Por que investir em UX design?

Temos acompanhado um grande boom chamado UX design nos últimos anos, seja em relação ao crescente número de profissionais, ou ainda na procura do mercado por este tipo de conhecimento. Mas, afinal, por que investir em UX design? Neste artigo, abordamos esta temática a partir de três pontos chave, por meio de insights de pesquisas e conceitos aplicados em nosso dia a dia.

Morgana Creuz Ganske
Hub de Design TOTVS
7 min readFeb 9, 2021

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Imagem apresenta dois bonecos com capacete, camiseta e calça com o fundo todo desfocado
Photo by Daniel Cheung on Unsplash

Foco no problema e não na solução

Você sabia que 70% das startups fecham antes de completar 20 meses? E que o principal motivo que as leva ao fracasso, é a não necessidade do mercado daquilo que elas oferecem? Estes dados são de um estudo recente da CB Insights, que divulgou as vinte principais razões que levam as startups à falha, com base em pesquisas realizadas com 101 empresas que deram errado. O fato é que a maior parte das pessoas foca somente nas soluções, ao invés de se entregar ao problema durante os processos de descoberta.

O gráfico apresenta lista de 20 motivos de startups falirem
Resultados da pesquisa da CB Insights | Saiba mais em: https://www.cbinsights.com/research/startup-failure-reasons-top/

Para ilustrar este cenário, imagine a seguinte situação: os astronautas têm a necessidade de anotar diversas informações no espaço, entretanto, devido à falta de gravidade, não conseguem utilizar canetas comuns para registrar seus achados no papel. Assim, como nós podemos fazer com que as canetas funcionem no espaço? Observe que desta forma, estamos limitando as ideias na solução: a caneta. Segundo relatos, foi exatamente o que a NASA fez, ao investir uma grande quantia de dólares e horas no desenvolvimento de uma caneta que funcionasse sem o efeito da gravidade, no início da corrida espacial. Agora, e se pensarmos da seguinte forma: como nós podemos ajudar os astronautas a registrarem as suas informações no espaço? Certamente, sua mente fez boom… e você começou a pensar nas diversas possibilidades para resolver este problema. Ao mesmo tempo em que os americanos investiam no desenvolvimento da sua solução, os russos simplesmente usaram um lápis para resolver o seu problema.

Parece simples, mas ao analisar o principal motivo que leva as empresas ao fracasso, percebemos a complexidade desta abordagem. Agora, pense no seu dia a dia, quantas vezes você foca na efetivação de uma ideia, antes mesmo de entender o porquê de estar fazendo aquilo? Por vezes é preciso parar, respirar e dar um passo atrás, focando em ouvir, observar, analisar, buscando entender o contexto e a necessidade. Diversas são as metodologias, métodos, ferramentas e abordagens do design, mas uma coisa que todas elas têm em comum é o foco no problema. Este movimento altera todo fluxo do processo, visto que estamos condicionados a sempre pensar no como, antes mesmo de entender o porquê e o que. Whitney Hess (53 WEEKS OF UX, web) afirma que “a maioria das pessoas acredita que User Experience é somente encontrar a melhor solução para os seus usuários — mas não é. UX trata sobre definir o problema que precisa ser resolvido (o porquê), definir para quem esse problema precisa ser resolvido (o quem), e definir o caminho que deve ser percorrido para resolvê-lo (o como)”.

Ao analisar a palavra problema, encontramos um dos seus significados, de acordo com o dicionário Oxford: questão social que traz transtornos e que exige grande esforço e determinação para ser solucionado. Ou seja, se apaixonar pelo problema, tem a ver com se aproximar das pessoas, visando identificar suas necessidades, tarefas a concluir e barreiras que encontra para atingir seu objetivo. David Kelley (Fundador da IDEO e professor da Universidade de Stanford), afirma que “o truque é achar os verdadeiros especialistas, e aprender com eles muito mais rápido do que você poderia aprender, apenas fazendo do jeito normal”. Engana-se quem acredita que “fazer do seu jeito” é o suficiente, e os dados da CB Insights confirmam esse ponto de vista. Uma das essências do desenvolvimento de produtos orientados pelo design é fazer com as pessoas. É isso mesmo, COM e não PARA, apenas uma preposição que muda todo o sentido do processo e do rumo dos negócios.

As três lentes do design thinking (negócio, tecnologia e pessoas) fazem parte de toda essa concepção, ou seja, nosso foco precisa estar na construção de produtos financeiramente viáveis, tecnologicamente possíveis e desejáveis pelas pessoas. É preciso garantir o equilíbrio entre essas três lentes, e aqui basicamente temos a metáfora da balança, afinal de nada adianta ter um produto que entrega muito para o usuário, mas que não é financeiramente ou tecnologicamente sustentável, da mesma forma que ter algo benéfico para empresa, mas que os usuários não desejam, não deve ser uma opção como vimos na pesquisa. Ao se basear somente nos recursos tecnológicos, podemos tanto estar investindo e, não entregando valor para o usuário, como comprometendo a entrega para as pessoas. Enfim, é fundamental buscar o equilíbrio entre todos esses fatores sempre.

Muito além do visual

Uma crença muito comum das pessoas é relacionar o design somente com a estética das coisas, seja um produto ou uma interface. É fato que o design já foi, em grande parte, sobre tornar seus entregáveis mais atraentes. Entretanto, há algum tempo, temos no design um jeito de pensar, um processo criativo que abrange organizações como um todo, sempre impulsionado pelo desejo de entender e atender melhor às necessidades dos usuários. Este é um dos insights da McKinsey & Company em seus materiais que exploram o valor de negócio do design e demonstram a maximização da atuação do design e sua pluralidade. Contexto também ressaltado pelo próprio Steve Jobs: “o design não é apenas o que parece e o que se sente. Design é como funciona”.

Muito utilizada em diversas áreas e abordagens, a metáfora do iceberg, nos ajuda a entender um pouco mais este cenário. Proposta por Trevor van Gorp (2009, web) e baseada nos cinco elementos de UX: estratégia, escopo, estrutura, esqueleto e superfície, de Garrett (2000), o iceberg de UX, ilustra que muito além daquilo que é visível aos olhos, ou seja, as interfaces, temos toda a estrutura que sustenta um produto digital.

Imagem apresenta um icebergue onde fica claro a divisão do que o cliente vê e o reais motivos que ele vê
UX Iceberg | proposto por Trevor van Gorp com base em Garret

Muito além do visual com foco em deixar as coisas mais bonitas, utilizamos o design como estratégia para o negócio. Quantas vezes você já teve dificuldade no uso de um produto digital, chegando a desistir e buscando outra solução? Neste exemplo, temos a prova que o bom design deve ser invisível aos olhos, ou seja, quando ele é utilizado de forma estratégica, não é percebido, pois guia a pessoa até a conclusão de sua tarefa de forma simples e intuitiva, garantindo a efetividade da tarefa. Não acredita nisso? Então, vamos fazer um teste rápido:

O gráfico apresenta diferente tamanho de textos.
Hierarquia visual | Autor: Rodrigo Leles

Muitos são os estudos e técnicas utilizadas com esse propósito, e de forma alguma devemos abrir mão das teorias de design visual durante o processo, afinal é por meio dele que é possível tangibilizar toda a estratégia construída, ou seja, como afirma Mariona Lopez (empreendedora, designer e professora em Barcelona, na Espanha), “o design é uma resposta formal a uma pergunta estratégica”.

Melhoria de performance

A construção de produtos digitais gera muitas incertezas e transtornos para todas as pessoas que estão envolvidas no processo. E nesse emaranhado de poucas certezas, algumas suposições, dúvidas e mais dúvidas que compõem o desenvolvimento de projetos, um tópico que é bastante discutido é o tempo investido nessa fase. Você já foi questionado ou, já se questionou se vale a pena investir em momentos de imersão e descoberta? E se fossemos direto para o desenvolvimento? A ansiedade de ver linhas de código saindo, por vezes frustra aqueles que acompanham essas fases. Recentemente uma imagem foi amplamente compartilhada nas mídias sociais, abordando exatamente este paradoxo de tempo, traduzindo de forma visual essa complexa relação.

Uma pessoa segurando um post it amarelo, onde de um lado de o processo de design e do outro perda de tempo
Processo de design | proposto por LogicDesign

Diversos são os estudos que comprovam a diminuição dos índices de retrabalho dos times, ao investir em pesquisa, análise, ideação, prototipação e validação, ou seja, abordagens orientadas pelo design e com as pessoas. A pesquisa coordenada por Susan Weinschek (Chief of UX Startegy of American Factors International) comprovou que essa diminuição pode chegar a 50%. A Forrester também apresentou estudos nessa linha, afirmando que o tempo de desenvolvimento pode diminuir entre 33% e 55% ao investir em processos de design. Já a IEEE Spectrum afirma que alterações com produto em produção podem custar até 100x mais, do que em tempo de protótipo.

Certamente ainda temos muito que evoluir na tangibilização de resultados de design para o negócio. Mas, felizmente, essa abordagem estratégica do design vem ganhando força e cada vez mais profissionais vêm dedicando esforços no compartilhamento de conhecimentos com esse foco.

Ficou curioso? Quer saber mais? Temos também um podcast do TOTVS Developers com esta temática:

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