temos uma inércia de hábitos que são difíceis de mudar, mas com persistência é possível.

Então, vamos lá? Como melhorar o foco para se concentrar nos estudos?

1. Tentar se programar para estudar sem “depender” da internet. É difícil, eu sei. Mas se o seu principal problema pra focar vem de notificações, redes sociais, mensagens — tudo conectado a internet, te recomendo fortemente fazer um ‘desmame’. Principalmente do celular, dificultar seu acesso a ele. Se precisar de uma calculadora, use uma comum, daquelas baratinhas em lojas de coisa pra casa, ou uma científica se tiver. Se sentir muita dificuldade de se manter longe do celular, deixe ele desligado em outro cômodo. Use esse tempo pra você, nenhuma notificação de rede social é mais importante que o seu objetivo. Seus amigos vão continuar lá quando você terminar o estudo de hoje, ninguém vai a lugar algum. Se necessário, avise as pessoas mais próximas que estará indisponível nas próximas horas por motivos de: estudo. Se tiver que usar material no computador como PDFs, e-books, página de professor, etc, baixa tudo antes de começar e desabilita a rede wi-fi. Se for no celular/tablet, deixe em modo avião e sem wi-fi.

2. Faça uma lista do que exatamente vai estudar no dia. Seja objetivo, não comece o estudo sem direção, sendo levado pela maré. Planeje, esteja você no controle. Você é o piloto desse avião, pra onde ele vai hoje? Especifique o que exatamente você quer ver nesse dia, por exemplo, “Seção 2.1 a 2.3 do livro X”. Tenha metas pequenas e realistas. Pense só na meta DE AGORA, não no todo que precisa ser estudado. Isso evita ansiedade em pensar que o elefante é grande demais pra ser comido inteiro. Dê só uma mordida por vez.

3. Faça os exemplos de exercícios. É importante no fluxo do estudo que você se coloque em ação, não apenas lendo passivamente a matéria. Coloque o está aprendendo em prática, através de exemplos, fazendo passo a passo. Resolva exercícios, se questione, porque usar isso ou aquilo? Faça um fluxograma ou um algoritmo do que é necessário pra resolver os exercícios. Sinta prazer nesse processo, como se você estivesse hackeando o esquema.

Por exemplo: para esse tipo de questão, primeiro: decido qual o melhor sistema de coordenadas para resolver o problema (cartesiana, esférica, cilíndira), segundo: encontro os vínculos físicos entre as grandezas envolvidas, terceiro: encontro as coordenadas generalizadas, etc. Escreva esse algoritmo como se você fosse ensinar essa matéria no quadro pra alguns colegas. Vale também desenhar, colorir, fazer um mapa mental. Como você explicaria o passo a passo pra alguém que tá aprendendo?

Nesse processo, algumas lacunas do que você ainda não sabe podem ficar expostas, evite pensamentos do tipo “eu já deveria saber isso”. Foca em pensar “mais uma coisa que aprendi, uhuu”. Comemore cada parte que finalizar!

4. Dê uma chance a técnica pomodoro. Você pode usar um daqueles cronômetros de cozinha, também vendidos em lojinhas de coisas pra casa. Esses não vão funcionar bem se você estiver num espaço compartilhado, como biblioteca, porque vai incomodar as pessoas ao seu redor. Daí melhor usar um app no celular como cronômetro (eu recomendo esse), mas lembra de deixá-lo com modo avião ligado.

Cronômetros de cozinha podem ser os melhores aliados na técnica pomodoro se seu celular te atrapalha a estudar. Existem desde modelos baratinhos até mais sofisticados, mas são ideais se você estudar em locais reservados, como em casa, para não atrapalhar o coleguinha ao lado quando o alarme soar.

5. Faça pausas. Mesmo não usando a técnica pomodoro (seu tempo de concentração pode ser mais longo), separe momentos recorrentes para fazer um breve relaxamento. Vá beber uma água, fazer um xixi. Estica as pernas, faz um alongamento. Respira fundo, faz uns minutinhos de respiração diafragmática (ver gif abaixo). Quem sabe tomar um cafézinho, um cházinho com alguma cafeína pra dar um boost (mesmo que só emocional) e voltar recarregado pra se concentrar de novo.

Tente respirar no ritmo dessa animação

6. Tente a técnica da Atenção Plena. Antes de começar a estudar, feche os olhos e se imagine estudando, sentado na cadeira, com cadernos e livros abertos. Se sinta ali, induza um sentimento de prazer no processo. Pense no porquê de estar estudando, por qual motivo, por que é importante render bem hoje. Se reconecta com seus motivos, o que te fez começar essa jornada? Você ama o que faz? Ou está finalizando um processo necessário para finalmente ir fazer o que ama? Entenda a importância. Se visualize fazendo, se concentrando, finalizando o dia, fechando o livro, guardando seu material de volta e estando com a sensação de satisfação, de dever cumprido.

7. E o mais importante: exercite a autocompaixão. Se não der certo uma tentativa ou outra, se perdoe, se abrace. Não exija de você o que não exigiria de um amigo, por exemplo. Entenda que aprender alguma coisa nova é uma jornada, não acontece da noite pro dia. Vai ter tropeço, vai ter vitória, vai ter falha. Isso é o esperado. A cada tentativa, você sempre aprende algo, seja do estudo em si ou do que funciona ou não funciona pra você.

DICA BÔNUS: No dia seguinte, releia suas anotações do que foi estudado no dia anterior. Depois de uma boa noite de sono, você tá prontinho pra dar uma consolidada nos conceitos novos. Pode ser no ônibus, pode ser num intervalo (em vez de ficar no Twitter, risos), ou mesmo antes de começar o novo dia de estudo, já sentado a mesa. Tire uns minutinhos, refaça mentalmente os passos da última sessão de estudos, relembre as conclusões que tirou, os “ahááá” quando a ficha caiu e algo fez sentido. Revisar reforça o aprendizado. É você mostrando pro seu cérebro que aquela informação é importante, que ele não tem que poupar energia tentando esquecer aquilo. Afinal, quem manda nele é você. :P

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Geisa Ponte
Universo Observavel

Astrônoma/astrofísica curiosa que adora investigar gêmeas solares. Escreve mensalmente na Revista Galileu. Criadora da #AstroThreadBR no Twitter.