Existe neutralidade em pesquisa?

Jéssica Damaceno Gonçalves
Hub de Design TOTVS
3 min readMay 23, 2022

Essa é uma pergunta que muitos pesquisadores ficariam por horas defendendo seu ponto de vista, concordando ou discordando.

Homem negro em frente ao computador sentado, conversando com uma mulher. O computador está sobre a mesa

Como UX Researcher puxo este gancho para entender, será mesmo que somos neutros em nossas pesquisas?

A neutralidade em pesquisa é quase ilusória. Muitos cientistas e pesquisadores gostam de afirmar que existe neutralidade, mas a verdade, é que somos desde sempre pessoas parciais.

Nenhum ser humano pode assumir que tem percepção completa do todo ou de tudo. Sendo assim, a ciência, como resultado da criação humana, não é neutra.

O mito da neutralidade da pesquisa, seja ela empírica ou científica, é desconstruído por Marx e vários autores. Toda e qualquer observação de fatos é pautada sobre os valores da pessoa observadora. A escolha do objeto de pesquisa depende de preferências pessoais da pessoa pesquisadora que contribuí como afinidade do objeto de estudo, apreço ou curiosidade.

Toda pessoa pesquisadora tem um olhar empírico embasado em suas experiências de vida e valores. Raramente será totalmente imparcial relacionada a sua opinião sobre o objeto de estudo. Quer um exemplo?

Exemplo prático

Imagina que somos 5 pessoas pesquisadoras, moradoras de São Paulo com idade entre 28 a 32 anos, vamos para uma tribo indígena para uma pesquisa etnográfica onde iremos ficar 3 meses nessa tribo para realização da pesquisa. Durante os 3 meses participamos de todas as tarefas do dia a dia, vivenciamos cada ritual, participamos igualmente como todos da tribo.

Por mais que sejamos pessoas pesquisadoras e vamos totalmente com olhar de investigação, entender como é a cultura desta tribo, participar dos rituais, tarefas do cotidiano, e inseridos há 3 meses nesta tribo, ainda sim seremos pessoas de fora e toda nossa bagagem cultural será uma influência para como iremos analisar e entender a pesquisa etnográfica. Como pesquisadora mesmo querendo ter um recorte totalmente imparcial, não conseguiria porque não faço parte da tribo.

Uma pessoa pesquisadora sempre irá analisar seu objeto de estudo de acordo com sua bagagem cultural, seus valores, sua cultura, etc.

Talvez você, pessoa pesquisadora só teria uma vivência 100% pura se tivesse nascido na tribo, caso o contrário toda sua bagagem de experiência irá influenciar o como você analisa, lê e entende seu objeto de estudo. Sendo assim, a pureza e a neutralidade da pesquisa não existem.

Isso significa então que a pesquisa está errada? Não, só significa que cada pessoa pesquisadora pode ter um olhar e uma percepção diferente para o mesmo objeto de estudo.

Assim como autores ao concordarem com outros autores o utilizam para referenciar sua pesquisa. Isso se dá justamente pela imparcialidade. A escolha em concordar e referenciar aquele autor pode ter sido tanto por afinidade, quanto por experiências, logo a pesquisa seguirá para este caminho.

Na descoberta, a pesquisa é sempre uma grande viagem, num bom sentido, claro. Por isso, vai depender de quem é a pessoa motorista da vez, e existem vários caminhos para uma mesma resposta. Uma coisa que aprendi é que o olhar da pessoa pesquisadora é grande parte de uma pesquisa.

Sou UX Researcher no Hub de Design da TOTVS. Segue a gente no instagram, no medium ou me chama no Linkedin.

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Jéssica Damaceno Gonçalves
Hub de Design TOTVS

UX Researcher at TOTVS | Research Ops | Facilitadora | Psicóloga