Alegoria da caverna: O poder da vivência no Design

Ficar só desenhando fluxos e conceitos é efetivo para inovar e atender as necessidades do seu usuário? Vem comigo e Platão, precisamos conversar.

Carolina Koury
UX Collective 🇧🇷

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A Alegoria da Caverna, história presente no Livro VII da obra A República de Platão, faz parte de uma série de diálogos sobre temas que estruturam a construção de um Estado ideal. A história trata sobre um grupo de pessoas que vivia em uma caverna, presos por correntes e voltados para a parede no seu fundo. Atrás delas, existia uma fogueira que projetava objetos e movimentos em forma de sombras na parede. Como estavam presos, eles julgavam todos os acontecimentos pelo que viam projetado na parede e não pela realidade. Um dia, um dos presos se solta e sai da caverna, se deparando com um mundo novo, repleto de cheiros, cores e formas. Encantado pelas novas experiências, decide voltar para dividir seus conhecimentos com os outros presos.

O que Platão queria nos dizer?

Foto da estátua de Platão, em Atenas na Grécia
Estátua de Platão, em Atenas, Grécia. Foto: markara / Shutterstock.com

O diálogo trata sobre o conceito de senso comum em oposição ao senso crítico, mostrando a importância da busca pelo conhecimento verdadeiro, alcançado apenas quando usamos a razão. Daí você se pergunta, como isso tudo está relacionado a Design?

O designer e suas sombras

O papel do designer é entender comportamentos, hábitos e necessidades e traduzir todo o mapeamento em uma solução que gere valor. Ou seja, o trabalho é ir a campo entender como as dinâmicas realmente acontecem, para que seu produto seja baseado em emoções e insumos reais e não em projeções e preconceitos sobre o seu usuário. Estar preso ao computador, aos dados frios e as ferramentas do dia a dia não é o suficiente para construir um conhecimento relevante, que gerará um impacto real para quem está vivendo a experiência.

Mãos à obra!

“Não há um método lógico para se ter novas ideias, ou para a reconstrução lógica do seu processo. Cada nova descoberta contém um elemento irracional, ou uma intuição criadora.”

— Popper, The logic of scientific discovery

Entendendo a conexão entre a Alegoria e o papel do designer, vimos que para aplicar a lógica abdutiva (definir as melhores hipóteses para solucionar um problema não convencional) criando soluções disruptivas, inovadoras e criativas não podemos viver de preconceitos, crenças e hábitos antigos.

Para tomarmos decisões cada vez mais racionais, aguçando o senso crítico, separei abaixo algumas dicas para você:

foto de linha rabiscada, tendendo para a linearidade. A parte mais rabiscada é definida com incerta/ busca de padrões enquanto o linear fala sobre clareza de conceito
O "squiggle" Damien Newman representando o caos e a clareza do processo de design. Imagine o impacto negativo se o rabisco estivesse depois do limite do conceito?

Você não conseguirá evitar o caos; ele faz parte da inovação

Como lidar com ele é a chave para uma entrega efetiva.

Se o início do seu processo é de muita pesquisa, vivência, aprendizado e definição, a tendência é afunilar conceitos e organizar ideias até um ponto de partida interessante que gera um grande valor final.

Caso contrário, é possível que faltem informações importantes ao final, chegando no usuário apenas um analgésico da necessidade real ou uma experiência que não faz tanto sentido para ele.

Pesquisa e entregáveis são pesos opostos em uma balança

Investir demais em um significa que seu processo talvez se prejudique.

Muita pesquisa sem plano de ação não faz seu projeto andar; muita entrega sem pesquisa não entrega valor para o usuário.

Entenda os seus prazos e a disponibilidade dos seus entrevistados para montar um cronograma e definir uma estratégia sensata.

Priorize o que você quer descobrir definido parâmetros

  • Qual o seu objetivo?
  • Para quem estou desenhando?
  • Que problema estou buscando resolver?
  • Qual metodologia vou utilizar?
  • Quem são as pessoas da minha empresa interessadas no que estou desenvolvendo?

Perguntas como essas podem ser norteadores interessantes para diferenciar o que é urgente, do que pode ficar para depois e a quem recorrer/ envolver durante sua trajetória.

Crie um ambiente confortável para conversas com o usuário

Perceba movimentos, objetos que interage, reações, rotina, limitações… Cuidado para não transformar uma troca empática em um interrogatório.

Separe tempo para tirar insights das suas pesquisas

Dados soltos não são suficientes. O conhecimento nasce de conclusões sólidas baseadas nos padrões encontrados.

Concentre todos os dados e achados da sua pesquisa em um só lugar

Dica de ouro: Quanto mais perto ficam seus dados e insights, mais fácil de os relacionar e de se organizar estrategicamente para o próximo passo; e por fim…

Defina qual o seu plano de ação

O que você fará com tudo o que descobriu? Como isso influencia o que você irá construir? Revisitar as etapas iniciais de parâmetros de projeto pode te ajudar bastante nessa parte.

Que tal soltar das amarras e sair da caverna? Te vejo aqui fora.

Referências

  • A República, Alegoria da Caverna — Platão
  • The Design Squiggle — Damien Newmann
  • The logic of scientific discovery, 1959 — Pooper
  • Design de negócios, 2017 — Roger Martin
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