Outras Meninas
Manu Cunhas, designer e ilustradora de Santa Catarina, é a autora do projeto Outras Meninas, que retrata a beleza feminina nas suas mais variadas formas. Ela vem trabalhando no projeto desde fevereiro do ano passado, reuniu depoimentos anônimos de diversas mulheres contando sobre a relação que possuem com o próprio corpo, que foram enviados junto com uma foto nua, na qual a designer se baseou para criar as lindas ilustrações aquareladas.
O projeto, que começou nas redes sociais e já conta com mais de 50 histórias publicadas, cresceu e vai virar livro, através de um financiamento coletivo no Catarse, que contará com dezenas de ilustrações e histórias exclusivas, distribuídas por 180 páginas.
O projeto
O outras meninas é um projeto muito especial, no qual venho trabalhando há pouco mais de um ano. Ele foi construído com a colaboração anônima de diversas mulheres que enviaram depoimentos falando sobre a relação que possuem com o próprio corpo, além de uma foto nua, ambas referências usadas para as ilustrações em aquarela que produzi. A ilustração e o depoimento anônimo foram postados nas redes do Tumblr, Facebook e instagram e já conta com mais de 50 histórias publicadas e ainda falta retratar mais de 50 outras histórias.
Confira abaixo algumas das histórias emocionantes recebidas pelo Outras Meninas e inspire-se também:
“Eu tinha 14 anos, 1 metro e 59 centímetros e 56kg. Embora tudo em mim fosse normal, eu me achava uma aberração. Resultado: perdi 14kg em 3 meses. Hoje, 6 anos depois e com 16kg a mais, deixei de brigar com a balança, com os chocolates, com a celulite e com as gordurinhas. Há brigas maiores para se carregar nas costas. Aliás, dizem que meu comportamento em relação aos padrões de beleza midiáticos é muito agressivo. “Que bom, obrigada”.“
“É curioso como relacionamentos destrutivos podem minar a nossa autoestima, fazendo com que a gente entre num ciclo de autodestruição. Namorados que deixam claro que preferem as meninas magras, mães que parecem ficar mais orgulhosas com peso perdido do que com conquistas profissionais e pessoais, pais que fazem piadinhas a cada vez que você resolve entrar em dieta.”
“Ficar com garotas me fez perceber a beleza feminina de uma forma diferente. Não esteticamente perfeita, como os modelos impossíveis que tentamos seguir, mas cheia de peculiaridades, marcas, nuances, que fazem cada mulher única e incrível de se descobrir. E quem diria que, conhecendo o outro, estaria conhecendo melhor a mim mesma? A beleza das pessoas está além da casca.”
“Acho que cada um cuida de seus pelinhos como se sentir mais a vontade, mas julgar a higiene e o cuidado pessoal de uma moça por ela ser mais ou menos peluda não faz sentido, depilar é apenas uma decisão pessoal. “Ah, mas eu não sou obrigada a pegar mulher peluda!” Ainda bem que a mulher peluda também não é obrigada a te pegar, mas não custa nada rever certas ideias para quem sabe assim mudá-las e nos tornarmos criaturas mais tolerantes e menos estressadas.”
“Esses dias vi uma amiga minha nua. Somos iguais. Me senti linda. Cada uma com as suas inseguranças, a barriga, o umbigo, as costelas, a dobrinha no culote onde as calças baixas fizeram um vale. E as duas vozinhas boas gritando uma pra outra — sem que ninguém escutasse: você é linda!, estamos juntas nessa!”.
“Esta sou eu, este é meu corpo. Vivi por muito tempo uma relação de amor e ódio por ele, mas a cada dia que passa eu tento ama-lo mais, o que inclui cuidar. Não quero mais fazer dietas loucas e rápidas, nem fazer academia como esporte e nem viver em função de um processo de emagrecimento. Eu quero sim emagrecer, quero ter saúde física e mental. Fazer um esporte que me dê prazer, ter uma alimentação equilibrada e gostosa para me sentir bem, fazendo tudo isso de forma tranquila e natural, sem pressão.”
“Aos 12 anos, fui estuprada. A partir disso, meu corpo se tornou algo imundo e nojento, eu não conseguia gostar dele. Com isso, foram vários anos de tratamento contra depressão e várias etapas de aceitação de mim mesma e do meu corpo. Mas, a cada dia, ganho força. Desconstruí vários padrões e consigo ver beleza em todos os corpos, inclusive em mim. Hoje não enlouqueço quando ganho uns quilinhos e também sei que meu corpo não é algo sujo! Sei que peitos, coxas, vaginas e bundas são arte, cada um desses esculpido de uma forma diferente.”
“Hoje eu tô me aceitando mais, aceitando o meu eu, me amando e pretendo me amar muito mais, estou em um processo de transição capilar querendo os meus cachos de volta, a minha genética, sem nenhuma estética modificando todo o meu eu, quero me sentir maravilhosa com o meu próprio corpo, meu próprio cabelo. Eu sou linda e pretendo me sentir assim sempre, me sinto livre e desejo esse sentimento pra todas.“
“O meu nariz largo, um sinal claro da minha descendência negra, sempre gerou piadas de toda espécie, parecia ser uma coisa impossível ser considerada bonita tendo esse nariz. Vendo novelas e filmes, é possível ver lindas mulheres negras contracenando, mesmo que em menor número, mas todas com traços delicados à mostra. Com seus narizes finos e corpos esbeltos, sua parca presença na media só me fazia ter certeza que a minha aparência é que estava errada.”
Para acompanhar o projeto, entre aqui, aqui e aqui, e para apoiá-lo e fazê-lo virar livro, siga o link do Catarse.
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