Nosso construto pessoal

Ludo
Planger
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2 min readFeb 16, 2022

Assisti hoje um vídeo viral de comemoração dentro de uma empresa que vende sapatos, uma surpresa montada para dar uma promoção de cargo para uma funcionária, e todo aquele momento emocionante do esforço sendo agraciado, muitos abraços e o choro da conquista.

O que me recorda o trabalho de um designer de diegese, ou de construtos, dentro das linhas de gamedesign e narratologia. Profissionais que são responsáveis por montar ambientes e mecânicas nas quais as pessoas tenham senso de evolução, sentimento de competência, percepção de aumento de habilidade e dominância nas skills necessárias, entre muitas outras variáveis trabalháveis em um usuário.

Tangibilizando em exemplos brutos:

  • O dinheiro representa a variável de pontuação
  • Os clientes representam os desafios a serem conquistados
  • O tempo de serviço tradicional (9am — 18pm) representa as horas de gameplay
  • A dominância das skills são representadas nas habilidades voltadas à conversão de pontuação(dinheiro) dos clientes (desafios). Entre elas: atenção, percepção de necessidades, influência de fala, paciência, postura corporal, educação, domínio da língua(s), entendimento cultural dentre outros
  • O subir de cargo representa o Level Up dentro da hierarquia formulada
  • A hierarquia formulada representa a árvore de evolução do personagem
  • Os colegas de trabalho representam os outros jogadores do mesmo/aproximado gameplay

Nesse exemplo bruto é possível visualizar uma analogia de um emprego simplificado como um jogo não muito divertido, mas com um bom P2E (play to earn) que no caso tem mais o foco no “earn” para manter as pessoas obrigadas a jogar, do que no “play” para manter as pessoas felizes e entretidas. Mas claro, mantém um boa porção de “play” para garantir os sentimentos e interações rodando de forma cíclica, se fosse um mero “earn” o jogo se transformaria em um depósito de conta mensal como uma mesada, ou o rendimento de uma poupança de grande porte.

Assim, nesse exemplo é possível enxergar e fazer projeções e comparativos para dezenas de realidades pessoais nas quais vivemos e criamos construtos para manter aquele jogo em loop. Porém diria que a palavra “criamos” acima é colocada de forma presunçosa, a realidade é um pouco mais abaixo, são mais como construtos já criados por profissionais em situações bem específicas, com objetivos mais claros, e depois clonados para ambientes semelhantes, sistemas econômicos parecidos, e que sofrem diversas adaptações para se encaixar a certo fuso, língua, cultura, formato de pagamento, classe social ou outra variável local.

Tendo como intuito nessa digressão uma reflexão sobre os construtos que encaramos como realidades absolutas de nossa existência em sociedade, as quais ao decorrer de apenas uma geração mudam de formas que nem conseguimos compreender a geração seguinte, sendo chamados de loucos por suas diferenças de ótica e construtos que para nós eram pilares definitivos, mas que algumas vezes ainda não fizeram nem 100 ou 200 anos de idade, e encaramos como uma “definitiva” realidade humana.

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Ludo
Planger

Experience Designer. Academic Outlaw. Zealous Gamedesigner. DeFi Enthusiastic. Passionate Borderless. Provocateur Performer. Art Activist.