Data-humanism: quando os algoritmos são mais humanos do que parecem

Icaro Ferracini
UX Santander
Published in
4 min readDec 16, 2018
Letícia Pozza trazendo questionamentos super importantes no Digital Talks

Na primeira semana de dezembro assistimos a 28ª edição do Digital Talks no Santander, um evento para fomentar discussões sobre temas de tecnologia que estão em alta. Nesse encontro pudemos assistir a palestra de Letícia Ange Pozza, líder de Ciência de Dados na Cappra Data Science, sobre vieses em algoritmos e big data.

Letícia é responsável pela conexão do negócio e dos projetos da empresa com a equipe no Brasil. Seu papel é traduzir a ciência para os negócios e sintetizar a informação, misturando design e tecnologia, para estimular e desenvolver a cultura analítica para as pessoas e organizações.

A seguir compartilho os aprendizados e questionamentos que Letícia trouxe em sua palestra:

Muito se fala sobre Data Science, mas e suas consequências?

Quando se fala em ciência de dados é muito comum as pessoas pensarem: é uma área nova e é o futuro do digital, existe muito mercado a ser explorado e há um enorme potencial para se ganhar dinheiro, etc...

Tudo isso está correto, mas quais são as consequências desse trabalho? Qual o impacto que essa área tem se algo sair do controle? Todos os profissionais deveriam tem essas preocupações em todos os projetos.

Um robô russo projetado para andar livremente foi encontrado na rua, causando um congestionamento, porque a porta do laboratório estava aberta e ele saiu do prédio onde o estudo era realizado

O que é um produto de dados?

Produto de dados é uma solução (ou conjunto de soluções) com base em informações e dados orientadas pela necessidade de negócios que otimizam a tomada de decisão. Esse produto deve indicar um caminho disponível para atingir o objetivo.

Um exemplo disso é o Waze, que nos diz qual é o melhor trajeto baseado em diversas rotas e outras informações que os outros usuários informam.

E existem tipos diferentes de produtos de dados para soluções diferentes:

  • Relatórios e análises
  • Monitoramento de informações em tempo real
  • Algorítimos que analisam situações

Ou uma junção de todas as opções acima.

Obviamente o mundo dos sonhos é uma inteligência artificial que indique qual é o perfil do meu cliente, o que ele está precisando que eu posso oferecer, qual o melhor canal para que eu atendê-lo, qual comunicação devo usar, quanto isso vai me custar e qual o lucro que terei com esse cliente.

Porém cada um dos produtos acima demanda um nível de aprendizado e, para subir ao próximo nível, o aprendizado e a complexidade aumentam, pois existem mais variáveis a serem analisadas. Não é um único caminho que a inteligência artificial tem que decidir seguir, mas diversas rotas que se intercalam ou não dependendo da grandeza de dados e informações.

Algoritmos devem aprender, mas nós estamos ensinando da forma correta?

Se nós não sabemos as respostas que queremos otimizar com a inteligência artificial, não é possível ensinar a máquina.

Pensando de forma simples, um produto de dados deve ter as seguintes etapas:

Receber dados > Treinar > Fazer testes > Passar por ajustes > Receber mais dados > Treinar mais > Fazer mais testes > Passar por mais ajustes > Receber ainda mais dados > …

E podemos ter diversos erros acontecendo nesse processo, por qualidade de código ou de qualidade durante o treinamento: situações que não foram imaginados, erros que não foram tratados, um hacker invadindo o sistema, erros de aprendizados, etc…

Se algoritmos aprendem, como nós estamos ensinando eles? Estamos ensinando máquinas de forma enviesada ou de forma justa?

Estamos direcionando o julgamento das máquinas por meio de vieses psicológicos, por exemplo:

  • O ponto de vista de quem esta ensinando o que é “melhor” em uma situação muda de pessoa para pessoa e da situação em que estamos
  • Quando o banco de dados usado na aprendizagem já é enviesado o ensinamento e funcionamento é inevitavelmente enviesado
  • A divergência de opiniões ou falta de conhecimento do que e diferente para nós, fazem nosso julgamento ser errado e pender para onde estamos mais confortáveis
Demasiadamente humanos: Temos 188 vieses cognitivos que regem nossas decisões e escolhas

Fora isso temos algumas formas de ensinar e não temos total conhecimento de todas elas, por exemplo:

  • Siga por determinado caminho (sem saber exatamente onde vai chegar)
  • Encontre um padrão nesses dados (sem saber se realmente existe um padrão)
  • Aprenda com esses dados que já estão classificados (mas talvez não tenhamos catalogado da forma mais adequada)

Então, como podemos ter certeza que a máquina está sendo justa com todas as pessoas? Sempre que selecionamos algo excluímos outra coisa, portanto, se selecionamos uma métrica, as outras são invalidadas. Todas as vezes que escolhemos, enviesamos a máquina.

Tomamos milhares de decisões por dia e os dados estão aqui para nos ajudar em algumas escolhas, mas eles podem estar nos enganando.

Será que realmente estamos preparados para ensinar máquinas a serem inteligentes ou estamos apenas reforçando vieses que nos dividem como seres humanos?

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Icaro Ferracini
UX Santander

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