Como o meu primeiro Case de UX Design democratiza o ensino de inglês para mulheres pretas

Ana Paula Nascimento
UXMP
Published in
9 min readJul 17, 2024

Desenvolvimento de um aplicativo de inglês inclusivo e culturalmente relevante para esse público

Este case foi desenvolvido em grupo como projeto final do curso de capacitação da “UX para Minas Pretas”. Eu já estava atenta a esta área e encontrei a oportunidade para aprofundar os meus conhecimentos da melhor forma: cercada de mulheres potentes. A UXMP é uma EdTech focada em inserir mulheres pretas no mercado de tecnologia, aumentando a empregabilidade e equidade nesse espaço ainda masculino e branco.

Aqui, foco na minha contribuição principalmente da perspectiva do UX Research, detalhando os processos que conduzi para compreender profundamente o mercado, as necessidades e as preferências do público-alvo. Documento como a pesquisa foi essencial para orientar a criação da solução.

Oi, eu sou a Ana :)

Tenho 20 anos de experiência como Produtora Audiovisual. Durante minha carreira, conduzi pesquisas e entrevistas para casting, aprofundando minha habilidade de compreender as necessidades e expectativas das pessoas. Aprendi a encontrar histórias envolventes e a importância de uma conexão genuína com as pessoas. Atualmente, estou focada na criação de experiências digitais e este é meu primeiro estudo de caso em UX Design. Quero explorar como a pesquisa e a narrativa podem transformar a experiência do usuário, aplicando minhas habilidades em UX Research. Espero que este case inspire você ! Vamos lá!

Boa leitura!

Visão Geral

A educação é uma área que o racismo se faz presente há anos. E essa corrida desproporcional nas condições de aprendizado é também um obstáculo para a ascensão das pessoas negras no mercado de trabalho. Aprofundar esse tema com a busca por dados confiáveis e relevantes passou a ser meu objetivo.

Fonte: O Globo 27/07/2023

Início da Exploração

Em um grupo formado apenas por mulheres pretas, nós partilhamos percepções e questionamentos com o público que iremos aprofundar. Esse foi o ponto de partida para, juntas, levantarmos algumas possibilidades e desafios relacionados à intersecção entre racismo, educação e mercado de trabalho para mulheres negras.

Utilizamos o Duplo Diamante, uma metodologia de Design Thinking para orientar nossos passos na definição do problema e elaborar uma solução para o desenvolvimento desse produto digital.

Matriz CSD

Como apoio, coletivamente levantamos as certezas, as suposições e as dúvidas, utilizando a Matriz CSD. Essa ferramenta possibilitou mapear as desigualdades, apontar dores e possíveis oportunidades.

Matriz CSD — Ferramenta: Miro

Desk Research

Depois de pensar e especular sobre o tema, foi imprescindível buscar dados para embasar a criatividade. Em pesquisas em sites e organizações confiáveis confirmei que a evasão escolar, a necessidade de trabalhar e a falta de políticas afirmativas são alguns dos pontos que reforçam as dificuldades da população negra no Brasil. Mulheres negras enfrentam desafios adicionais pois também deixam de estudar ao engravidar ou para cuidar da casa e da família.

Focando mais nas mulheres negras, dados de uma pesquisa feita pela “Indique Uma Preta” e Cloo mostraram que as entrevistadas pouco se integraram ao ambiente escolar por não encontrarem pessoas com trajetórias similares às suas, porém, são a maioria ao utilizar políticas públicas de incentivo ao ensino.

Conciliar estudo e trabalho é uma realidade para muitos estudantes negros, e essa dupla jornada, atrelada à limitação financeira, contribui para a disparidade no acesso à especialização e ao conhecimento técnico. As ações afirmativas são essenciais para promover a equidade e garantir a participação mais efetiva desses estudantes nos cursos.

Fonte: Lideranças em Construção — porque a trajetória de profissionais negros é tão solitária — Pesquisa Indique e Cloo

Conhecimento de inglês

O inglês é uma ferramenta importantíssima no mundo hoje. É a língua presente na mídia, no mercado e na internet. Com o crescimento de empresas brasileiras exportando seus serviços e de multinacionais se instalando no Brasil, o inglês virou um conhecimento praticamente obrigatório.

Diante da relevância deste assunto, direcionei minha pesquisa para este nicho. A busca por dados concretos é crucial para validar hipóteses:

Uma pesquisa realizada pela “EF Education First” para avaliar o Índice de Proficiência em inglês mostra que o Brasil ocupa o 58º lugar do ranking mundial. Já um estudo da plataforma “99jobs” identificou que o baixo desempenho em inglês é uma das causas da eliminação da maior parte dos concorrentes negros em processos seletivos: menos de 3% são fluentes no idioma.

Fiquei instigada a buscar mais informações sobre a importância do conhecimento de inglês no mercado de trabalho:

  • Pesquisa da Catho: 72% das vagas de emprego exigem inglês em algum nível, sendo que 40% pedem fluência. E profissionais bilíngues ganham até 61% mais do que aqueles que não dominam o idioma.
  • Levantamento da British Council: Apenas 5% dos brasileiros possuem inglês fluente, enquanto a média global é de 13%. Isso significa que dominar o idioma coloca o candidato em um grupo seleto no mercado de trabalho.

Benchmarking

Motivada pela necessidade de auxiliar mulheres pretas a encontrar o curso de inglês ideal, decidi realizar uma análise aprofundada e comparativa das opções disponíveis no Brasil. O objetivo é estar munida de uma base precisa sobre os cursos, incluindo seus diferenciais, metodologias, custos e facilidade de acesso. Minha constatação foi que:

  • Os cursos presenciais e online em escolas tradicionais são caros e possuem conteúdos que reforçam a cultura americana ou europeia
  • Os aplicativos gratuitos para inglês reforçam os conteúdos dessas escolas tradicionais
  • Há projetos brasileiros focados no ensino de inglês voltados para a cultura negra: uma escola com aulas presenciais em São Paulo e outras onde as aulas são online mas não tem aplicativo para dispositivos móveis.
  • Ações afirmativas feitas por instituições como a Mover e a Vetor Brasil foram promissoras, comprovando interesse desse público.
Benchmarking — escolas de inglês voltadas para o público negro

Pesquisa Quantitativa:

Animada com as informações públicas encontradas nas etapas anteriores, agora evoluímos para ter um contato direto com o público alvo. Fizemos uma Pesquisa Quantitativa, através do Google Forms, com 60 mulheres, pretas, pardas e / ou indígenas, com idades diversas e variadas regiões do Brasil. Elaboramos as perguntas juntas para entender as dores, opiniões, necessidades e vivências do público alvo. Enviamos o formulário em nossa rede de contatos e grupos com profissionais negras.

Analisando as respostas da pesquisa, extraí esses insights:

  • 81,7% não está estudando inglês no momento
  • Variedade de níveis de proficiência: do básico ao avançado.
  • Melhorar a carreira e conhecimento pessoal são as principais motivações para estudar inglês
  • Falta de tempo e de dinheiro foram citados com frequência
  • Precisam de inglês nas atividades do dia a dia: no trabalho, acesso a conteúdo na internet e assistindo filmes e séries.
  • Gostam de conteúdos gravados para que possam acessar a qualquer hora
  • Destacam a importância de ter professores negros, conteúdos relevantes para mulheres negras, vocabulário de vivência, suporte para dúvidas, interação com outras mulheres e cultura afro-indígena.
  • Faixa etária com maior volume em nossa pesquisa: respectivamente: 40+ — são 31,7 % | 27 a 30 anos — são 25% | 30 a 33 anos — são 18,3%. (Essas faixas etárias representam a população mais ativa em atividades empregatícias: de acordo com o IBGE 62,5% dos trabalhadores brasileiros têm entre 25 e 49 anos)
Gráficos de algumas respostas — Pesquisa Quantitativa com Mulheres Negras — Ferramenta Utilizada: Google Forms

Definindo o Problema

Com dados para fortalecer a argumentação então fiz a proposta para o grupo:

Proposta para definição do problema — Ferramenta: Miro

Conversamos e decidimos o problema para atacar : como aumentar as chances de inclusão e crescimento de mulheres negras no mercado de trabalho por meio do aprendizado da Língua Inglesa?

Há oportunidades de mercado e valor para as usuárias.

Personas

Desenvolvendo esse case achei necessário acrescentar Personas, uma representação fictícia das usuárias. Para criação da Persona me baseei nos dados reais da Pesquisa Quantitativa e na Desk Research. As imagens foram criadas com Inteligência Artificial, utilizando o Microsoft Designer.

Personas — Ferramentas Utilizadas: Canva e Microsoft Designer

Desenvolvimento do Aplicativo e Protótipos

Iniciamos a criação de um aplicativo educativo que vai ensinar inglês para mulheres pretas, pardas e/ou indígenas sem custo para as usuárias. Um curso atrativo, cheio de representatividade, com cultura afro, com sotaques de países africanos que falam inglês, com acolhimento e vivências reais de mulheres pretas, com opções de aulas ao vivo e gravadas e suporte de dúvidas. Adotamos uma linguagem descontraída e leve pois acreditamos que irá atrair e fidelizar as usuárias.

As respostas da pesquisa foram determinantes para desenvolver o conteúdo e a intenção da plataforma, totalmente centradas nas usuárias.

Na pergunta “O que você gostaria de ver em um app para aprender inglês?” tivemos respostas que nortearam a construção do produto.

Algumas respostas retiradas da Pesquisa Quantitativa — Ferramenta utilizada: Google Forms

O nome do aplicativo foi pensado para deixar claro o público-alvo: MULHERES PRETAS.

O processo de ideação tem umas “pirações” divertidas: na imagem abaixo confira as sugestões dadas por mim… haha

Minhas falas — Conversa no Whatsapp com equipe de trabalho

Wireframe e Jornada do Usuário:

Próximo passo foi esboçar um Wireframe, utilizando o Figma. Ele foi feito em aula, em execução conjunta aproveitando essa facilidade da ferramenta de trabalharmos juntas em tempo real.

Wireframe — feito em grupo na primeira aula. Ferramenta utilizada: Figma
Evolução do Wireframe — feito em grupo na segunda aula. Ferramenta utilizada: Figma

Elaboramos seis fluxos da Jornada das Usuárias, também utilizando o Figma:

Visualização Geral da Jornada do Usuário — Ferramenta: Power Point

Entrega do Protótipo

Esta é a primeira versão do aplicativo “She Is Black”, a plataforma que vai ajudar mulheres pretas, pardas e/ou indígenas a aprender inglês gratuitamente.

Telas — Splash , Home e Atividade de Leitura
Telas — Vídeo aula gravada , exercícios e atividade com música
Telas — Escolha de aulas ao vivo com professoras negras, gramática e suporte de dúvidas

Para visualizar mais telas, acesse aqui.

Pitch

A etapa de entrega deste case ficou completa com a apresentação do projeto, um desafio empolgante de 7 minutos. Eu fui uma das responsáveis pelo pitch.

Modéstia à parte, a galera gostou:

E o certificado veio ❤:

Aprendizado e Próximos Passos:

Investigar as dores do público alvo para construir uma plataforma de ensino do zero foi importante para compreender a relevância dos processos e metodologias de Design, em especial o Discovery / Descoberta. Soluções centradas na pessoa usuária não podem ser baseadas em “achismos”, por isso Pesquisas e Dados confiáveis são imprescindíveis.

Não foram executados testes de usabilidade e etapas de iteração por se tratar de um projeto fictício, mas esse seria o próximo passo em um produto real. Coletar feedbacks continuamente são cruciais.

Ficha Técnica:

Agradecimento Especial: UX para Minas Pretas

Responsáveis pelo Projeto: Ana Paula Nascimento, Ethieny Karen, Larissa Braga e Ruth Silva | Turma 3 — Curso UX para Minas Pretas

Ferramentas Utilizadas: Miro | Trello | Google Forms | Power Point | Figma | Microsoft Designer | Canva

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Ana Paula Nascimento
UXMP
Writer for

Criada na periferia de Santo André - SP, hoje em São Paulo - SP. Carreira de 20 anos no audiovisual, em transição para UX Research.