Soro Obra 007

Eduardo Fraga
U R U B U
Published in
2 min readAug 23, 2020

Um disco, um filme, um livro, um estudo. O soro_obra é dedicado a criações e pensamentos que prendem e libertam nossos olhos e emoções.

Aos Nossos Amigos: Crise e Insurreição
2016, Comitê Invisível⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Texto por Eduardo Coelho e Arte por Yafa Urman aka @fantas.mona

https://www.instagram.com/p/CEJ8uGlnjz2/

O livro une filosofia e teoria política num texto manifesto que explicita o que ainda muitos fingem não ver: a crueldade de um sistema que sofre (e faz sofrer) como se estivesse eternamente na beira da morte.
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A edição brasileira acrescenta informações que ajudam a compreensão dos não iniciados na obra do Comitê Invisível. A edição literalmente queimada reforça a visão urgente do texto desse “grupo anônimo de pensadores e ativistas sediados na França”.
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Os autores partem de uma reflexão sobre as insurreições públicas que tomam contam do mundo a partir de 2008. Da Tunísia, Turquia ao Brasil, passando pelos Estados Unidos, Grécia e Islândia…há um racha na solidez global aparente baseada no mito do eterno crescimento econômico. Crescer o PIB, melhora para todos, gritam os novos-velhos “chicago boys”. Em 2014, data da publicação original em francês, o livro também apontava o perigo dessas rachaduras. O tradicional salva-vidas da elite financeira é a violência de Estado como forma de controle. Nada mais urgente em 2020 do que lembrarmos que a junção desses dois poderes, econômico e força, teve nome no século 20: fascismo.
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As insurreições do começo do século 21 viraram sobressaltos de dignidade e não indignação. Não houve mudança sistêmica. A mudança foi na mão invisível do mercado. Como uma máquina que aprende a sempre ser mais eficiente, a ganhar mais não importando o certo ou errado, os limites do tolerável mudaram. Na era da pós-verdade, a diferença entre um estado democrático e um estado fascista é cada vez mais flexível. Quanto vale um governo autoritário que passa reformas que estão longe de um consenso da maioria dos interessados?
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A proposta é clara na citação de Jacques Mesrine utilizada na abertura do livro. “Não há outro mundo. Há simplesmente uma outra maneira de viver”.
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Misturando experiências acadêmicas com experiências na linha de frente de movimentos sociais e insurreições ao redor do mundo, os autores elaboram uma visão para além de uma “ crise econômica, ecológica ou política”, mas uma crise de um modo de vida individual, acumulador e consumista.
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“(…) crise é antes de tudo crise de presença.”
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Edição Brasileira pela N-1, lançada em 2016 com tradução Edições Antipáticas.

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