Utilizando o storytelling para colocar pessoas de fora do projeto na mesma página

Como Demi Lovato fez um bom storytelling no seu último álbum de estúdio deixando todos os públicos alinhados

Caio de Mendonça
Hub de Design TOTVS
6 min readAug 6, 2021

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Demi Lovato com cabelos soltos e um enfeite dourado no cabelo. Atrás dela, várias pedras empilhadas

Que eu sou um apaixonado por música e Demi Lovato todo mundo já sabe, mas ainda falo pouco da minha paixão por álbuns que contam histórias de forma cronológica. Nesse texto quero te levar em uma reflexão da utilização dos elementos do storytelling na apresentação de resultados de um projeto, fazendo um paralelo com Dancing With the Devil… The Art Of Starting Over, último álbum de estúdio de Demi Lovato.

É de senso comum que por uma questão comercial, as gravadoras muitas vezes interferem na estrutura do álbum, que é a sequência de cada faixa e isso pode não seguir uma linha cronológica linear, contando uma história. Como uma forma de engajar o grande publico, as gravadoras optam por destacar logo no início do álbum os singles (músicas que serão enviadas para rádios e terão clipe) deixando a linha do tempo e os elementos para se contar uma boa história um pouco de lado, mesmo com álbuns mais “conceituais” ficando casa vez mais “famosos” com vários artistas seguindo essa fórmula de storytelling. — Obrigado Diego do escutai por tirar algumas dúvidas sobre a estrutura dos álbuns

Os benefícios do storytelling

Aqui na TOTVS fazemos projetos com varias áreas da empresa — seja de produtos ou serviços. Esses projetos tem duração entre 2–3 semanas e nesse meio tempo o core team — que é o grupo de pessoas da área que solicitou o projeto, acompanha e participa de todo o processo de design. No decorrer do projeto, essas pessoas vão entendendo as necessidades e as dores dos usuários junto com nós designers, mas elas não necessariamente são os sponsors — que são os patrocinadores, quem vai pagar pelo projeto, pessoas de extrema importância e que precisam entender a real necessidade dos usuários para que a solução trazida na apresentação do projeto também faça sentido para elas.

Fornecer contexto adicional ajuda nosso público a se conectar com um conceito. Esse contexto adicional pode ser na forma de comportamentos, emoções, reações, motivações ou objetivos. Ao contrário de um fluxograma ou artefato, uma narrativa permite que o público entenda as razões por trás das ações dos usuários; eles lembram aos membros do nosso público que eles não são os usuários . — Nielsen and Norman Group

O que uma boa história precisa?

Aristoteles cita por diversas vezes a importância de se contar histórias e para ele a fórmula para uma boa história deve conter: trama (a necessidade/dor), personagem (pessoas usuárias), diálogo (como vai ser a comunicação com as pessoas usuárias) e espetáculo (como seu o design/solução vai ser lembrada pelas pessoas usuárias)

Listagem dos 7 elementos de Aristóteles para um bom storytelling: Diálogo, Decoração, Melodia, Espetáculo, Tema, Enredo e Personagem
Para conferir a lista completa e mais detalhes: https://public-media.interaction-design.org/pdf/Aristotles-7-Elements-of-Good-Storytelling.pdf

Como criar uma narrativa persuasiva?

Não podemos apenas incluir esses elementos de um bom storytelling e torcer para que a história fique boa. Nielsen Norman Group aponta uma série de outros pontos necessário para manter a atenção do público, fazendo uma narrativa persuasiva (NNG possui um material incrível sobre storytelling material de estudo no final do texto). Para exemplificar como é uma narrativa persuasiva, vamos utilizar o exemplo do último álbum de Demi Lovato e caso você não goste tanto assim de música, pode tentar fazer esse exercício com sua série favorita, livro ou filme.

Para esse texto, precisamos ter em mente que o público é quem vai assistir nossa apresentação de resultados do projeto (público em geral e fãs de Demi), usuários as pessoas que vão entrar em contato com a solução (público em geral e fãs de Demi) e quem conta a história são as pessoas que fizeram e acompanharam o projeto (Demi Lovato).

Adapte seu vocabulário para corresponder ao seu público

Assim como Demi Lovato no seu último álbum, as pessoas que estão no projeto (core team) tem uma historia para contar sobre as necessidades e dores das pessoas usuárias, para as pessoas que não participaram de todas as etapas do projeto (sponsors por exemplo) e muitas vezes nem todo mundo que vai escutar essa historia está alinhado com o que foi entendido durante o momento de pesquisa.

Para colocar todo o público na mesma página, Demi utilizou três faixas no início do álbum para conseguir conversar com todo tipo de pessoas, tanto para os fãs que sabiam de tudo que havia acontecido, como para as pessoas que não acompanhavam tão de perto sua vida pessoal.

Durante a apresentação, precisamos destacar as informações iniciais que encontramos, fazendo um movimento introdutório, qual o atual cenário dessa questão, quais são as dores das pessoas, o que elas precisam?

Print de um tocador de música, com as 4 primeiras faixas do álbum
Faixas onde Demi conta suas dores e problemas que estavam acontecendo em 2018 e uma faixa falada (Intro) onde conta a sua necessidade de deixar os problemas, acontecimentos e recomeçar.

A forma como vamos contar a história é de extrema importância. Sem usar o mesmo vocabulário do nosso público e se não colocarmos todo mundo na mesma página, corremos o risco de não ter sua atenção e não conseguirmos demonstrar o valor da solução no final do projeto. Se o público for composto de pessoas voltadas ao negócio da companhia, a forma como vamos contar a história do projeto deve ser diferente de como contar para pessoas voltadas à parte de suporte, por exemplo. Em nenhum momento Demi utiliza termos médicos ou faz referências nessas músicas que não possam ser compreendidas pelo grande público e é dessa forma que devemos adaptar nosso vocabulário.

Apele às necessidades e explore insights

Se você não é tão antenado no mundo pop, em 2018 Demi Lovato sofreu uma overdose e ficou longe dos palcos por alguns anos. Somente em 2021 fez o retorno para o mundo da música e durante todo esse tempo de espera, a mídia especulou os motivos do acontecimento, porém Lovato aguardou o momento certo para contar sua história. Havia uma grande ansiedade tanto para o fãs como para o público em geral, de entender o que levou Demi sair da sobriedade de 8 anos e chegar na overdose.

Print de um tocador de música, com as faixas 5 a 10 do álbum
Faixas que exploram a necessidade do público em entender mais sobre a vida de Lovato, problemas com sua antiga equipe, medos e inseguranças.

Nada melhor para contar histórias do que dados. Lovato não utilizou somente o álbum para contar sua história, mas sim lançou um documentário de quatro partes no YouTube para se aprofundar nos acontecimentos de 2018.

No momento de apresentação de um projeto, precisamos voltar a necessidade do público, qual o objetivo do projeto e qual o perfil dos sponsors são questionamentos que precisamos fazer, não se esquecendo de apresentar dados, explorar a pesquisa qualitativa/quantitativa, mostrando onde foi baseada a tomada de decisão. Nesse momento, trazemos falas de usuários que comprovam o que estamos trazendo, mostrando suas dores e necessidades.

Artefatos para memorização, alinhamento e acompanhamento

No álbum, Demi alinha seu público com os restantes das músicas do álbum. Nessa etapa, é apresentado como está sendo sua trajetória, as lições aprendidas e o seu atual momento.

Print de um tocador de música, com as faixas 11 a 19 do álbum
Músicas que exploram alguns outros acontecimentos na vida de Demi e apontam para o atual momento de sua vida.

Uma forma que encontramos aqui no UX Lab de manter a pessoa sponsor alinhada com o rumo do projeto e as necessidade das pessoas usuárias foi fazendo um check-in do projeto em uma validação, onde o core team apresenta os insights, as necessidades e os conceitos das soluções. Isso mantém as expectativas alinhadas e o risco de rejeição no momento da apresentação é menor, pois as necessidades e dores das pessoas usuárias já foram apresentadas.

Esse check-in além de colocar todas as pessoas na mesma página, também aponta o andamento do projeto, quais etapas já foram concluídas, um vislumbre dos entregáveis finais e quais serão as próximas etapas.

O acompanhamento do projeto acontece depois da apresentação onde o core team vai seguir com o desenvolvimento da solução aplicando os conceitos e o material trazidos durante o projeto e a devolutiva para as pessoas que participaram de cada etapa fica na responsabilidade dessas pessoas.

O storytelling é um grande aliado durante todo o processo de design e não seria diferente no momento da apresentação dos resultados. Além de colocar todos na mesma página, também nos ajuda a entender de melhor forma a necessidade dos usuários e apresentar o valor da solução.

Material utilizado como estudo para o artigo:

'6 Rules for Persuasive Storytelling 'Nielsen Norman Group

'What is Storytelling 'Interaction Design

'Aristotles 7 Elements of Good Storytelling' Interaction Design

Obrigado por ler até aqui! Se quiser conversar mais sobre storytelling, design ou música, me chama

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Caio de Mendonça
Hub de Design TOTVS

Apaixonado por música, perguntas e por facilitar os processos de design para as pessoas. — UX Researcher na TOTVS