Desigualdade tecnológica

Felipe Tomaz
Universus Jornalismo UniRitter
3 min readJun 18, 2021

Problemas financeiros e dificuldade de conexão são obstáculos para o avanço dos estudos durante a pandemia.

Notebook usado que foi doado ao estudante Tiarles Henrique Dias — Crédito: Arquivo Pessoal

Felipe Tomaz Benfica

A evasão escolar é uma das consequências da pandemia de Covid-19 no Brasil. De acordo com pesquisa do Instituto Datafolha, realizada a pedido do banco digital C6 Bank, 8,4% dos estudantes com idade entre 6 e 34 anos abandonaram os estudos em 2020, o que representa cerca de 4 milhões de pessoas, principalmente por problemas financeiras e dificuldade para acessar as aulas remotas. O abandono foi de 4,6% no ensino fundamental e 10,8% no ensino médio. No ensino superior, chegou a 16,3%.

Para Tiarles Henrique Dias, de 16 anos, estudante do ensino médio em escola pública, o seu problema para dar andamento nos estudos em casa é a falta de tecnologia para assistir às aulas, problema comum em diversas famílias brasileiras, segundo a pesquisa do Instituto Datafolha. ‘’No início, quando as aulas começaram pela videoconferência, eu pensei em desistir porque eu não tinha computador em casa. Temos internet, mas não é a mais veloz. Como eu ia conseguir assistir às aulas?’’, relata.

A mãe de Tiarles, Michele Dias, 47 anos, no entanto, não queria ver o filho sem estudar. Contudo, com o comércio fechado e somente recebendo dinheiro do Bolsa Família, não foi muito o que ela podia oferecer para o filho não largar a escola. “O dinheiro é pouco. Trabalho como doméstica e muitos por uns meses não quiseram os meus serviços. Só com o dinheiro do governo, que teve aquele aumentinho por causa do auxílio emergencial, eu ainda não conseguia comprar um computador pro meu filho’’, lamenta.

A pandemia escancarou um problema que antes era pouco debatido. A desigualdade tecnológica. Faltam aparelhos conectados à internet para os estudantes conseguirem assistir às aulas. Muitas famílias não conseguem comprar um aparelho ou pagar por um plano de acesso à rede. Para a família de Tiarles, a internet chega. Mas não é a das melhores. “A internet volta e meia fica instável ou cai, principalmente quando chove’’, relata o estudante que acompanha as aulas em um notebook usado que conseguiu por doação.

Rodrigo Suriano, de 26 anos, estava no quarto semestre de Educação Física quando teve que trancar seu curso. “Eu trabalho em comércio, no shopping. O dinheiro que recebia ia para a mensalidade da faculdade. Quando teve a primeira onda do fechamento, a loja onde trabalhava cortou o salário dos funcionários pela metade. Ali eu vi que não podia pagar a faculdade, pois não me sobra tanto dinheiro e nesse momento eu precisava que sobrasse para alguma emergência”, relata Rodrigo. Ele acredita que não voltará a estudar tão cedo.

O infográfico abaixo foi elaborado a partir da pesquisa levantada pelo Instituto Data folha junto do C6 Bank.

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