O coronavírus, os vieses e as heurísticas comportamentais

Entender os vieses e heurísticas comportamentais envolvidos pode ser o primeiro passo para ajudar as pessoas a tomarem melhores decisões

Heber Alvares
UX & Economia Comportamental
3 min readMar 12, 2020

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O atual surto do coronavírus no mundo gerou pânico na população em muitos países e fez com que as pessoas tomassem algumas atitudes para se sentirem mais seguras.

No Japão, o papel higiênico sumiu das prateleiras junto com alguns produtos como álcool em gel, máscaras, água mineral, macarrão instantâneo dentre outros.

Frente a esse comportamento, é possível observar alguns vieses nas decisões de compra da população japonesa. Camila Teixeira e eu listamos quatro deles abaixo:

👉 Viés da escassez

O medo de uma possível crise e a possibilidade de ficar sem um item tão básico, mas que por outro lado é fácil de armazenar, fez com que muitos japoneses começassem a estocar papel higiênico em casa. Cialdini (2012) explica que valorizamos coisas que recentemente se tornaram escassas e diante desse cenário incerto de crise esse comportamento se acentua ainda mais.

"Quando um objeto ou recurso não é prontamente disponível (por exemplo, por limitação de quantidade ou tempo), tendemos a percebê-lo como mais valioso (Cialdini, 2012)."

👉 Comportamento de manada

Ir aos supermercados e ver o papel higiênico começar a faltar nas prateleiras faz aumentar a sensação de escassez e gera esse comportamento de manada. Nós odiamos perder e, em meio a uma epidemia, esse sentimento se potencializa. Cialdini (2012) destaca que em muitas situações onde não sabemos o que fazer utilizamos o comportamento dos outros como referência. Em uma situação como esta em que estamos diante algo desconhecido esse comportamento de “imitação” tende a se acentuar ainda mais.

A notícia destaca uma frase que representa muito bem a combinação desses dois vieses comportamentais:

“Só que quando vi a fila, fiquei com medo de ficar sem, por isso comprei”, disse uma senhora japonesa, levando o último pacote de papel higiênico e de lenço de papel de um supermercado. (Fonte: g1.globo.com)

👉 Viés da retrospectiva

As notícias sobre o COVID-19, trouxeram de volta a lembrança dos japoneses um período de escassez que vivenciaram por 2 vezes. Em 1973 na crise do petróleo e em 2011 quando o Japão foi atingido por um tsunami.

Na crise de 1973 a produção de papel foi afetada e muitos japoneses correram para estocar papel higiênico.

O novo incidente gerou boatos nas redes sociais afirmando que a matéria-prima é da China. Influenciados pelos boatos, os japoneses correram para as lojas para evitar a falta do produto em suas casas. Um comportamento que pode ter levado os japoneses a estocarem outros produtos como água mineral e macarrão instantâneo.

De acordo com Harley (2007) esse viés pode ser um problema na tomada de decisão porque tende a aumentar conforme a gravidade do resultado: lesão ou morte.

👉 Heurística da disponibilidade

O número de notícias e informações disponíveis sobre o coronavírus nas redes sociais, na televisão, nos sites de notícia e nos grupos de WhatsApp é imenso. E toda essa exposição faz com que essa informação seja acessada mais facilmente pelo nosso cérebro. Essa disponibilidade faz com que a sensação de urgência e medo diante do desconhecido aumente, porque é muito rápido ter um exemplo de uma notícia sobre o coronavírus a mente. (Tversky e Kahneman, 1974).

Para se aprofundar no tema

Esse trabalho só foi possível graças a outros estudos e discussões da área de economia comportamental e design. Deixo aqui algumas referências pra quem quiser se aprofundar no tema:

Livro: As armas da persuasão — Como influenciar e não se deixar influenciar. Autor: Robert Cialdini.

Livro: Guia da Economia Comportamental e Experimental.

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