samba, cultura… e umbanda

Wagner Brenner
updateordie
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4 min readFeb 1, 2016

Janeiro foi o mês do centenário do samba, do combate à intolerância religiosa, nessa damos início à festa mais popular do Brasil: o carnaval. Religião, samba e festa são coisas que teoricamente não deveriam dialogar. Porém, se formos pensar na Umbanda, religião que nasceu em solo brasileiro, esses três itens conversam e muito bem.

Tive o prazer de participar da festa de verão da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, onde pude presenciar Maria Bethânia e Chico Buarque cantando juntos, além de outros gênios da música brasileira, como Alcione, Sombrinha e Mariene de Castro. Todos estavam unidos pelo samba e pela religião, já que o samba-enredo deste ano homenageia a filha de dona Canô, com o título: “Maria Bethânia, a menina dos olhos de Oyá”. Bethânia nunca escondeu seu amor pelo candomblé — religião afro-brasileira. Saravá, axé e Oyá foram palavras repetidas algumas vezes pelas estrelas que estavam no palco e pela platéia emocionada por estar compartilhando aquele momento incrível.

No último sábado fui convidada para uma festa que teve participação do sambista Diogo Nogueira, em São Paulo para comemorar os 20 anos de um centro de umbanda. E mais uma vez, samba, festa e religião se misturaram de forma harmoniosa. Foi lindo de ver. A festa do Centro de Irradiações Espirituais São Lázaro contou com mais de 450 pessoas para celebrar um novo momento da umbanda. Momento em que se intensifica a vontade de mostrar a cara dessa religião brasileira e desmistificar e acabar de vez com os preconceitos e estereótipos a ela relacionados.

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Christiane Nascimento

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Nos últimos meses as perseguições religiosas, a discriminação e a intolerância se intensificaram de forma exacerbada, é o que afirma o líder da Casa de São Lázaro, Alexandre Meireles: “Estamos vivendo um momento em que se intensificaram as perseguições religiosas, a discriminação e a umbanda está nessa linha de tiro, se não for o alvo principal.”

A questão principal é: todos os brasileiros conhecem as raízes e as principais características da umbanda? Ou será que a sociedade não está envolta por crendices populares e lendas urbanas que relacionam essa religião com superstição? Arrisco a dizer que essa é a verdade.

De acordo com Meireles, a ideia que segue no imaginário da sociedade brasileira nada tem a ver com a verdadeira religião: “a umbanda não é galinha preta na encruzilhada e nem traz o amor em sete dias, temos que romper esse paradigma e ver a seriedade e profundidade dessa religião que foi criada no Brasil, Rio de Janeiro em 1908, já passou por diversas fases abraçou outras influências religiosas.”

A umbanda é formada por três pilares: candomblé, catolicismo e kardecismo. Ela é responsável por promover um encontro entre culturas e raças, ou seja, é possível dizer que ela faz alusão ao povo brasileiro já que o mesmo é tão misturado e miscigenado. “Ela é um retrato do povo brasileiro, porque nós somos resultado desse caldeirão étnico e cultural que é o Brasil, e que tem influências do mundo inteiro”, diz o líder da Casa de São Lázaro.

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Marcos Froner

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Em meados dos anos 70, a umbanda era representante de uma imagem melhor do que a que ela tem nos dias de hoje, ela era vista como cool, era legal ter uma religião nascida em solo brasileiro. Ao longo dos anos isso foi se perdendo, e ela foi se tornando uma religião demonizada.

“Na maioria das vezes, quando a umbanda aparece na mídia ela está relacionada com a superstição, sem fundamentação nenhuma ou até relacionada ao sacrifício animal ou humano. Os adeptos da umbanda que aparecem nas novelas são estereotipados, geralmente ligados à comédia, ou seja, algo que não é levado muito a sério”, afirma Alexandre Meireles.

A umbanda está mais enraizada na nossa cultura do que imaginamos, palavras do seu vocabulário são utilizadas no nosso dia a dia. Muitas músicas brasileiras fazem menção a orixás e entidades assim como inúmeros livros da nossa literatura. Nossos alimentos são cerceados pela religião brasileira, além de vários adereços e vestimentas característicos da nossa cultura. Ou seja, a umbanda está por aí, permeando a vida da sociedade, só resta às pessoas assumirem essa essência como pertencente da cultura do Brasil.

Hoje, um dia antes do dia de Iemanjá, peço por um Brasil com menos intolerância, menos perseguições religiosas, menos compartilhamentos sem ter domínio do assunto e peço mais AMOR… Palavra essa, muito citada na festa de 20 anos da Casa de São Lázaro e lema da umbanda.

Asé, samba, festa, religião e AMOR…

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