UX e o "mundo offline"
Em julho, participei do UX Weekend, um curso online da Mergo sobre os primeiros passos na rotina de UX Designer. O Edu Agni, professor da maratona de 2 dias, falou logo no início sobre algo que poucos se atentam, UX é sobre o usuário e não sobre o produto ou interface, logo também cabe para algo que não seja digital.
UX está em todos os lugares
Muitas pessoas que já atuam como designer iniciam em UX para dar continuidade a processos que já realizavam, outros vêm de áreas diversas, atraídos pela construção de soluções digitais. Desta meneira, isso me fez pensar, com base no que diz Donald Norman:
UX não diz respeito apenas a interação direta que uma pessoa tem com um produto, mas sim a todo o ciclo de interações dessa pessoa com uma marca, produto ou serviço.
Pensando nisso, quantas marcas estão no seu cotidiano fora da web? Vamos pensar na Gillette, marca tão popular que virou sinônimo de lâmina de barbear. No site da empresa é nítida a preocupação com o cliente em cada lançamento. Lendo sobre a história é possível identificar todas as etapas de um processo de design thinking.
As etapas de design thinking aplicados à jornada do usuário
Empatia
King Camp Gillette, como todos os homens da época, tinha o hábito de ir ao barbeiro. Este tinha que ser uma pessoa de confiança para passar sua navalha afiadíssima pelo rosto e pescoço do cliente.
Em suas visitas ele percebeu que apenas a ponta da lâmina era usada e esta precisava ser amolada periodicamente. Além disso, enquanto trabalhava em uma fábrica de tampas ouviu que deveria criar algo descartável, mas que fosse necessário adquirir novamente. Da união dessas informações surge a necessidade do usuário: uma lâmina pequena, descartável, fácil de usar, segura e que economizaria tempo e dinheiro.
Definição
Para ele, todos os homens adorariam ter um produto tão prático. A proto-persona de Gillette era o homem que cuidava da barba, indo ao barbeiro toda semana por não saber usar a navalha sozinho. Esta pessoa tinha que buscar um horário de intervalo no trabalho para se deslocar até a barbearia e depois ficar atento até que o pelo tivesse o tamanho ideal para realizar uma nova sessão de beleza.
Ideação
Algumas pessoas disseram que não seria possível produzir uma lâmina de aço fina, dura e suficientemente barata. No entanto, ele encontrou William Emery Nickerson, inventor que acreditou na ideia e o ajudou a desenvolver o produto.
Prototipação e testes
Eles passaram 2 anos criando versões do produto. Uma delas foi lançada no mercado e vendeu apenas 51 unidades. Depois do fracasso e mais alguns protótipos e testes, alcançaram a versão que ganhou o mundo durante a I Guerra Mundial.
Nem tudo é, e está online
Durante o curso, o objetivo do meu grupo era buscar uma solução para venda de alimentos, para quem tem intolerância a glúten e/ou lactose, em bairros longe do centro de São Paulo.
A tarefa era para a criação de um aplicativo, mas após a fala do Edu, pensei como seria um produto que não exigisse tanta habilidade tecnológica do usuário e fiz minha solução em paralelo.
Um carro como o antigo sacolão volante (bem popular até hoje no Rio de Janeiro), um ônibus que em cada dia da semana estacionava e realizava a venda de frutas e legumes em um endereço, porém com os alimentos adequados para a dieta restrita. O máximo de tecnologia necessária seria avisar aos cadastrados sobre os produtos que estariam disponíveis na próxima semana através de um flyer digital.
Produtos digitais ainda trarão muitos recursos para resolver problemas que pareciam sem saída, mas também muitas outras histórias poderiam ser contadas desta forma se não nos prendêssemos tanto ao mundo digital.