Negritar: Case de UX/UI para ajudar na reinserção de mulheres ao mercado de trabalho

Edilene Mendes
UXMP
Published in
8 min readDec 23, 2020

O projeto Negritar foi criado durante a Discovery Week, uma iniciativa de mentoria da ZUP Innovation em parceria com a UX para Minas Pretas. A iniciativa uniu 20 mulheres negras de diversos lugares do país para passar 5 semanas recebendo mentoria online por várias colaboradoras da ZUP e construindo projetos de impacto social para a nossa comunidade.

Nossa equipe contou com 4 mulheres negras incríveis, eu (Edilene Mendes), Fernanda Paixão, Mikaela Alencar e Neide Lucanga, que a partir da troca realizamos um processo bastante colaborativo.

Nosso desafio

Entender como ajudar mulheres negras da periferia a conseguirem renda, através da reinserção no mercado de trabalho.

Contextualização

Em meio a crise política e socioeconômica que o Brasil enfrenta, são as mulheres os sujeitos mais impactados negativamente nesse contexto. Segundo o IBGE, a taxa de desocupação total entre as mulheres no quarto trimestre de 2019 foi de 13,1%, enquanto entre os homens o índice era de 9,2%.

E apesar de sermos 28% da população, as mulheres negras enfrentam além da disparidade entre os gêneros, se deparam com a discriminação racial no mercado de trabalho. Segundo a PNAD Continua (2019) a taxa de desemprego entre mulheres negras é de 16,6%, enquanto o de mulheres brancas de 11% e homens negros de 12,1%, mas de homens brancos é apenas de 8,3%.

“A mulher negra, em todos os índices, seja na área de educação, trabalho, saúde, é sempre a base”- Cida Bento — Diretora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert).

Dentre as mulheres negras que conseguiram um espaço no mercado de trabalho, os tipos de serviços são pouco diversos, 20% delas trabalham com serviços domésticos, taxa que cai para 10,2% para mulheres brancas, perpetuando aspectos históricos ligados à escravidão.

Metodologia

Escolhemos como processo metodológico o double diamond (diamante duplo), foi criado pelo British Design Council em 2005. Essa metodologia consiste em explorar um problema de forma mais ampla e depois focar em ações, para no final entregar ao usuário uma solução que atende suas necessidades. O diamante duplo (ilustrado abaixo) é dividido em quatro fases: Descobrir, Definir, Desenvolver e Entregar.

Esquema do diamante duplo com suas etapas.
Diamante duplo — adaptado pela autora

Descobrir

Ainda no início do projeto, construímos uma matriz CSD (Certezas, suposições e dúvidas, que está ilustrada abaixo para alinhar os conhecimentos e entender o que iríamos investigar na pesquisa com as usuárias.

imagem do miro 3 colunas (certezas, suposições e dúvidas) preenchidas por vários post its
Matriz CSD

Pesquisa qualitativa

Entrevistas em profundidade

Para entender a problemática e conhecer sobre o público, fizemos 7 entrevistas com mulheres identificadas como negras, na faixa etária de 18 a 40 anos, moradoras das periferias de Recife-PE e foram realizadas via plataformas zoom e Google Meet. A entrevista foi dividida sob dois vieses:

  • Mulheres em busca de recolocação no mercado de trabalho
  • Mulheres que já estavam alocadas no mercado
Gif da interface do miro, com setas mudando post its de lugar.

Com os resultados das entrevistas, recolhemos o material bruto em um board e fomos extraindo insights e levantando hipóteses. E por fim aplicamos o “como poderíamos?”, selecionando essas duas questões para nos guiar no desafio:

  • Como poderíamos auxiliar na contratação de mulheres sem experiência nas áreas e facilitar o treinamento por parte das empresas?
  • Como poderíamos incentivar as empresas a construírem espaços mais acolhedores?
imagem do miro, com 5 colunas (Informação bruta, conclusões, hipóteses, insights, como poderíamos) preenchidas com post its

Insights

Descobrimos que nosso público são sim pessoas que possuem formações, experiência e que são capacitadas. A elaboração de currículo e o uso de plataformas digitais não são uma barreira para elas. O que todas reclamam são de processos seletivos ruins, que não retornam sobre o resultado e nem apontam onde elas podem melhorar, causando frustrações e inseguranças. Elas também se sentem pressionadas a seguir um padrão estético e quando contratadas, enfrentam outras pressões e estresses no ambiente corporativo.

Definir

A partir dos conhecimentos adquiridos com as pesquisas com as usuárias, identificamos um perfil de pessoa usuária que chamamos de Evelyn. Ela é uma mulher negra e jovem, tem 27 anos e mora em Recife. Evelyn é estudante de Análise de sistemas, mas atualmente trabalha com telemarketing. Ela procura oportunidades em sua área de formação, mas ainda não foi aceita por nenhuma das empresas de tecnologia como seus colegas homens do mesmo período do curso. Ela disse que já passou por diversos processos seletivos, mas não recebeu resposta.

Para entender como Evelyn se depara com esse processo, construímos um mapa de empatia, uma protopersona e desenhamos sua jornada na busca de sua migração de carreira.

esquema do mapa de empatia com o objetivo da persona “conseguir um emprego sem ter experiência profissional naquela área”
Mapa de empatia
Foto de uma mulher negra jovem sorrindo, descrições demográficas, pensamentos, comportamento, dores e necessidades e desejos.
Proto persona
Tabela de 8 colunas sobre a jornada de Evelyn na busca de oportunidades de migração para a área de formação.
Jornada do usuário

Um dos principais pontos do projeto foi quando criamos a persona e visualizamos que em sua jornada os momentos de mais emoções negativas são ao esperar atender às expectativas da empresa. Neste momento entendemos que as dores são da Evelyn, mas não é a partir dela que vamos resolver este problema.

Acreditamos que as empresas que devem se responsabilizar a resolver a equidade de oportunidades, devem investir na diversidade do seu negócio e na educação de seus colaboradores para conviver com as diferenças. A partir deste momento, decidimos optar pela elaboração de uma solução pensada para as empresas que desejam atender essa deficiência de diversidade.

Nosso propósito

Com base nesses insights, definimos como foco principal gerar impacto na comunidade e nas empresas, através de:

  • Número de mulheres negras, pardas e indígenas que serão contratadas;
  • Números de mulheres negras, pardas e indígenas que terão cargos de liderança nas empresas;
  • Números de ações sobre diversidade dentro das empresas

Elaborar

Para elaborar a solução realizamos uma sessão de ideação nomeada de Crazy 8’s por chamada de vídeo e depois os resultados eram expostos no board online para visualização do grupo e votação das melhores ideias.

9 imagens de papéis com desejos e texto feitos a mão, alguns gráficos estrelas agrupados em algumas partes.
Soluções resultantes do Crazy 8's

Como a solução foi criada para empresas, o perfil de usuário final mudou, no caso para pessoas de recursos humanos. Porém, por causa do tempo não tivemos a chance de realizar a pesquisa com elas, mas decidimos envolvê-las na validação da solução.

Validação

Para definir o que seria validado no protótipo, no pouco prazo que tínhamos, aplicamos o método “é ou não é, faz ou não faz” e também priorizamos a partir de uma matriz de “impacto x esforço”. Com isso, conseguimos estruturar um fluxo de usuário e assim criamos de forma colaborativa no miro, um wireframe (ilustrado abaixo) para validar a solução com os usuários finais, no caso, as pessoas de recursos humanos de empresas de tecnologia.

7 imagens de esquemas da interface em preto e branco, chama-se wireframe.
wireframes

Devido ao tempo reduzido para entrega, a validação foi realizada com apenas 2 usuários finais, profissionais da área de recursos humanos. Porém, conseguimos obter feedbacks relevantes para a proposta de solução. Apontaram a solução como muito útil para empresas que já estão buscando trabalhar a diversidade, mas ainda faltava algo atrativo para empresas mais tradicionais. Ambos conseguiram utilizar a plataforma, mas pela observação da gravação verificamos pontos de melhoria de usabilidade . Ambos consideraram o formulário simples de preencher e também apontaram como desejáveis os serviços de formações que seriam oferecidos.

Guia de estilo

Criamos um guia de estilo (ilustrado abaixo) para dar unidade a interface e também se comunicar melhor com o público alvo. O guia foi composto por especificações de design dividido em: cores, componentes e tipografia.

Grupos de elementos de especificações da interface, componentes, cores e tipografia.
Guia de estilo de interface

Protótipo de média fidelidade

Após a validação, criamos um protótipo de média fidelidade no figma com arquitetura da informação e identidade visual aplicada, mas não continha interações animadas. Infelizmente o protótipo não pode ser testado devido ao prazo de entrega.

4 imagens do site do projeto, com o estilo aplicado.
Protótipo de média fidelidade

Entregar

imagem com vista superior de uma pessoa negra com celular no ouvido e de frente para o computador, com a interface do projeto

A solução

A negritar é uma consultoria que ajuda empresas, inicialmente de tecnologia, a alcançar bons índices de Diversidade e Inclusão étnico/racial e de gênero dentro da empresa e fornecer a certificação de bons resultados.

Como fazemos isso?

Computador com a interface do formulário sendo exibida na tela, com fundo cinza.
Mockup do formulário

A partir de formulário simples e gratuito baseado em métricas internacionais de D&I (Diversidade e Inclusão) dizemos o nível em que a empresa se encontra;

Computador com a interface do catálogo de treinamentos sendo exibida na tela, com fundo cinza.
Mockup do catálogo de treinamento

Formamos colaboradores de empresas para promover D&I étnico-racial e equidade de gênero, dentro quadro de funcionários na empresa;

Formamos colaboradores sobre diversidade para construir um ambiente saudável através de treinamentos temáticos;

Certificamos quais empresas têm números e ações de diversidade e inclusão em suas empresas.

Certificação Negritar

Para uma empresa que deseja receber a certificação da Negritar, deverá passar pelas seguintes etapas:

Conhecer a Negritar, Identificar seu nível de DI, Comprovar o nível de DI, Receber consultoria e Receber a Certificação.

Gráfico com as 6 etapas da certificação da negritar divididas em caixas cinzas e sua numeração no canto superior esquerdo.
Etapas da certificação

Conclusões

Esse projeto foi apresentado em um pitch no encontro final da Discovery Week para todas as participantes, madrinhas e banca avaliadora, recebendo feedbacks bastante construtivos.

Neste processo, eu pude praticar minhas habilidades e explorar novas. Escolhendo processos metodológicos, planejando a pesquisa, elaborando questionamentos, realizando entrevistas e testes; e também observando, tratando os dados e extraindo insights. E o mais importante, foi trabalhar coletivamente e mesmo assim manter a consistência no propósito final.

Gostaria de agradecer a madrinha da equipe, Renata Bastos, por toda dedicação, cuidado e trocas de conhecimento. Também à organização pelas colaboradoras da ZUP Innovation e também a parceria com a UXMP. Também a todas que participaram da pesquisa e também a Gabriela Augusto e Henrique Valentim da empresa Transcendemos. E por fim, gostaria de agradecer imensamente às mulheres incríveis que fizeram parte dessa equipe. A dedicação de vocês foram essenciais para esse projeto fluir muito mais que o esperado.

Este projeto também está disponível no meu Behance.

Se você gostou, quer dar sugestões ou críticas construtivas comenta aqui!

Você pode me encontrar no meu LinkedIn e também no meu Instagram como: @ux__edilenemendes

--

--