Minha primeira experiência moderando testes de usabilidade foi remota… o que aprendi com isso

Jonatan Zylbersztejn
Time de Experiência Globo
5 min readAug 19, 2020

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Fonte: Site Hojtar

Fazer testes com usuários é uma prática comum para quem trabalha com produtos digitais. É importante para avaliarmos se os usuários compreendem a interface da forma que imaginamos. E num período de pandemia, para realizar esta atividade precisamos ser criativos. E precavidos em algumas questões.

Geralmente, as salas de teste têm o famoso espelho. Isto é, o usuário, dentro da sala, não vê quem está fora. Mas quem está atrás do espelho consegue acompanhar o teste e ir anotando suas percepções. Para simular esse ambiente no cenário remoto, a equipe envolvida nos testes tem feito o seguinte: Há duas salas virtuais, Sala 1 com usuário + moderador + observador, e Sala 2 com observador + espectadores. Na Sala 1, o usuário compartilha sua tela, para que o moderador e o observador acompanhem com ele o protótipo. Na Sala 2, o observador compartilha sua tela com os espectadores, replicando o que está acontecendo na Sala 1. Dessa forma, há uma audiência não percebida pelo usuário, de maneira semelhante como ocorre com os espelhos.

Ilustração de esquema utilizado para testes remoto com usuários

Esclarecido isso, vamos aos aprendizados:

#1 Apoio de um profissional de UX Research

Isso é o primordial, não diz respeito ao cenário remoto, mas é importante ressaltar a diferença nos resultados que o apoio de um profissional de pesquisa pode trazer.

Antes de fazer qualquer teste de usabilidade, seja remoto ou presencial, precisamos de um bom roteiro. E um bom roteiro inclui tanto a definição do escopo quanto a elaboração de perguntas da forma correta, sem que entreguemos na pergunta o que queremos descobrir. Para isso, é fundamental termos o apoio de alguém que tenha experiência na área de UX Research. Meu colega Gabriel Bastos escreve bastante conteúdo sobre pesquisas aqui no medium e no instagram. Consumir seu conteúdo, e de outros pesquisadores que também costumam publicar pode ser um bom remédio caso a sua empresa/negócio não tenha uma área de pesquisa.

Como fazer perguntas sem viés, por @gab.insights no instagram

#2 Conexão com internet

Se o teste é remoto, a conexão com a internet dos dois lados é o que o sustenta. Na hora de recrutar usuários, podemos investigar as condições de sua internet, se for conveniente.

Nossa internet não é menos importante. Aqui em casa, por exemplo, temos encontrado problemas de instabilidade ao terem cinco pessoas simultâneas fazendo videoconferência. O que fiz para amenizar isso foi entrar na sala com o usuário pelo celular. Se o wifi caísse, a conexão era mantida pelo 4G, dessa forma meu vídeo não travava, nem meu áudio cortava. Era uma segurança a mais para manter a fluidez da entrevista.

#3 Atenção com o dispositivo do usuário

Nos testes presenciais, é comum utilizarmos o mesmo celular ou computador com todos os usuários, dessa forma só precisamos testar os protótipos neste aparelho.

Como dessa vez o device será do usuário, precisamos utilizar uma ferramenta que ajuste o layout de acordo com o tamanho de tela, pois dificilmente haverá um padrão entre os usuários. É uma boa prática testá-lo previamente nos principais formatos de iOS e/ou Android, de acordo com o que for definido para a amostra.

Outro ponto de atenção é para o browser. Alguns bloqueiam pop-ups por padrão, outros pedem permissão no momento de uso. É importante testar se todos os links funcionam nos principais navegadores, caso o protótipo seja acessado pela web.

#4 Instruir bem o usuário em sua preparação para o teste.

Não são todos que estão acostumados com aplicações de vídeo conferências e suas funções, tais como Zoom, Microsoft Teams, Google Meet, entre outros similares. Compartilhar a tela pode não ser uma tarefa tão trivial para os usuários quanto é para nós. É importante sabermos bem o caminho para executar essas ações, para instruirmos o usuário passo-a-passo a preparar o ambiente de teste.

Se o usuário precisa instalar algum aplicativo, ele deve receber esta instrução antes do teste, especificando em qual dispositivo (Desktop ou Mobile) ele deve instalar, para não perdemos o valioso tempo de teste. Também é preferível que ele receba o convite para reunião no próprio dispositivo do teste. Não são todos que tem familiaridade com o Whatsapp Web por exemplo, para abrir um link enviado pelo celular no PC.

#5 Teste remoto é perfeitamente viável

Esse aprendizado na verdade é a conclusão. Quando começou a pandemia, e com isso o trabalho remoto, a primeira coisa que pensei, foi: Ok, eu consigo continuar projetando telas de casa, fazer reuniões online com o time, entre outras tarefas do dia a dia, mas como a área de UX Research vai se virar?

Mesmo em situações normais, testes de usabilidade e outros métodos de pesquisa em UX sempre são adaptados para responder ao problema de cada estudo. Mas este momento de pandemia, que restringe a nossa interação com os usuários apenas ao ambiente remoto, nos leva a adaptar ainda mais os métodos, criar novas dinâmicas e mudar nossa forma de atuar no campo. Isso eleva o desafio criativo do pesquisador ao planejar um estudo.

Samyra Ribeiro, Manager de UX Research do Grupo Globo

E a grande verdade é que a equipe de UX Research está dando aula. Já havia assistido algumas pesquisas durante a quarentena, mas dessa vez tive meu "skin in the game", e com isso pude consolidar estes aprendizados. Com todo o apoio de nossos UX Researches, preparamos um roteiro assertivo, ensaiamos a moderação, e os testes foram um sucesso!

Obs: Na Globo grandes estudos são feitos pela própria área de UX Research, desde a elaboração do roteiro, moderação, até a consolidação dos resultados… mas pequenos testes, chamados "Day Test", são feitos pelos próprios times de produto, com suporte dos UX Researchers.

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