Ética, e os designers que se preocupam mais com o LinkedIn do que com as pessoas.

Gabriel Closel
Hub de Design TOTVS
4 min readJan 31, 2020

Antes de tudo, gostaria de dizer que não estou aqui para afirmar algum conceito, estou apenas levantando um questionamento da situação atual do design e os contextos que presenciei desde o início de 2017.

É muito possível que o design tenha atingido sua maior evidência desde a Bauhaus, mas e nós designers, o que estamos fazendo com essa certa notoriedade?

Vivemos realizando meetups, escrevendo mediums, organizando conferências e eventos para debater quais as melhores ferramentas, metodologias e questões sobre os níveis técnicos dos profissionais da área, mas acabamos por esquecer como as nossas decisões podem impactar a vida das pessoas e gerar consequências profundas no modo como elas vivem.

Ao não pensar nesses impactos que geramos acabamos esquecendo da ética, que é responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo à respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.

Até aonde estamos sendo designers quando implementamos uma nova funcionalidade que é apenas para justificar o aporte recebido na última rodada de investimentos? Será que realmente estamos pensando nas consequências geradas na vida dos stakeholders do produto?

Entregadores descansam entre turnos de trabalho na Avenida Faria Lima (13/set) — Foto Tiago Queiroz

Ao entrarmos em uma era digital, o design deixou de ser destinado unicamente ao mundo físico. A partir desse momento de virada passamos a lidar com problemas e sistemas complexos, entendendo que contextos diferentes geram consequências diferentes.

Sendo assim, se deseja a consolidação da Ética Consequencialista, onde o valor de uma ação está ligado nas consequências geradas por ela. Segundo filósofos consequencialistas, uma ação é boa se gera o bem ou consegue evitar o mal.

Visto isso, passamos a ter responsabilidade muito maiores do que apenas encontrar o pixel perfeito, e o questionamento ético se tornou uma parte importante do projeto de design.

Por que o caminho para cancelar um serviço é tão difícil? Fazendo com que pessoas mais velhas não concluam esta ação, precisando pedir a ajuda de um parente mais novo que consiga cancelar, mas com pouca facilidade. Qual a necessidade do campo de um formulário que pede a cor da pele de uma pessoa que está se cadastrando em uma plataforma de crédito? A criação do “scroll infinito” foi pensado para tirar um passo na interação com redes sociais ou foi para manter os usuários em um ciclo de visualização infinito? Estamos trabalhando a acessibilidade para ambientes e plataformas digitais para realmente tornar acessível a pessoas com deficiência ou só para não pagar multas?

“Em uma era de produção em cadeia, quando tudo tem que ser planejado e projetado, o design tem se convertido no utensílio mais poderoso de que se serve o homem para configurar suas ferramentas e seu meio ambiente (e, por extensão, à sociedade e a si mesmo). Isso exige do designer uma elevada responsabilidade moral e social. Exige também aos praticantes do design uma maior compreensão das pessoas, e do público conhecimentos mais amplos do processo de design.” (Victor Papanek, 1977)

Victor Papanek — As políticas do Design

O design já provou o seu valor dentro de grandes produtos e empresas através das técnicas e métodos utilizados para desenvolver novas soluções e features, ou ao encontrar os pixels perfeitos. Está na hora de virarmos essa chave, utilizarmos esse valor para se sustentar no mercado, mas começar a se preocupar mais com as consequências que estamos gerando na vida das pessoas.

As máquinas já estão funcionando, e muito bem. Algumas precisam de uma manutenção mínima dos seres humanos para funcionar, mas e as pessoas que estão interagindo com elas? O que está acontecendo com elas?

Talvez esteja na hora de pagarmos o "dízimo do designer", que é sugerido por Papanek em 1977, onde cada designer deveria contribuir com 1/10 do seu tempo ou com 10% do seu lucro para o desenvolvimento de trabalhos de responsabilidade social.

Referências:

Alguns conceitos que apresentei aqui, utilizei como referência os projetos de algumas pessoas.

Quer trocar uma ideia?

Sou designer no UX Lab da TOTVS. Cola na grade, segue a gente no twitter, no medium ou me chama no Linkedin.

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Gabriel Closel
Hub de Design TOTVS

Product Designer na Pagar.me. Formado em design digital pelo Centro Universitário Senac em São Paulo. Linkedin: bit.ly/2UzWaR4