O desafio de manter a sanidade

Cuidar de si e ter uma rede de apoio são fundamentais durante a pandemia de Covid-19

A solidão é o sentimento de não pertencer ao mundo que nos cerca. Créditos: Gabriela Martins/ DesignLab.

Por Camila Oliveira

O Hospital de Clínicas de Porto Alegre é um dos locais de referência no atendimento de casos graves de Covid-19. Os profissionais vivem em um limiar de ansiedade, temor e esgotamento. Com a sobrecarga de trabalho, a saúde mental deles é bastante afetada. “A gente vem tendo uma demanda maior, tem oferecido mais consultas, tanto individuais, quanto equipes para ajudar essas pessoas”, informa a psicóloga Desirée Bianchessi.

Manter a saúde mental durante a pandemia exige um esforço grande. É importante o profissional desenvolver o melhor cuidado de si possível, “tendo momentos de pausa do trabalho, lazer, buscando fazer atividades prazerosas mesmo dentro de um espaço restrito, tendo uma boa alimentação, buscando fazer alguma atividade física também dentro desses limites que seja, por exemplo, fazer uma caminhada e fazer uma higiene do sono”, recomenda a psicóloga do Hospital de Clínicas.

“As orientações para os profissionais de saúde no Hospital de Clínicas não são diferentes para a população em geral”, explica Desirée. Usar proteção individual e, diante da sobrecarga, buscar o trabalho mais coletivo possível, onde haja uma maior cooperação entre todos. No entanto, ele reconhece que na saúde mental é preciso cuidado também com o cuidador. Se o profissional não souber filtrar aquilo que o paciente traz, ele acaba absorvendo. Todos os cuidados que a população tem que ter, para os profissionais da saúde tem que ser dobrado.

Desirrée Bianchessi em Capacitação junto a trabalhadores da área, fazendo uma mediação sobre o enfrentamento da pandemia dentro do Hospital de Clínicas em Junho/2020. Créditos: Arquivo Pessoal.

Rede de apoio

Outra fonte de sofrimento emocional é a espera da vacina. De acordo com a psicóloga Renata Schorn, é preciso uma certa regulação psíquica, estratégias que tragam bem estar, prazer, que permitam reavivar o vínculo com as pessoas que são importantes para cada um, manter atividades que tragam esse bem estar. “O mais importante na espera é a gente se manter informado, a gente saber de fato como está a questão da vacinação no município que eu moro, onde são os postos”, ressalta a psicóloga.

Muitas pessoas em sofrimento não procuram ajuda. “A gente faz busca ativa, conversa com pacientes e fala muito em rede de apoio formada por familiares e vizinhos”, relata a supervisora em Saúde Mental do Instituto Masper, Vanessa Bettiol de Oliveira. Segundo ela, depende muito de cada indivíduo saber lidar com esse equilíbrio na pandemia, de como vai trabalhar o seu emocional. Se não conseguir manter, deve procurar ajuda profissional.

Os atendimentos estão sendo priorizados em espaços livres, por conta da Pandemia, no CAPS Casa Azul, onde atua a Coordenadora Vanessa Bettiol. Créditos: Arquivo Pessoal.

Diversas variáveis

Saúde é um estado completo de bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças, explica a psicóloga Renata Schorn. Quando se fala em saúde mental, não se considera apenas os casos diagnosticados com algum transtorno específico. São diversas variáveis que são levadas em conta, “como o contexto que a pessoa está vivendo, a história de vida, as características da personalidade”, exemplifica Desirée Bianchessi. Estar com Saúde Mental é ter capacidade naquela situação ou naquele período de lidar com as adversidades da vida e, mesmo diante de certas dificuldades, conseguir ter um equilíbrio emocional. Se sentir capaz de enfrentar as situações da vida.

--

--