Julia Salgado Benning.
Universo Ametista
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3 min readMay 16, 2018

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Quando você se depara com o seu reflexo em algum lugar, o quanto você sente que pertence ao lugar onde a vida te colocou?

O quanto você se julga capaz de mudar seu momento atual?

Estas não são perguntas que se responde facilmente. Isto porque, a maioria gritante do nosso tempo, não estamos vivendo de verdade e sim apenas nos adaptando, violentando nosso formato original para podermos caber nas caixas que nos foram dadas. E não me refiro ao presente mais legal da sua vida, e sim aquele bem genérico, que talvez já estivesse no guarda-roupas do fulano faz tempo e ele te deu “só para não passar em branco”. É aquele tipo de presente que te constrange, mas que você se sente obrigado a sorrir mesmo assim.

Caixas normalmente são cúbicas e frequentemente não tem o tamanho suficiente para tudo aquilo que você deseja guardar. É bem possível que você já tenha sofrido com alguma delas.

Caixas são símbolo de sufocamento.

É como se você estive olhando o céu mais bonito do universo, aquele céu que é só seu, que é puramente verdadeiro; exatamente quem você é naquele momento. Então, sem que perceba, enquanto te direcionam um sorriso plástico-carinhoso, tudo fica escuro. Suas estrelas e galáxias sumiram, não há mais nada, não há mais como abrir os braços ou gesticular. Ao fundo, o barulho da fita adesiva, do lacre sendo colocado.

Pintaram um sorriso na sua face, mas lá dentro de você está agoniado, não é?

Na infância, quando você aceitou um abraço e sorriu, era porque você queria, porque sua mãe te mandou ser simpática?

Você escolheu seu curso no Sisu e o seu sorriso pertencia a você ou a uma expectativa de terceiros satisfeita?

Quando você diz “sim” é por prazer ou por medo de rejeição?

Viver é difícil, escolher é difícil, a linha entre o amor-próprio e o egoismo é tênue, o medo de decepcionar é doloroso. Mas viver um equívoco, também. É possível passar pelos dias em escala de cinza, mas, quando se olhar no espelho, o que sobre você, o fará vislumbrar o límpido céu que foi seu um dia?

Você quer lutar por sua essência? Saiba que não precisa se desconstruir por inteiro, não precisa provar sua autenticidade para ninguém. Arranhe as extremidades da caixa no seu ritmo, uma hora poderá abrir os braços novamente e suas constelações estarão lá onde deixou, brilhando para sempre.

Regras, costumes e padrões vem e vão, você é para sempre. Em corpo ou em memória, nossa essência não some. Somos diferentes um dos outros, temos habilidades distintas e propósitos únicos nos movem pelos caminhos que nos são apresentados naturalmente.

A vida é um universo em expansão, as caixas são um simulador bem limitado.

A sociedade as usa porque a compreensão humana ainda é governada pelo medo do desconhecido, logo, criar padrões é mais confortável, compartimentar facilita tudo. Mas, forçar isso às pessoas é violência! Nunca esqueça disso e não passe adiante.

Cabe a mim, a você e a quem mais preferir seu mundo particular, rasgarmos a caixinhas e, de preferência, destruir a fábrica.

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Julia Salgado Benning.
Universo Ametista

Advogada, ambientalista, apaixonada pela existência humana, prosa poética, fantasia e mais um monte de coisa. Acredito que palavras mudam o mundo.