Cidade é lugar de encontro

Juliana Tiemi Tamanaha
Urbanerds
Published in
2 min readMar 21, 2018

Cidade não acontece sem pessoas. Mas quando a cidade se torna grande, é exatamente a dimensão humana que ignoramos. Quando pensamos em cidade, lembramos do ambiente construído: os edifícios, as vias, os veículos. Pensamos nos resultados ruins: a poluição, o barulho, o stress. Pensamos naquilo que muitas vezes nos faz menos humanos: nas multidões, na violência, no abandono, na miséria, na desigualdade.

O mundo contemporâneo é cada vez mais urbano. Mais da metade da humanidade está nas cidades. Quase 85% da população brasileira vive em cidades. Por que precisamos estar em cidades se temos tantos “problemas”? Será que de fato enxergamos os problemas em profundidade?

Um olhar leigo para as favelas diria que falta espaço. Mas não se trata de espaço físico, senão habitar o Acre seria a solução. Nós precisamos de emprego, infraestrutura, equipamentos e serviços públicos, espaços de lazer… Não basta o espaço.

Poderíamos imaginar que a solução para nossos congestionamentos está em reduzir nossas horas de trabalho em escritórios e aumentar o homework. Porém, as mesmas cidades que investem cada vez mais em telecomunicações e tecnologia da informação, são aquelas que têm maior demanda por mobilidade urbana e aquelas que estão, de fato, investindo em ampliar suas redes de transportes. E por que precisamos de mais mobilidade urbana? Porque precisamos nos conectar tanto virtual quanto fisicamente.

Precisamos nos encontrar.

Precisamos nos encontrar, porque precisamos vender aquilo que produzimos, precisamos consumir, precisamos fazer negócios, precisamos trabalhar em equipes, precisamos debater novas ideias, precisamos agir politicamente…

Mas primeiramente, nós nos encontramos, porque QUEREMOS. Queremos nos divertir juntos, queremos nos conhecer uns aos outros, queremos criar coisas juntos, queremos vivenciar novas experiências, contar histórias, transformar vidas…

Tudo isso parte do encontro. Não se faz cidade e tudo aquilo que entendemos por “vida urbana” sem as pessoas. O debate entre os urbanistas hoje traz o resgate da humanidade da cidade, uma “cidade para pessoas”. Devíamos até achar pleonasmo. Porém, contraditoriamente, é muito fácil nos desumanizarmos na vida que temos nas cidades.

A cidade é todos os dias um convite a vivenciar encontros: uma senhora pedindo ajuda para carregar as compras pode contar uma história de vida difícil, um jovem de skate pode lhe mostrar que não é só de carros que vivem as cidades, o pichador lhe questiona o que é “belo”, o imigrante lhe traz outra perspectiva de vida a partir de sua cultura. Que tal aceitar esses convites e refletir sobre esses encontros?

--

--

Juliana Tiemi Tamanaha
Urbanerds

Arquiteta e urbanista na área de mobilidade urbana. Ciclista quando tem vontade, pedestre e usuária de transporte público o tempo todo.