Eu odeio Lorem Ipsum
É isso aí. Eu odeio Lorem Ipsum. É a forma preguiçosa de dizer “que se dane o conteúdo, desde que funcione visualmente”. Lorem Ipsum, argumentam alguns, representa bem os diferentes pesos dos tipos e, por isso, é uma forma de checar se o projeto de uma interface está funcionando.
Minha implicância vem precisamente daí. A interface está a serviço do conteúdo. Sempre. Não é óbvio? Content is king? Não é o que parece. Se o conteúdo é mesmo o rei, por que se dá tão pouca atenção a ele? Por que inventários, estratégias e o próprio conteúdo se juntam ao projeto em breves e esparsos momentos (isso quando efetivamente se juntam ao projeto, porque às vezes nem isso)?
Não é birra ou implicância. Seja Hipster Ipsum, Mussum Ipsum ou qualquer Ipsum que o valha, o problema é não valorizar de fato o que vai fazer a diferença. É não perceber que sem ele, esse ‘detalhe’ enjoadinho em que ninguém quer pensar agora “porque pode mudar lá na frente”, o projeto está fadado ao fracasso. A interface vira uma moldura pra uma restauração desastrada by Cecília Gimenez.
Numa palestra que assisti no início do ano, Brad Frost citou uma frase de um cara chamado Mark Boulton. Pra ele, não é preciso saber o que é o conteúdo. É preciso saber do que ele é feito. Tá aqui, ó: http://www.markboulton.co.uk/journal/structure-first-content-always
De primeira, confesso que torci o nariz. Cinco segundos depois, fez sentido. E me parece reforçar o horror ao Lorem Ipsum, porque é preciso saber as fronteiras do conteúdo, seus extremos e sua forma mediana, pra projetar uma interface que seja capaz de prover uma experiência que faça sentido pro usuário. Que ressalte o que é o coração daquela estrutura.
“Conteúdo”, aliás, tem por aí aos montes. Ruim, algumas vezes. Igual, na maioria delas. Sem sal, sem graça. Com voz de sistema. Mas quando conteúdo é feito com amor você ouve a voz de quem o criou. Você sabe que uma pessoa esteve ali (ou mais pessoas, o que é mais legal ainda), que pensou no que queria TE dizer, que teve a decência (e a competência) de criar uma narrativa que te envolve e que te inspira e que te faz querer voltar. Que te move, te emociona, te diverte.
Seja sobre coisas muito áridas ou sobre coisas muito bobas,
o bom ‘conteúdo’ te ajuda a pensar e a fazer sentido das coisas do mundo.
Mas aí vem alguém e taca um Lorem Ipsum no meio do caminho. No caminho de quem está construindo, de quem está pagando, de quem está aprovando. Tá de sacanagem? Não é essa a melhor oportunidade de provar que aquele é o melhor projeto pra fazer essa mágica?
Gostei muito de uma ideia que o próprio Frost mencionou nessa mesma palestra. No dia a dia, agiliza o processo usar um JSON que insere o conteúdo na interface pra validá-la mais rapidamente. Pode ajudar, se foi isso que entendi. Especialmente se ele já existe.
Mas… e quando é feito do zero? Faz o quê?
Quem disser Lorem Ipsum ganha um peteleco.
Quando é feito do zero, amigo, é preciso criar. Pensar no que se quer dizer, pra quem se quer dizer e como. É preciso queimar a mufa, encontrar um tom, uma voz, uma forma de falar e de se fazer entender.
Entender do que é feito um conteúdo é mais que quantificar caracteres, média de parágrafos, tipos de imagens usadas e mídias principais. É descobrir a sua essência, ficar íntimo dos grandes temas. Sentir a necessidade e a falta dele.
Adendo pós-publicação
Pra não ficar só nas lamúrias, que tal uns exemplos de quem trata o conteúdo com o respeito que ele merece? Cito alguns aqui, mas tenho certeza de que você conhece outros tão legais quanto. Fique à vontade pra compartilhá-los e vamos conversar mais sobre isso!
- Modcloth — cuidado, meninas! esse site é um perigo! ;)
- Hipmunk —procurar voos e hotéis por agonia e êxtase é coisa fina!
- ThinkGeek — tente não querer comprar tudo e não rachar de rir com as descrições dos produtos!
- Mailchimp — podia ser só uma ferramenta de disparo de emails, mas conteúdo é coisa tão séria pra eles que há uma área gigante com dicas pra cada tipo de público. Isso é amor! ❤