O que Raya e o Último dragão tem em comum com UX Writing?

Sete pontos de interseção entre a animação da Disney e o campo de atuação da pessoa UX Writer.

Larissa Fiães
UXMP
7 min readAug 3, 2021

--

Imagem via Wall Alphacoders

No mês de julho deste ano, graças à parceria da Mergo com a UX para Minas Pretas, pude participar do 16º Workshop sobre UX Writing ministrado pela Cris Luckner. A partir disso, fiquei o restante do mês digerindo os conteúdos que foram passados naquele fim de semana de imersão tão especial.

O processo foi tão intenso que comecei a ver pontos de interseções entre UXW e a animação que assisti recentemente: Raya e o Último Dragão. Sabe aquele meme: “Com que frequência você vê UX Writing nas coisas? O tempo todo”. Sou eu ultimamente.

Antes de iniciarmos, veja em qual das opções abaixo você se aplica:

  1. Já assisti ao filme: Vá direto para o item 01 Storytelling e UXW;
  2. Não assisti, mas não quero ver spoiler: Pause a leitura desse artigo e depois volte;
  3. Não ligo para spoiler, mas quero entender o contexto: Siga a leitura daqui em diante então 😊

CONTEXTUALIZANDO:

“Raya e o Último Dragão” é ambientado na região fictícia de Kumandra. Nesse lugar, existem cinco reinos: Coração, Garra, Presa, Espinha e Cauda. Deduz-se que esses reinos juntos, formam a imagem de um dragão, pois houve um tempo em que dragões e humanos coabitavam em Kumandra.

Daí você pode perguntar: Mas o que aconteceu com os dragões? Pois bem, os dragões tiveram de se sacrificar em prol da humanidade. O motivo? O aparecimento de uma força maligna chamada Drunn, a qual petrificava todos os seres. Para amenizar esse processo, os dragões produziram um orbe mágico (uma espécie de joia/bola de cristal) e assim, a humanidade ficaria segura sem o ataque dos Drunns.

Tudo estava perfeito e seguro até o reino guardião da joia (Heart) convidar os integrantes dos outros reinos para uma festa.

Em certo momento do evento, aconteceu uma confusão e a joia, até então intacta, se desfragmentou. Cada reino ficou com um pedaço daquela joia, o que deu margem para os malignos Druuns reaparecerem e transformarem todos em pedra.

Daí que todos morreram e o filme acabou? Quase isso.

Raya, junto de seu Tuk Tuk (seu mascote) foi atrás de Sisu, a última dragão que estava adormecida em algum lugar, para pedir ajuda e recuperar todas as partes desse cristal e “desempedrar” todos os que estavam encantados, além de salvar toda a humanidade do ataque dos Druuns.

Estamos contextualizados? Então vamos para a próxima seção.

1. Storytelling e UX Writing

Imagem via Wall Alphacoders

Storytelling ou, no nosso bom português, narrativa, é o hábito de contar histórias. Ué, mas UX Writing não é só sobre microtextos para telas? Sim, se vermos apenas a superfície do que é UX Writing. Não, se pensarmos que ele vai muito além do que isso.

Como dito em “Sapiens: uma breve história sobre a humanidade”, o ser humano só evoluiu e está na ativa até hoje por conta de uma coisa: Fofoca. Sim, fofocas são histórias (verídicas ou não) sobre pessoas ou coisas. Além disso, temos também os desenhos rupestres para embasar que histórias nos acompanham há muito tempo.

Cris Luckner usou uma frase muito interessante que faz total sentido:

A gente lembra do que a gente sente!

Portanto, nesse sentido, o objetivo do Storytelling no UXW é guiar e instruir a pessoa usuária por determinados caminhos de modo fácil e prazeroso como se de fato estivesse lendo uma história.

Tanto um produto quanto um filme possuem um percurso semelhante quanto a narrativa. Conforme podemos observar no quadro abaixo:

Fonte: Donna Lichaw, A List Apart

2. UX Writing é sobre resolver problemas

No filme, vemos toda a Kumandra prestes a desaparecer e ser invadida pelos Drunns a ponto de todos os que ali habitavam, virarem pedra. Agora vamos para o UXW, como seriam essas pessoas usuárias do seu produto “petrificadas” sem saber para onde ir diante de um botão mal colocado ou uma mensagem de erro que mais complica do que ajuda?

3. Testes e pesquisas

Pode parecer impossível, mas às vezes você só precisa dar o primeiro passo, antes mesmo de estar pronto. — Sisu

No início da animação, Raya mostra a pedra preciosa para a princesa Namaari, de Garra. Por conta desse ato, ocorre um grande rebuliço e a joia se parte em vários pedacinhos. Ou seja, Raya deu seu voto de confiança para Naamaria que, infelizmente, descartou.

No UX Writing é a mesma coisa. As pessoas usuárias, nos dão um voto de confiança clicando em nossos sites, baixando nossos aplicativos ou comprando nossos produtos.

A grande questão é: como sabemos se estamos nos apresentando como confiáveis ou não e mais: o que garante que essa pessoa permanecerá usando nossos produtos/serviços?

A resposta? Fazendo testes e pesquisas!

Vou mostrar aqui alguns muito úteis:

· Teste A/B — Esse é o mais famoso, dos inúmeros testes que podemos fazer. Consiste em aprender com os comportamentos da pessoa usuária e a partir disso experimentar soluções para o campo das experiências com os produtos prestados;

· Teste de Cloze — Segundo Jakob Nielsen: Os testes Cloze fornecem evidências empíricas de como um texto é fácil de ler e entender para um público-alvo específico — medindo a compreensão de leitura, não apenas uma pontuação de legibilidade.

· Framework HEART — Para combinar com a terra de Coração do filme, essa ferramenta é um acrônimo em inglês de (Felicidade, Engajamento, Adoção, Retenção e Sucesso na Conclusão de tarefas)

*Deixarei no final desse artigo alguns links que abordam melhor sobre esses testes**

4. Comunicação é essencial

No início da animação, Raya vai até Sisu em busca de ajuda, para irem buscar os fragmentos e unir a joia novamente. Porém, quando se trata dos outros personagens, Raya tem dificuldade em confiar e compartilhar as ideias. Somente com o decorrer do filme que a jovem começa a recrutar os demais personagens a ponto de montar uma equipe multiregional.

5. Diversidade e pluralidade

Imagem via Wall Alphacoders

Se você pretende trabalhar como UXW ou implementar essa área na sua empresa, saiba que:

Quanto mais plural for o seu time, melhor. Assim, diferentes pessoas, com diferentes histórias e vivências, poderão trazer diferentes percepções. Por isso, quanto mais pessoas negras, pardas, indígenas, LGBTQIA+, PcDs, melhor.

Em Raya, temos um garotinho empreendedor, uma bebê charlatã com mais 3 macaquinhos, uma dragão, um guerreiro e uma princesa/guerreira. Querem mais diversidade que isso para se espelhar?

6. UX Writing é um elo

Imagem via Wall Alphacoders

Como dito pela Cris Luckner “dificilmente veremos uma pessoa de UXW parada” essa pessoa é a responsável por ter uma visão holística de todo um produto, pois ela está sempre em contato com designers, programadores, atendimento, time de CX e por aí vai. Por ter essa visão geral, a pessoa de UXW, acaba sendo um elemento de união entre os times, através da comunicação.

Nesse sentido, no filme, quem ocupa esse papel de união entre as tribos é Sisu, pois mesmo quando alguns personagens não se entendem, ela se coloca como mediadora entre ambas as partes.

Além disso, Sisu consegue ocupar diferentes formas, o que só enfatiza o poder de se colocar no lugar do outro, literalmente…a famosa empatia. Isso possibilita entender diferentes times, suas dores e a partir disso, buscar pontos de interseção para unir toda a tribo, ou seja, juntar todos os fragmentos (times) para restaurar a joia de Kumandra.

7. Senso de comunidade

Nós temos escolha. Podemos nos separar ou podemos nos unir e construir um mundo melhor. Não é tão tarde. — Cheif Benja (Pai de Raya)

Quando você é UXW (ou qualquer outra profissão, na verdade), você deve “pendurar o ego atrás da porta”, como Bruno Rodrigues costuma dizer. Você projeta para pessoas (usuárias) com pessoas (time) e não apenas para si.

No filme, Raya demora, mas consegue entender que Kumandra não era apenas sobre ela ou sobre Sisu, mas sobre toda uma comunidade, toda a humanidade. Sozinha ela não conseguiria alcançar o objetivo, além disso, é necessário confiar nas pessoas e interagir com elas. Afinal, ninguém consegue se divertir no bloco do Eu sozinho, à la Los Hermanos, não é?

uma reflexão: O que você está fazendo hoje para os Drunns não “empedrarem” o caminho da pessoa que usa seus serviços/produtos?

Bom, se você leu até aqui, deixo o meu muito obrigada ❤

Caso goste de um pós-créditos, minha pipoca já acabou, mas a prosa não. Te espero lá no LinkedIn (linkedin.com/in/larissa-fiães-1b7535142)

Links úteis para aprender mais sobre testes de usabilidade

https://medium.muz.li/cloze-testing-the-leading-ux-test-for-content-comprehension-87e03923362b

--

--

Larissa Fiães
UXMP

UX Writer | Sommelier das palavras ✨✍🏽