Evite o Unfollow

Caio Tendolini
Instituto Update
Published in
2 min readMar 13, 2016

O verdadeiro espetáculo de sexta feira (4/3/16) foi o decreto de uma cisão no Brasil. A polarização política, que não é nova em nosso país, ontem ganhou uma proporção inédita — o mandado de condução coercitiva ao ex-presidente Lula, e o show midiático em torno do evento deu a todos os brasileiros um ultimatum:

Escolha seu lado.

E existem apenas dois: os que acreditam que Lula é o maior bandido que já pisou nessas terras, e que sua prisão abriria caminho para um Brasil melhor (de forma mais abrangente, quem acha que lula tinha que ser preso ontem); e os que acreditam que o ataque a Lula é um golpe, que fere a democracia e que precisa ser evitado a qualquer custo (quem acha que lula nunca deve ser preso).

Em resumo, os pró e os contra.

A partir desse momento, nunca antes na história desse país o botão de unfollow foi tão utilizado. Ao ler um ~absurdo~, removo seu interlocutor da minha timeline, e pronto, não estou mais sujeito a essa canalhice.

Só que dar um unfollow é fácil demais. Artificial demais. E muito mais perigoso do que parece.

Em junho de 2013, um dos cartazes mais replicados dizia “saímos do facebook”. E aí mora o perigo. As rede sociais se tornaram um simulacro da sociedade, onde se formam opiniões e se emulam posturas em um ambiente controlado.

Em junho, o clima era de indignação com a classe política, e esse sentimento desceu para as ruas em forma de protestos, dos mais diversos e difusos.

Hoje, o que vemos é raiva contra a discordância. a perda da capacidade de diálogo e escuta na divergência. O desrespeito e a violência na comunicação, e seu brutal fim: o unfollow. E esse mal estar coletivo vai descer para as ruas, para a vida fora das redes sociais.

Mas não existe unfollow na vida real. As pessoas estão todas lá, no mundo, quer você queira ou não. Um unfollow na vida real não é deixar de ser amigo, é impedir que vc passe na minha frente, que faça parte da minha vida: é impedir sua existência no meu mundo.

Fora das redes sociais, a única forma que esse sentimento pode se manifestar é como violência — das mais sutis (ignorar) às mais explícitas (agredir).

Por isso é imprescindível, e mais do que nunca necessário, que tentemos manter o diálogo aqui. Que nas relações emuladas no facebook sejamos capazes de aprender a lidar com quem discorda de nós. A ouvir e discordar, sem se sentir ofendido, sem a necessidade de convencer, sem precisar agredir.

Claro, isso soa quase impossível. Principalmente para quem escolheu um lado e está disposto a defendê-lo até o fim. Mas se não encontrarmos uma forma de fazê-lo aqui, talvez seja tarde demais fora daqui.

Todos estamos sendo convocados. Nós estamos prestes a sair do facebook. A levar a dinâmica aqui presente para as ruas. A nos olharmos olhos nos olhos.

Evite, a todo custo, o unfollow.

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Caio Tendolini
Instituto Update

Amante de projetos colaborativos que geram impacto positivo na sociedade. @update-politics