Storytelling aplicado a fofoca: talvez você já saiba como contar histórias

Suas habilidades de Maria fifi podem ser mais úteis do que você imagina

Beatriz Miranda
Hub de Design TOTVS
5 min readMay 20, 2024

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Garota branca com uniforme de líder de torcida. Ela segura um alto-falante dourado perto da boca. Há uma legenda abaixo escrito: “ATENÇÃO FOFOCA”

Reflito, logo escrevo um artigo

Talvez você tenha achado o título um tanto curioso e juro que tenho bons fundamentos para tal. Primeiramente, é crucial saber: sou brasileira e, como uma boa brasileira, adoro uma fofoca. Convenhamos, é quase sempre um entretenimento certo. Mas você já parou pra refletir do porquê disso?

Antes, falemos um pouco sobre Storytelling, depois te fidelizo minha ideia. Vamos lá?

Storytelling em si

Foto em preto e branco de uma senhora idosa sentada em uma cadeira enquanto lê um livro para várias crianças que estão sentadas no chão. De fundo, uma parede de madeira com vários porta-retratos.

Story é história, telling é “contando”. É sobre contar histórias e, por meio delas, criar uma conexão com quem ouve/lê. Com isso, nos aproximamos, fazemos as pessoas se interessar pela narrativa e, não só isso, com a forma que contamos, levando à identificação, envolvimento e engajamento.

Claramente não existe uma única forma de contar histórias, exemplo disso são as próprias histórias fictícias, onde temos uma imensidão de técnicas e a clara identidade de quem as escreve.

Contudo, no meio profissional, o storytelling está muito mais interligado ao convencimento do que aquela narrativa cativa e por que sua relevância. Conquistamos pessoas (vulgo embaixadores e clientes) desta maneira. Então é vista como uma estratégia e habilidade comportamental muito prestigiada à carreira, porém desafiadora de se alcançar.

Afinal, como criar interesse? Como se conectar? Como gerar uma identificação? Como isso acontece?

Até que lembrei de algo que gera resultados similares. Então entramos aqui: o que storytelling e fofoca tem em comum?

O gancho é irresistível

Expressões como “Nem te conto” que significa que vou te contar tudo e mais um pouco. “Vou te contar, viu” que significa que não vou te contar imediatamente, só quando eu acabar de demonstrar quão impactada estou com aquela informação.

Considerando nosso contexto cultural, é típico pensar, ao ler esses ganchos, que o que vem em seguida é uma bela informação privilegiada. Pequenas frases que tomam sua atenção, te deixam querendo mais. E é isso que te faz se interessar por um conteúdo/história.

Agora alguns exemplos da profissão de Design: “Figma é a melhor ferramenta. Mas é uma das.” Pera aí. Uma das? Quais são as outras? Como podem competir com o Figma? “Portfólio não é o único requisito. Mas tem seu peso.” Peso do quê? Peso de academia?

Naturalmente é o gancho que aciona o interesse e se for polêmico, melhor ainda. Basta demonstrar ter uma informação que valha a pena tomar conhecimento ou nem isso. Basta que gere curiosidade suficiente.

Tende a envolver

Não aquele da Anitta, mas a fofoca nos envolve: o tom, a novidade, a confidencialidade, o sentimento de saber algo que poucas pessoas ou ninguém sabe. Gostamos da sensação de sermos os únicos em algo; gostamos de ser especiais. Informação é poder e nem precisa ser útil.

A partir do momento que somos as únicas pessoas com aquela informação, nos sentimos poderosas e, então, sentimos a necessidade de expor esse poder, o que faz com que continuemos a propagar a fofoca a quem entendemos ser interessante: ou seja, a quem entendemos que é adequado ser especial como nós.

Storytelling é uma fofoca edificante

Considerando tudo isso, por que não pensar no storytelling como uma fofoca gourmet?

Story é a história, o que é transmitido e absorvido. Telling é contar, ou seja, como transmitimos. É a estrutura de contar que vai trazer o que queremos transmitir.

Na fofoca, você não começa uma fofoca e não continua, afinal isso seria deixar a história pela metade. A menos que não tenha insumos para tal, daí você deixa claro que não tem, que está esperando mais informações etc. Mas isso soa familiar em um contexto profissional, não? Conseguiu observar a estrutura?

E você não para uma fofoca na melhor parte. Você já tem atenção suficiente para continuar até o fim, de certa forma você já se preparou pra isso. Mais uma vez: familiar, certo?

Agora venho com um cenário fático de aplicação de storytelling: em uma entrevista, você pretende manter suas falas até o final, que as pessoas prestem atenção em você. Da mesma forma quando apresenta suas propostas, você quer cativar quem está te ouvindo, quer que se envolvam na sua perspectiva. É tudo muito familiar no fim das contas.

No fim, storytelling é uma fofoca produtiva. Ou melhor: uma fofoca edificante (de verdade). Tem estruturas parecidas, objetivos semelhantes: conexão, identificação, envolvimento e engajamento. Contudo, saber disso não necessariamente te fará contar melhores histórias.

As boas histórias vem depois das piores

Sam, do dorama GAP The Series, empresária de cabelos pretos com uma expressão de desdém na foto. Há uma legenda abaixo: “Não me impressionou, refaça.”

Até um fofoqueiro precisa de prática. Talvez você tenha uma pessoa que é craque em fofocar, ama receber fofocas por ela, pois só fica melhor a cada história que ela trás. Não é diferente no storytelling: é preciso prática. Quanto mais se conta, melhor a gente fica nisso.

No entanto, saindo disso, o ponto central do meu artigo era te mostrar que storytelling já está no nosso dia a dia, nas nossas interações mais simples, inclusive numa fofoca.

Tenho pra mim que quanto mais nos aproximamos da ideia, mais confortáveis ficamos com ela, mais nos sentimos capazes de sermos melhores pessoas contadoras de histórias.

Talvez não contaremos boas histórias logo de início, mas isso já deve ser esperado. Aos poucos, você cria seu tom por meio de quem você é. Isso tudo influencia em como transfere a informação e torna a coisa autêntica, outro ponto também muito importante na arte do conto.

Inclusive serei franca com você: as pessoas sabem o que é genérico. Podem não saber explicar, mas sabem. Então tente sempre ser você por mais difícil que possa ser ao contar algo.

Então, aprendizado dado: da próxima vez que sentir dificuldade em contar alguma coisa:

“Se isso fosse uma fofoca, como eu contaria?”

Aliás, uma dica: se ponha como autoridade na fofoca, rsrs, mesmo que sequer seja. Mas bom senso, OK?

Obrigada por ler! Se quiser papear mais sobre (ou fofocar), fico à disposição em: in/bmirandaq

Por fim, deixo um agradecimento especial ao querido Caio de Mendonça e à mestre Jéssica Damaceno, meus colegas UX Researchers no Hub de Design da TOTVS, pela revisão do artigo e parceria de sempre!

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