Ascensão e declínio das bicicletas ofo

Logo que cheguei à China, me surpreendeu a quantidade de bicicletas compartilhadas disponíveis.

Não só em números, mas poderiam ser encontradas em diversas cores o que demonstrava que havia diversas empresas no mercado, competindo ferozmente pelo seu 1 yuan (R$ 0,50).

Dentre as bicicletas, a amarela da empresa ofo era a que mais se destacava, pela quantidade e pela facilidade de encontrá-las.

Neste 1 ano e 6 meses, assim como a própria China, muita coisa mudou no mercado de bicicletas compartilhadas: A Mobike e ofo começaram a desaparecer e bicicletas brancas e azuis com a marca Alipay começaram a dominar Shanghai.

Ambas, Mobike e ofo, pedem um depósito para uso entre 99 e 199 rmb (aproximadamente 50 a 100 reais). Esse depósito pode ser estornado sob demanda do usuário, mas se o fizer, impossibilita o aluguel da próxima bicicleta.

Já as bicicletas do Alipay [2](alguma empresa local de bicicletas compartilhadas em parceria com o Alipay) podem ser alugadas após o mesmo depósito de 199 rmb ou utilizar o sistema de crédito social (como um serasa/spc à la Black Mirror) como meio de assegurar o uso da bicibleta. Essa etapa é importante por conta da facilidade de alugar a bicicleta sem ter de deixar um dinheiro com a empresa.

Por conta de sucessivas perdas financeiras, tanto reflexo do custo de operação, como possível inabilidade administrativa, a ofo está quebrada[1]. A empresa decidiu por reduzir suas operações na China, bem como no resto do mundo. Neste momento os usuários estão solicitando reembolso e a empresa não conseguirá ressarcir em um curto prazo.

Em resumo, bicicletas dockless são legais, alugar uma bike por R$0,50 é legal, mas talvez a economia compartilhada, assim como o mundo das startups talvez tenha um problema.

Se você vendeu sua bicicleta, ou nunca comprou uma, na China, as do Alipay ainda existem, mas a quebra da ofo inspira desconfiança para esse mercado.

[1] https://www.nytimes.com/2018/12/20/technology/ofo-bicycle-share-china.html

[2] Alipay é a ferramenta de pagamentos do grupo Alibaba (no Brasil conhecido principalmente pelo Aliexpress). A ferramenta é utilizada mais comumente por meio de aplicativo para smartphones e através dela paga-se tudo, de conta de luz ao café da manhã no “boteco”, passando por crédito de metrô e pelo “Uber” chinês. Uma vez que é amplamente utilizada, o grupo mantém um score do usuário, como faz o sistema bancário no Brasil, que permite ao usuário acesso ao crédito no sistema de bicicletas compartilhadas, por exemplo.