O que uma UX vai fazer em um evento de marketing?

Quando se fala em design ou em qualquer área relacionada ao consumidor, eu me vejo atraída quase que imediatamente a analisar outros assuntos que nem sempre são levadas em consideração quando estamos projetando alguma solução.

“Mas UX não precisa saber de Marketing, de Branding, de CX ou Tecnologia”.

Será? Uma coisa é você ter conhecimento sobre determinado assunto.
Aqui não estou entrando no campo do especialista.

Vendo, ao decorrer da minha trajetória, a importância do relacionamento entre essas áreas, me surpreendo quando o MMA Impact Brasil traz uma palestra sobre: UX, CX e growth: como equilibrar crescimento, tecnologia e visão de negócios nas experiências digitais.

“Opa, eles estão relacionando CX com crescimento, tecnologia e visão de negócios. Qual foi a última vez que falei com a área de atendimento daquela empresa antes de finalizar um projeto?”

As manhãs e as tardes passaram muito rapidamente, quando percebi, já estava no último dia do evento, ouvindo Flausino & Sideral cantando Cazuza.

Algumas perguntas que permeavam e ainda permeiam a minha mente foram respondidas por líderes das maiores empresas do Brasil — que honra!

Um fato: a forma de consumir mudou, mas qual a próxima aposta?
De palestra em palestra, a palavra “retail mídia” era repetida.

“Meu Deus, o que é isso?”

Descobri que é possível reforçar o reconhecimento de marca e a recorrência de compras em plataformas como Mercado Livre, Shopee e Amazon.

Talvez realmente faça sentido. Compradores já estão dentro dessas plataformas para fazer uma compra. Por que só pensamos em soluções próprias ou dependemos quase que 100% do Google?

Me peguei divergindo de uma maneira não óbvia.
E você aí, pensou que fosse só construir uma tela?
Eu também quase caí nessa, confesso!

Empresas de produtos físicos, como a Heineken e a P&G, entenderam que elas são boas em produzir. Agora, para fazer entrega efetiva e com qualidade para o consumidor deste produto, já existem outros líderes de mercado que eles não querem e não precisam brigar.
Todos têm espaço para crescer.

A pergunta a ser feita é: será que alguém que já é líder em algum segmento que complementa a jornada do meu usuário pode me ajudar nisso?
A resposta provável para essa pergunta será: sim!

• O que é projetar uma experiência de ponta a ponta se não levarmos em consideração todos os pontos de contato daquele usuário?
• Do que adianta o meu protótipo seguir todas as regras ou respeitar a heurística de Nielsen se a comunicação não é capaz de se conectar com o seu público potencial?
• O que é fazer diferença na vida das pessoas? Por onde elas consomem?

Sim, eu ainda estou tentando digerir todas as respostas que ouvi!

Um case em específico me chamou atenção.

#deixafluir, ouvi-lo das suas idealizadoras me mostrou como é importante, não apenas ter um produto que faz parte da rotina das pessoas, mas que se conecta com o público em profundidade.

Qual a essência daquele problema que estamos tentando resolver?
Quais conversas estão presas no silêncio?

A dignidade menstrual é um tabu, mas que já vinha sendo discutida através do TikTok pela nova geração. Carefree e Sempre Livre se juntam para trazer um assunto que estava preso no silêncio das mulheres das gerações anteriores onde as palavras como “sangue” eram proibidas de serem faladas.

As mulheres trans também ganharam voz e puderam compartilhar dores que nunca foram verbalizadas! Duas empresas deixam de lado qualquer prêmio para colocar o usuário à frente.

Vai me dizer que isso não é UX?
O UX pensado de uma forma não óbvia.

E você acha que essa saída veio enquanto elas estavam com alto faturamento? Não, a queda em vendas deste produto durante a Pandemia foi assustadora e na escassez ambas, juntas, encontraram uma solução onde o mais importante era:

O que é realmente relevante?
Como se conectar com as novas gerações e aquelas que estão silenciadas?
Como impactar e incomodar ao mesmo tempo?
Qual é a verdadeira dor por trás de uma pessoa que usa absorvente?

Às vezes a inovação não está no produto, mas na forma com que você o comunica, quais as causas que você defende, qual a cultura da empresa em que você trabalha, o quanto você pode ajudar para a construção de uma sociedade melhor?

UX para Minas Pretas

Claro que as respostas às perguntas complexas vêm, em grande parte, de eventos muitas vezes pouco acessíveis devido ao custo dos ingressos, mas diante dessa barreira, existem iniciativas que querem permitir que mais pessoas negras ingressem em espaços que antes eram inacessíveis.

UX para Minas Pretas é um desses projetos que me deu a oportunidade de divergir fora da bolha e que pretende levar mais mulheres negras para espaços e ambientes onde elas estavam, muitas vezes, apenas servindo.

Ainda existem episódios lamentáveis. Este evento não ficou atrás, quando ainda vemos a cor da pele ditar onde você deve estar. O fato? Mais uma vez, um homem negro vestido de preto foi confundido com o segurança do local.

Esse não foi apenas um evento para falar de marketing, foram dois dias para ouvir sobre identidade, autenticidade e pertencimento!

Quais são os meus valores insubstituíveis?
Eles se conectam com a empresa que estou hoje?