21 tendências para 2021 listadas pelo Facebook, Accenture e Pinterest

Wagner Brenner
updateordie
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12 min readDec 16, 2020

Em um ano em que quase ninguém quer saber de retrospectiva, mesmo sabendo que pouco mudará magicamente após 31 de dezembro, nossos olhos profissionais e pessoais já miram esperançosos o início de 2021.

Updater: Karan Novas

Então, nada como se jogar no divertido (e muitas vezes bem embasado) exercício de futurologia para começar a se preparar para as oportunidades que o novo ano deve nos trazer.

Como de costume, muitas empresas lançam em dezembro análises fundamentadas para traçar as tendências do novo ciclo, geralmente baseadas em um mix de comportamento, ensejos e muito dado coletado, cruzado e analisado.
Para ajudar nesse processo, analisei e compilei um pouco do que três delas lançaram nas últimas semanas: Facebook, Pinterest e Fjord, consultoria ligada à Accenture Interactive. Pelo conteúdo, é possível ver alguns paralelos interessantes, muitos resquícios da COVID-19, a saudade do antigo normal e a digitalização desenfreada e irreversível, junto a oportunidades de negócio, marketing, comunicação e, quem sabe, uma sociedade melhor. :)

Facebook / Instagram / Whatsapp

Focado na América Latina, o Facebook apresentou na última semana seu relatório de tendências para a região, trazido por Maren Lau, vice-presidente Latam da empresa, e outros líderes executivos. A transformação digital foi exatamente um dos pontos de destaque, e que servirá como base para tantos outros que devem acontecer com mais frequência em 2021. A seguir, sete delas:

Comércio híbrido — físico+digital

O comércio híbrido aparece no topo da lista, após muita gente experimentar (e aprovar) fazer compras longe do espaço físico pela primeira vez durante 2020. No Brasil, 75% dos consumidores testaram uma plataforma de e-commerce pela primeira vez desde o começo da pandemia, o que mostra a influência da pandemia e do confinamento nesse comportamento. Com isso, acredita o Facebook, menos pessoas farão questão de ir até um espaço físico para realizar compras nos próximos meses. E para que isso aconteça, será necessário um esforço — logístico e criativo — para atraí-las, o que gera enormes oportunidades de ativação, experiência e design.

Valorização do comércio local

O que começou por necessidade e passou a ser uma forma de apoio, agora deve se estender também para os próximos meses como comportamento: a valorização do comércio local. O Facebook cita um levantamento indicando que 40% dos brasileiros preferiram lojas de bairro para apoiar os pequenos empreendedores e a comunidade, mas essa relação deve se manter mais duradoura que a quarentena.

Plataformas de mensagem

Potencializada pela união dos dois fatos listados acima, o crescimento das plataformas de mensagens para fortalecer o comércio também é um caminho sem volta. Apesar de disponível já a algum tempo, foram muitos os estabelecimentos (especialmente os menores) que transformaram o Whatsapp em uma ferramenta profissionalizada de relacionamento e de venda direta. A necessidade trazida pela COVID-19 e a facilidade do brasileiro com o app de mensagens também deve tornar mais simples e comum esse tipo de transação para todos os lados.

Influência e interatividade na propaganda

A profissionalização do relacionamento entre marcas e influenciadores deve continuar evoluindo, segundo o Facebook. O brasileiro Theo Rocha, diretor do Creative Shop da empresa para a América Latina, citou entre seus exemplos como Havaianas levou sua estratégia de usar celebridades nos comerciais te TV para algo semelhante — mas adaptado à linguagem nativa — junto aos influencers no Instagram — seja nos Stories, Reels ou o feed. O uso de interatividade já disponível na plataforma, como por exemplo filtros, stickers, hashtags ou até a definição do rumo de uma história contada por esses personagens, também deve ganhar mais força.

Live shopping

Outra tendência para consumo, que ainda parece distante, mas tem crescido a passos largos mesmo no Brasil, é a do live shopping. Misturando entretenimento e comércio, novas plataformas transformam o que eram lives tradicionais, com publicidade tradicional inserida no contexto, em um único ecossistema, onde a venda é realizada e concretizada no mesmo ambiente, com facilidade e sem interrupções. O próprio Facebook possui ferramentas para isso, como o Facebook Live Shopping e o Instagram Live Shopping (este ainda apenas nos EUA). Por aqui, recentemente empreendedoras de tecnologia e comunicação lançaram a Mimo, primeira plataforma de shopstreaming da América Latina, que já recebeu aporte de grandes investidores — reforçando o potencial dessa ferramenta de marketing.

Realidade aumentada

Para o Facebook, a realidade aumentada também se tornará mais popular em 2021. Tendo avançado bem nos últimos dois anos, agora a disciplina já possui produtoras de conteúdo mais preparadas para explorar a tecnologia e dispositivos, como óculos e outros “wearables”, mais acessíveis. A intenção da própria empresa é incentivar o desenvolvimento criativo de RA para que ela vá além do entretenimento e tenha impacto positivo também nos negócios.

Esporte ao vivo e on demand

O esporte, especialmente o futebol, foi um case de sucesso para o Facebook — e deve continuar avançando assim em 2021. Sem torcida nos estádios, a rede social usou o Facebook Watch para adquirir o direito de transmissão de importantes torneios e exibi-los para seus usuários. Além do próprio Facebook, empresas como a Turner, por meio do Esporte Interativo, exploraram com enorme êxito a rede social para exibir partidas da Champions League. A final do maior campeonato de clubes do mundo, entre Bayern de Munique e PSG, ultrapassou 13,7 milhões de espectadores, batendo o recorde histórico da plataforma e atingindo crescimento de 170% em relação ao ano anterior. Com isso, o Facebook deve ampliar suas parcerias com empresas de mídia, ligas, federações, clubes e até atletas diretos.

Accenture Interactive

Na nova edição de seu relatório anual intitulado Fjord Trends, os especialistas da Accenture Interactive definiram sete tópicos de comportamento e ações que devem ser tendência em 2021, afetando mercados, indústrias e comportamentos. Abaixo um resumo de cada um deles:

Deslocamento coletivo

A pandemia modificou como e onde trabalhamos, compramos e até moramos. Algumas dessas mudanças serão temporárias, mas diversas delas terão impacto definitivo. Segundo o estudo, a realocação será algo comum a partir de agora, especialmente com a popularização e o avanço do trabalho remoto. O mesmo acontece com outras atividades, como educação e entretenimento. Com isso, em muitos lugares, a “cidade grande”, antes tão desejada, será trocada por locais mais agradáveis e tranquilos por parte dos metropolitanos. E isso vai impactar diretamente o comércio: com menos pessoas indo a escritórios, ou menor concentração de gente em pontos específicos, menos sentido faz a localização (ou até a existência) de restaurantes, lavanderias ou lojas específicas. “O deslocamento coletivo mudou drasticamente o comportamento das pessoas. Muitas empresas agora precisarão lidar com o fato de que os clientes que eles conheciam também mudaram dramaticamente”.

Inovação no “Faça você mesmo”

Segundo o estudo, a inovação está prestes a migrar dos dispositivos para as pessoas. Inspirado na máxima de que “em grandes crises e guerras nascem grandes inovações e novas tecnologias”, ele ressalta como a pandemia se tornou oportunidade e necessidade para a criação e transformação de diversos produtos, serviços e soluções. Agora, porém, o foco deve sair de devices, focando-se em permitir que as pessoas consigam, com essas ferramentas, inovar em sua própria forma de vida, potencializando sua criatividade e personalizando-as para suas necessidades reais. “Historicamente, as pessoas sempre adotaram rapidamente novas tecnologias e se adaptaram mais lentamente ao que ela pode ajudá-las a alcançar. Agora, em um contexto que nos desafia de tantas maneiras, o ciclo de adaptação está se acelerando e uma mudança significativa está acontecendo: as pessoas estão hackeando a tecnologia para ajudá-las em suas vidas deslocadas, em vez de adaptar suas vidas em torno dos últimos avanços tecnológicos”.

“Sweet teams are made of this”

Se nossa relação com a família e com a nossa própria casa mudou drasticamente, não foi diferente com o trabalho. Com a ausência nos escritórios, seja temporária ou definitiva, novas habilidades passaram a ser cruciais, desde a administração do seu próprio tempo ao comprometimento com as tarefas e novas formas de interação com os colegas — muitas vezes agora moldadas pela tecnologia disponível. “O escritório físico não está morto, mas diferentes organizações estão agora o repensando. Por um lado, muitos trabalhadores que anseiam por um retorno ao escritório podem ter suas esperanças frustradas, já que as pressões econômicas podem fazer com que as empresas reduzam seus escritórios para cortar custos”. O estudo indica que, independentemente de onde estão no momento, os profissionais terão que se adaptar ao fato de que o “local de trabalho” deve passar a ser mais um mindset que um espaço físico em muitos casos, além de se preparar para dominar novas tecnologias de interação profissional. Isso também terá impacto direto na cultura das empresas, que em sua maioria foi moldada com base na interação presencial entre seus funcionários ou clientes.

Wanderlust interativo

Mesmo antes da pandemia, muita gente vinha interagindo muito mais com as pessoas — e principalmente com o mundo — por meio das telas. Com isso, a intersecção entre o design, o conteúdo e a audiência deve entrar em uma forte evolução a partir de agora, torando esse ecossistema mais agradável. A evolução do design de ambientes, do UX e de tecnologias sem contato deve avançar significativamente, mesmo após nosso retorno ao mundo sem tantas restrições. “As pessoas querem ser desafiadas e inspiradas pelo que veem na tela, e as marcas que desejam atender a essa demanda precisarão repensar sua abordagem. Elas devem revisar seu design, conteúdo, audiência e a interação entre esses três elementos, bem como as experiências que eles criam”. Muito disso deve passar pelo entretenimento, seja com novas formas de “visitar” lugares ou participar de eventos fisicamente longínquos, como shows e exposições em outros países, ou mesmo por meio de games, por exemplo. Com isso, a realidade virtual (VR) deve aparecer como importante ferramenta.

Infraestrutura líquida

Onde e como compramos já passou por uma grande transformação em 2020. Pela pandemia, a primeira mudança passou por aumentarmos ou experimentarmos a experiência online; e a segunda, procurar comércios menores e locais — até como forma de apoio, além da nossa própria conveniência. Isso levou a uma transformação digital acelerada, mesmo por pequenos negócios; e a gigantes como Kraft e Pepsico a criar ou aumentar seu comercio DTC (direto ao consumidor final). Agora, há por parte do consumidor a dualidade entre querer sua compra de imediato, como costumava ter nas lojas físicas, mas com o conforto de comprar sem sair de casa. E por mais esquizofrênico que possa soar, muitos comércios terão que se adaptar para ter um diferencial competitivo. “As expectativas líquidas das pessoas estão gerando uma série de desafios importantes e urgentes que as empresas devem trabalhar para enfrentar. Eles incluem: como obter valor de ativos existentes; como entrar no ecossistema com outros participantes business-to-business; como gerenciar uma experiência da qual a empresa não tem controle exclusivo; e como se projetar para resiliência e incerteza”. Como exemplo, o estudo cita a Amazon usando as lojas físicas da Whole Foods como “dark stores”; e o serviço de compras por assinatura Walmart+, para ganhar espaço conquistado pela própria Amazon. Esse pensamento deve mexer em toda a cadeia de distribuição, estações “last mile” de entregas e lojas físicas com mais experimentações que produtos.

O desafio da empatia

Propósito e ética já eram valores demandados pelo consumidor para as marcas antes de 2020 começar. Mas a preocupação com o coletivo e uma consciência mais profunda de sociedade ganharam força significativa com a pandemia. E, ao que parece, em 2021 isso respingará de forma ainda mais latente nas marcas. A COVID-19 não só criou desigualdades, mas ajudou a evidenciar outras — em especial na questão racial, com a explosão do Black Lives Matters. Para as marcas, é preciso ter não só um posicionamento claro sobre diferentes questões sociais, como ações práticas e genuínas — indo além do discurso e de encontro com a essência delas e do problema que querem ajudar a combater, mesmo que isso traga conflito. Para saber como e quando fazer, sugere o estudo, “considere seus colaboradores como steakholders. Você deve carregar a maior parte de sua força de trabalho com você (100% é uma grande tarefa). Para fazer isso, construa um propósito desde o início e concentre-se mais na comunicação interna em torno da empatia do que na externa. Seus funcionários são seus defensores e espalharão suas mensagens de empatia além de suas paredes”.

Rituais achados e perdidos

Quantos rituais, sejam eles religiosos, culturais, de entretenimento ou simplesmente ações cotidianas tivemos que deixar de lado por conta da pandemia Certamente, durante 2021, muitos vão retornar diferentes, alguns adaptados e outros podem simplesmente deixar de existir. Isso vai de casamentos, funerais e jogos de futebol a ações simples do dia a dia, como o happy hour sem preocupações de interação humana ou o ato de cheirar e apalpar frutas indiscriminadamente na feira. Por parte das marcas, esses novos hábitos trazem novas oportunidades e necessidades de se adaptar e apoiá-los. “As marcas têm uma grande oportunidade de apoiar as pessoas no desenvolvimento de novos rituais, como atividades mais saudáveis, mais sustentáveis ou com foco na comunidade”, ressalta o estudo. “As marcas devem trabalhar para entender o espaço em branco deixado por um ritual perdido e, em seguida, identificar e criar uma experiência apropriada que possa substituí-lo. As empresas envolvidas no antigo ritual de alguém provavelmente precisarão reimaginar essa experiência. Qualquer que seja o ângulo de onde uma marca venha, a conexão emocional será a chave para seu sucesso, porque um ritual é mais do que apenas uma função”.

Pinterest

Apesar de menos pop que outras redes, até por funcionalidades e objetivos distintos, o Pinterest ultrapassou em 2020 a marca de 400 milhões de usuários ativos por mês. Vangloriando-se de ter acertado 8 em cada 10 previsões para 2020 — que, convenhamos, não foi um ano fácil de prever –, a plataforma baseada em imagens se beneficia dos dados coletados sobre interesses gerais, buscas e tópicos favoritados pelos usuários para traçar panoramas que vão muito além do estético, ilustrando comportamentos, intenções, predileções e prognósticos de comportamento para diferentes indústrias. Abaixo, listei sete entre as mais curiosas:

Turista de sofá

Mesmo sem saber quando poderemos viajar sem preocupações pandêmicas, o planejamento do que seria nosso turismo dos sonhos deve bombar em 2021, talvez impulsionado pela esperança de podermos voltar a trafegar ao redor do mundo. Segundo o Pinterest, buscas por “Férias de luxo” devem aumentar 50%; “Resort na floresta”, 100%; e “Férias dos sonhos” multiplicar em 7x seu volume.

Paladar 5 estrelas

A tendência de levar o entretenimento dos programas de culinária para a prática na cozinha de casa, até pelo aumento do tempo passado por lá, também tem potencial de decolagem. Entre os tópicos que devem ter mais procura no ano que vem estão “Arte com pães” (+130%), “Montagem de prato gourmet” (+105%) e “Decorações com comida” (+55%).

Espaços multifuncionais

Fomos obrigados a moldar nossas casas para outras funções em 2020. Além disso, passando mais tempo nelas, mudamos a forma de se relacionar com o espaço. Isso deve se refletir em mais mudanças em 2021, com procura de termos como “Design de biblioteca em casa” aumentando 7 vezes em relação a este ano; “Salas de jogos de computador” seis vezes mais; e “Ideias de cloffice” (essa eu tive que procurar: é um mini-escritório no armário , portanto, “cloffice”), dobrando de interesse.

Conforto chique

Esse é um que já deve estar rolando forte em meados de pandemia, mas o Pinterest indica como algo a crescer ainda mais ano que vem: a busca por roupas confortáveis, uma vez que estamos saindo muito menos (e mostrando muito menos nas videoconferências). A busca por “Vestido para ficar em casa” deve duplicar, enquanto a por “Roupas macias” deve crescer 185%. Já “Roupa oversized” deve ter aumento de 300% na procura.

Pets fora do comum

Se a previsão do Pinterest se concretizar, muita gente deve ir além de cachorro e gato no ano que vem. Pelo relatório de tendências, o indicativo principal será o crescimento nas buscas por “Caracol de estimação” (+160%), “Sapo de estimação” (+110%) e “Comida de tartaruga” (+95%). Alguém me lembre no fim do ano de checar se essa rolou mesmo. :)

Casamentos intimistas

Com a imprevisibilidade sobre a volta de grandes eventos, menos verba para investir em festanças e a necessidade ainda existente de juntar oficialmente as vidas em matrimônio, deve também ser tendência a busca por cerimônias e festas menores de casamento. Nas previsões do Pinterest, crescem “Casamento pequeno no quintal” (+160%), “Roupa de casamento civil” (+200%) e “Ideias de elopement wedding” (+55%) — vulgo casamento a dois, na surdina, em algum lugar especial para os noivos (também tive que procurar).

CEO da própria vida

Com tanta gente aproveitando o momento de crise para empreender, seja por vontade ou necessidade, além de explorar o tempo em casa para tirar projetos pessoais da gaveta, a busca por elementos que ajudem a administrar tudo isso deve aumentar também. Entre elas, as de “Noções básicas de contabilidade” (+150%), “Como fazer um podcast” (+130%) e “Como criar uma marca para uma empresa” (+105%).

Publicado originalmente em:

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