Mulan e a transformação digital do entretenimento
O cinema continua tendo seu papel, mas é importante considerar milhares de consumidores que prefeririam assistir um lançamento no conforto de suas casas
☻ Updater: Luiz Gustavo Pacete
Estava tudo pronto para a estreia mundial de Mulan, em 9 de março de 2020. O live-action inspirado na animação homônima, de 1998, tinha tudo para ser um estouro de bilheteria até que, no meio do caminho surgiu uma pandemia. Mas ok. O plano B estava logo ali, pronto, e atendia pelo nome de Disney +. O serviço de streaming que havia estreado nos Estados Unidos em novembro de 2019 passava a ser, portanto, uma janela importante de exibição do filme diante de cinemas fechados.
A partir de então, Mulan deixou de ser um assunto das telonas e passou a ser um tema de múltiplas telas. Um relatório inicial do Yahoo Finance, feito em meados de setembro, quando a Disney lançou o filme em seu VOD, tinha uma projeção de receita para Mulan, no streaming, de US$ 261 milhões. Outro relatório, da Sensor Tower, apontou um crescimento de 65% nas assinaturas do Disney + durante o primeiro fim de semana do filme na plataforma. Algumas semanas depois, a 7Park Data reajustou as estimativas de faturamento de Mulan no VOD para até US$ 93 milhões. O filme estreou para o público brasileiro no último dia 4 de dezembro via streaming.
Conta e números à parte, o caso de Mulan se conecta com outro caso recente, na semana passada, a HBO anunciou que o HBO Max, serviço de streaming, passa a receber todos os filmes da Warner no mesmo dia em que estrearem nos cinemas. Um caso emblemático já que rompe com a velha discussão sobre o fluxo tradicional de janelas. Lembrando que em algumas semanas, dia 17, estreia “Mulher Maravilha 1984”. Os dois casos se conectam em uma discussão, a pandemia acelerou as preocupações e discussões sobre o papel do streaming e do cinema.
Se antes, o medo ou os desafios de ecossistema impedissem que um filme chegasse antes no streaming ou no mesmo dia que as telonas impediam uma aceleração neste sentido, presenciaremos casos cada vez mais interessantes. Uma nova disrupção está em curso. E aqui, levar a conversa para a morte ou não do cinema não faz sentido, já que acredito que é sobre complementariedade e não sobre substituição. O cinema continua tendo seu papel e público, mas é importante considerar milhares de outros consumidores que, mesmo antes de uma pandemia, prefeririam assistir um lançamento no conforto de suas casas.
Essa discussão me lembra várias outras quando o tema é digitalização, guardadas as devidas proporções, quando falamos no crescimento do e-commerce ou na explosão dos superapps, a lógica é a mesma. Todo mundo já sabia que era promissor, mas foi necessária uma situação extrema para que o uso se acelerasse.
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