UX/UI Case: NEGRITAR — Reduzindo o racismo estrutural no mercado da tecnologia

Fernanda Paixão
UXMP
Published in
9 min readDec 19, 2020

Nesse projeto analisamos e propomos uma solução, com base em estudos, para termos mais diversidade e inclusão no ambiente corporativo.

Em Agosto de 2020, fui selecionada para participar do primeiro Discovery Week da Zup Innovation em parceria com a UX para Minas Pretas.
Foram 5 temas e 20 mulheres negras de vários estados e vivências diferentes.
Fiquei no time 3, juntamente com as maravilhosas Edilene Mendes,
Mikaela Alencar e Neide Lucanga. No processo fomos acompanhadas
por uma madrinha incrível, Renata Bastos;

O nosso desafio:
Como podemos ajudar a reinserção de mulheres, em situação
de vulnerabilidade socioeconômica, ao mercado de trabalho.

Desk Research

Em meio a crise socioeconômica e política no Brasil, os números não deixam passar despercebido qual o perfil mais atingido na precarização do país. As mulheres brasileiras, muitas vezes responsáveis financeiramente por suas famílias, não conseguem um emprego de carteira assinada e garantia dos seus direitos. Visualizando a pesquisa do PNAD — (Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), temos a taxa de desemprego de 16,6% entre as mulheres negras, enquanto as mulheres brancas é de 11% e dos homens negros entre 12,1% e homens brancos é de 8,3%.

Diante desses números se faz necessário fazermos um recorte racial, já que a quantidade de mulheres negras desempregadas é maior e elas se concentram nos empregos mais vulneráveis. Porém, segundo o IBGE houve um aumento expressivo no número de pretas e pardas (10.4%) com o ensino superior concluído. Mas mesmo com um bom nível de escolaridade a inclusão dessas mulheres em cargos de chefia em empresas são raros e carregam um histórico cruel. O racismo estrutural demonstra que a problemática é além dos esforços que essas mulheres fazem para alcançar uma vaga. Fatores como características físicas, vestimentas determinam a ocupação da vaga por pessoas de outros grupos raciais.

Objetivo do projeto

De acordo com as informações pontuamos os seguintes objetivos:

  1. Número de mulheres negras e pardas contratadas;
  2. Números de mulheres negras e pardas que terão cargos de liderança nas empresas.
  3. Números de ações sobre diversidade dentro das empresas;

Com o intuito de implementar melhorias dentro das empresas e mercado da tecnologia, relacionadas a diversidade, focando no aumento significativo das contratações de mulheres negras e pardas. Minimizando os prejuízos causados por essa dívida histórica com as mulheres negras brasileiras, decorrente do racismo/machismo estrutural.

Perfis

Pensando no contexto do cenário atual, os perfis levantados no projeto são as mulheres negras entre 20 à 40 anos que estão desempregadas ou em busca de migração para a sua área de atuação; Entendendo as suas necessidades e dores, buscando as oportunidades de fazer com que as empresas enxerguem, diante das suas habilidades profissionais, potenciais contratações;

  1. A mulher negra que está buscando uma oportunidade para a sua área de formação
  2. A mulher negra que está buscando uma oportunidade em qualquer área

Pesquisa

Fizemos uma pesquisa quantitativa e qualitativa, no intuito de buscar mais informações sobre os perfis considerados relevantes para o estudo, sendo esses mulheres negras em busca de oportunidade e mulheres negras em busca de migração para a sua área de formação.

Aplicamos um formulário para mapear dados

Entrevistamos, via chamada de vídeo, sete mulheres com perfis condizentes ao que identificamos como principais.

De acordo com os dados que foram coletados, consideramos suficientes para continuarmos com os estudos.

Board de Aprendizados/Insights de pesquisa

Para tabularmos os resultados das pesquisas quantitativa e qualitativa, optamos por fazer um board de aprendizados e insights, otimizando o tempo e facilitando a visualização das dores para o próximo passo do processo de research.

O board tem a função de transformar a informação bruta em conclusões. As conclusões em insights. Os insights em hipóteses. E com as hipóteses fizemos o “como poderíamos?” para conseguirmos delimitar o problema que queríamos trabalhar. Por fim, fizemos uma votação entre o grupo para decidirmos por meio de uma votação qual seria o caminho viável que seguiríamos;

Como poderíamos auxiliar na contratação de mulheres sem experiência nas áreas e facilitar o treinamento por parte das empresas?

Mapa de empatia

Com os dados tabulados e os cards do “como poderíamos?” definido, decidimos criar um mapa de empatia para identificarmos o que pensa, sente, ouve, faz e fala. Também visualizando dores, necessidades e desejos dos perfis abordados.

Persona

As pesquisas foram fundamentais no processo de criação de cada persona, identificando de forma mais nítida a compreensão das dores e potenciais soluções.

Contexto do usuário

Persona principal (Evellyn Moraes)

Era uma vez, Evellyn, uma mulher negra e periférica, que estudava e amava tecnologia e sempre estava atualizada dos assuntos. Iniciou sua carreira no telemarketing. E tinha muito interesse em migrar para sua área de formação.

Todos os dias Evellyn buscava vagas em sua área de TI e encontrava muitas com seu nível de conhecimento; No entanto, não tinha sucesso de ser contratada por nenhuma empresa que realizava as entrevistas.

Até que um certo dia, ela foi entrevistada para uma vaga perfeita. E além de ficar encantada com o tratamento do entrevistador, foi selecionada. E se identificou até com a sua chefe que era preta igual a ela.

Por causa disso, Evellyn ficou mais animada e estimulada com a sua carreira profissional e buscava a cada dia estar mais atenta sobre as atualizações da área.

Até que finalmente, ela conseguiu conquistar o seu sonho de conseguir as vagas dos sonhos e de ajudar financeiramente a sua família.

Jornada da usuária

Com o estudo da jornada do usuário identificamos que seria uma oportunidade estruturar a empresa para receber essas profissionais. Pois por mais que essas mulheres fossem estimuladas e mais preparadas para o mercado, as empresas teriam que saber acolher, receber e contrata-las; Definimos que a área que queríamos fazer esse recorte seria das mulheres que estão em busca de oportunidade no âmbito da tecnologia.

Benchmarking

Selecionamos sete empresas concorrentes (Currículo para Elas, Programas de Treinee, Mentora, Inboarding, Programa Vencer, Projeto Cruzando Histórias, Tem Saída), para analisarmos e entendermos a forma de estruturação das suas funcionalidades.
Mapeamos alguns serviços e funções que estavam presentes nas plataformas, sendo:

  1. Público alvo específico
  2. Serviço gratuito
  3. Formulários para inscrições
  4. Avaliação curricular
  5. Treinamentos/mentoria

Ideação

Partimos para a etapa da ideação onde colocamos as ideias, que foram embasadas com a pesquisa, no papel. Utilizamos o método do crazy 8’s com o intuito de explorarmos o máximo de ideias possíveis. E realizamos uma votação para definirmos, de acordo com o objetivo do projeto, a solução que deveríamos abordar. Seguindo com o intuito de estruturar as empresas para receber essas profissionais do âmbito da tecnologia, escolhemos soluções que trabalham:

  1. Formação para as empresas e funcionários relacionados a temática diversidade;
  2. Certificação e analise de nivelação dessas empresas, com relação a diversidade;

Board funcionalidades priorizadas

Logo após, fizemos um board de funcionalidades priorizadas para visualizarmos e definirmos, de acordo com a plataforma que queríamos criar: “O que é?”, “O que não é?”,O que faz?” e “O que não faz?”

E assim criamos uma matriz de impacto/esforço com o objetivo de avaliarmos quais as soluções de prioridade nesse universo de possibilidades. Com a matriz, definimos que iríamos priorizar as seguintes funcionalidades dentro da plataforma: certificação, o formulário de cadastro com informações da empresa para analise de níveis;

Análises de Certificações

Para entendermos como funciona as certificações fizemos um outro benchmarking, dessa vez focado na visualização das etapas de uma certificação; Escolhemos três empresas concorrentes, sendo elas:

• Certificação Guia de rodas — é um programa que reconhece as melhores práticas de acessibilidade. Ela se baseia na premissa de que acessibilidade deve ser vista como um exercício contínuo e no conceito de que “ambientes acessíveis” são compostos pela estrutura física e pelas pessoas.
• Selo Paulista da Diversidade — é uma certificação dada a organizações públicas, privadas e da sociedade civil. Com objetivo de estimular essas organizações a inserir este assunto na sua gestão de recursos humanos
• Sistema EDGE, Excellence in Design for Greater Efficiencies — é um programa de certificação de edificações desenvolvido pelo IFC, membro do Grupo Banco Mundial; Visa otimizar a eficiência em recursos do projeto e desmistificar a construção sustentável.

Após analisarmos como era feito a certificação no mercado, criamos a nossa estrutura de certificar as empresas; Com o objetivo de avaliarmos suas conduta com relação a contratação de funcionárias negras e pardas.

A certificação do Negritar funcionará da seguinte forma:

  1. A empresa passa por um formulário com questões relacionadas aos seus contratados. E que será informado o seu nivelamento, com base nas informações passadas.
  2. A empresa passará por uma comprovação dos dados informados
    - Será feita uma entrevista com os colaboradores
    - Uma visita de auditoria externa, onde será comprovado de forma visual e com documentos a diversidade daquela empresa.
  3. A empresa recebe a certificação
  4. E, de acordo com o seu nível, em acesso a treinamentos online/presencial

Wireframe

Para a criação do wireframe, debatemos coletivamente sobre as funcionalidades da plataforma, de acordo com os objetivos do projeto e o que foi definido nas etapas anteriores.

Acesso ao Wireframe

Fluxo definido

Style Guide

Chegando nas etapas finais desse processo é a hora de definirmos as cores, tipografia e estilo e assim aplicar ao nosso protótipo de alta fidelidade.

Cores

Definimos quatro principais cores: Laranja, Roxo e Cinza, essa combinação desperta um sentimento vibrante e conversa diretamente com a publico da tecnologia.

Tipografia

Utilizamos a mistura das tipografias Poppins e Roboto. Os tamanho foram definidos através da legibilidade e leiturabilidade. Definindo o peso tipográfico distintos para textos e títulos, assim como para botões.

Botões e Ícones

Criamos botões primários e secundários tendo como foco os momentos da interação do usuário. Os ícones foram pensados no estilo line art, com o intuito de suavizar a plataforma.

Protótipo de alta fidelidade

O protótipo de alta fidelidade foi criado com base na construção do wireframe. Com essa plataforma buscamos oferecer uma forma das empresas se analisarem com relação a diversidade no âmbito corporativo e aplicar conhecimentos adquiridos para combater, no cotidiano, o racismo estrutural de forma eficaz.

Home Negritar — Protótipo de alta fidelidade

Acesso ao protótipo de alta fidelidade

Por motivos do prazo do curso ser mais curto não foi feito teste de usabilidade nessa etapa;

Conclusões e aprendizados

Analisando os caminhos que percorremos para chegar até o nascimento do Negritar foi muito agregador de forma pessoal e profissional. O confiar nas metodologias de UX, pensando sempre no problema para encontrarmos a solução e o saber trabalhar com as decisões tomadas em grupo fizeram parte do resultado satisfatório do projeto.
Escutar e projetar uma problemática que é a realidade de todas do grupo, por vezes foi dolorosa e por outro lado a representatividade é muito significativa, pois lidamos com dores conhecida por nós.
A experiência do processo e partilhas foram essenciais para a nossa formação. Chegamos ao fim do processo com o entendimento de que o produto está sempre em constante evolução e estudos, mas que estamos muito felizes com o resultado até então.

Me encontre também aqui

--

--