Design, a jornada da ambivalência

Douglas Souza
Hub de Design TOTVS
3 min readJul 23, 2021
obra de Kanemaki

Dessa vez, tudo começa com um convite da Gabi: tenho um desafio e quero saber se você topa. Eu topo! Com medo, mas eu topo. Por um lado, me via inocente por aceitar sem resistência, e por outro, preparado para encarar o desconhecido. Eram 15 dias entre o entendimento e a entrega de uma prova de conceito. Tudo fazia parte de uma concorrência entre dois fornecedores, o prêmio era o contrato com um gigante que atua no ramo do agronegócio. Os sentimentos contraditórios só começaram.

Na 1ª reunião (sexta-feira), enquanto muitos se preocupavam como iríamos começar o projeto na segunda-feira e quem ficaria responsável pelo quê, eu disse: “Após o almoço precisamos nos reunir e começar a trabalhar hoje mesmo e criar o roteiro de entrevista”. Usei o princípio do contraste, afim de chamar atenção para aquilo que queria destacar. E assim começamos.

1ª conquista: matriz CSD somada à jornada do usuário, resultou no roteiro de entrevista do 1º dia. Todos ficaram empolgados com o efeito da pergunta aberta. De um lado “o que você prefere: doce ou salgado?”e do outro “descreva como é sua rotina alimentar”. Assim, descobrimos que uma pessoa do time estava fazendo exames de saúde com suspeitas de má alimentação. Isso graças ao efeito da pergunta aberta.

A entrevista era compartilhada com a empresa concorrente, não podíamos demonstrar nas perguntas o que desejávamos descobrir, por isso as perguntas abertas foram mais importantes do que nunca. E o core team vibrava quando o concorrente fazia perguntas fechadas e insistia nas mesmas questões.

A análise da 1ª entrevista resultou no roteiro do 2º dia de entrevista e nos 5 insights e desafios levados para o workshop de ideação, que teve duração de 4h, onde geramos 93 ideias e 6 protótipos de baixa fidelidade. No 5º dia desenhamos o fluxo do usuário que serviu para identificar quais ações contemplavam o desafio e quais estavam fora, além daquilo que gostaríamos de levar a mais como bônus. Finalizamos o dia com o wireframe da calculadora, a tela principal do nosso protótipo.

No 6º dia tínhamos o wireframe das demais telas e o fluxo de tarefa do usuário refinado. Além de iniciar o protótipo navegável na própria sexta-feira. Apesar de odiar, trabalhei algumas horas no final de semana para evoluir o protótipo navegável, o qual terminei na segunda de manhã, antes do design critique. Quando 10 convidados fizeram críticas e sugestões, das quais 85 foram priorizadas. Assim podemos liberar para o time de desenvolvimento iniciar suas tarefas.

No 8º dia, o protótipo navegável estava ajustado e o roteiro de tarefas para o teste de usabilidade pronto. Na sequência foram 3 dias de validações intercalados com análise, priorização e ajustes no protótipo. Durante as validações os usuários ficavam empolgados em poder interagir com o protótipo e chegavam a perguntar se já havia passado pela etapa de programação. O que nos deu muita oportunidade de aprender com as pessoas que estavam testando o protótipo e eles tinham uma sensação bem próxima do real.

Enquanto isso, o time de desenvolvimento que contava com 8 pessoas, trabalhou 8 dias seguidos, incluindo final de semana e muitas vezes até as 3 horas da madrugada e reiniciando às 9hs do dia seguinte. Tudo isso, para construir um protótipo de alta fidelidade funcionando com conexão em tempo real com a bolsa de valores de Londres / Nova York, além de inteligência artificial utilizada como datalake, onde foram analisados e tratados os dados.

Durante esse processo tive medo de não conseguir conduzir o time a uma boa entrega e não conhecer ferramentas suficientes para extrair o máximo que cada pessoa do time podia colaborar. Mas, por outro lado, precisei ter coragem para fazer escolhas e tomar decisões mesmo quando o core team não acreditava, não via valor ou não conseguia ter clareza de onde tudo aquilo poderia nos levar.

Por isso, acredito que o design é um meio para lidar com sentimentos, tarefas e escolhas ambivalentes. Pois acredito que este trajeto percorre por uma linha tênue entre o sucesso e o fracasso. Mas, se você estiver disposto a arriscar, irá conseguir chegar em algum lugar, que eu não sei qual é, mas com certeza com lições aprendidas para a próxima jornada.

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