#TheDevConf 2017 — Trilha Acessibilidade: A jornada de um programador Daltônico
Relato da palestra de Airton Zanon na Trilha Acessibilidade do The Developer’s Conference São Paulo.
Este post faz parte da série de relatos sobre as palestras da Trilha Acessibilidade do TDC-SP 2017.
Airton Zanon é programador PHP, faz parte da comunidade PHP-SP, também foi coordenador de trilha no TDC e é daltônico, porém, demorou alguns anos para ele descobrir. Tudo começou na infância, onde há um estímulo muito grande com relação às cores na escola. Amigos, familiares e professores acabam sendo muito orientados a cores (“usem agora o lápis verde-água”, “pegue aquele livro rosa para mim?”, etc.) e ele muitas vezes se confundia nessas orientações pois ainda não sabia que tinha uma anomalia com relação a cores. Isto chegou a prejudicar até mesmo as notas de Airton na escola e, depois de anos, ele descobriu que tinha uma anomalia.
Muitas pessoas não sabem que existem quatro tipos de deficiências ou anomalias de cores:
- Cores vermelhas: protanomalia e protanotopia;
- Cores verdes: deuteranomalia e deuteranotopia;
- Cores azuis: tritanomalia e tritanotopia;
- Somente tons de cinza: monocromia.
Airton relatou diversos problemas que já enfrentou:
- Com relação a cursos online, em que usam somente as cores verde ou vermelha para indicar a resposta correta;
- Em palestras, onde gráficos estatísticos podem apresentar cores muito semelhantes que impedem interpretar os dados e muitas vezes são explicados somente com relação a cores (“a barra azul indica…”);
- Ainda em palestras, imagens de conteúdo que também possuem baixo contraste;
- Ao compras ingressos de cinema em que usam as cores verde e vermelho para diferenciar poltronas livres e ocupadas, respectivamente (essas cores acabam sendo idênticas em certos tipos de daltonismo);
- Semáforos, que mesmo tendo posições fixas que facilitam identificar, poderiam fazer uso de formas também, uma vez que a maioria dos semáforos já usam LEDs;
- Uso de variações de uma mesma cor (tonalidades), que algumas pessoas recomendam como sendo benéfico para quem tem daltonismo, mas na realidade não é;
- Uso somente de cores em ferramentas de desenvolvimento, que o impedem como programador de ter certeza que algo está com erro, se é somente um aviso, etc.
Airton citou que as coisas já estão mudando com as diretrizes do W3C e a Convenção Interamericana Para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência.
Alguns exemplos de aplicações amigáveis a pessoas com daltonismo:
- O Trello, que permite usar texturas nos rótulos coloridos (labels) associados aos cartões. Assim, pode-se ter, por exemplo, rótulo verde com bolinhas, vermelho com listras diagonais, amarelo com listas verticais, entre outros, permitindo que a pessoa com daltonismo possa identificar os rótulos pela textura;
- iPhone e celulares com Android possuem modo de contraste;
- E até mesmo jogos como World of Warcraft e League of Legends possuem modo de daltonismo para o jogadores.
Por fim, Airton deixa algumas dicas sobre deixar algo acessível para daltônicos:
- Sempre usar ícones ou descrição para os controles de formulários (campos requeridos, campos com erro, campos válidos) e alertas. Complemento que é preciso verificar também se os textos, ícones e cores das mensagens possuem um bom contraste com o plano de fundo;
- Para gráficos, rótulos, entre outros: tudo que usar uma cor sólida para indicar algo, deve apresentar também uma textura. Em gráficos de linha, escolher linhas de estilos diferentes para cada cor, por exemplo: traçada, pontilhada, linha mais fina;
- Ser cuidado(a) e procurar uma combinação adequada de cores. Utilize sites como o ColorSafe para gerar combinações acessíveis.
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