SXSW 2019. Para onde ir, já sabemos. Quando e como, são as próximas respostas que procuramos.

Fares Saba
UX Santander
Published in
7 min readApr 17, 2019
Foto um dia antes do evento. Não tinha ninguém! Mas depois…

Depois de mais de um mês do festival, acho que tive tempo o suficiente para organizar as informações na minha cabeça, juntar minhas anotações e fazer um resumo do que foi a semana mais mind-blowing que vivi nos últimos anos.

Porque apesar de tudo o que já ouvi de pessoas que acompanharam o festival, vivenciar um evento desses, é experiência para vida toda. Afinal, algo que acontece a mais de 30 anos não pode simplesmente ser colocado no mesmo patamar de outros “eventos de tecnologia”.

Chegando em Austin

Para quem acha que desembarcar no Texas é sinônimo de interior de estado, com musica country, cowboys e rednecks, vai se surpreender! Austin, capital do estado e conhecida como a “capital da musica ao vivo”, já justifica sua reputação desde o desembarque. Em todos os restaurantes, bares, espaços abertos, qualquer cantinho disponível, é possível encontrar artistas e bandas despejando seu talento nos cada vez mais embasbacados turistas.

Sem contar que estava completamente contagiada pela atmosfera do evento. E que atmosfera! Expectativa altíssima a respeito do que viria pela frente, desde o saguão do aeroporto. Muitos grupos de amizades recém feitas, discutindo qual seria a agenda para o próximo dia, a seção mais aguardada, o keynote imperdível, as instalações descoladas que aguardavam a todos.

A propósito… Parênteses aqui! Um dos termos que eu mais ouvi era o tal do FOMO (fear of missing out). Confesso que não sou muito fã de buzz words e isso sempre soou como uma para mim.

Só que sentir na pele o que isso significa é outra coisa…

Falando do evento

Uma enxurrada de painéis, palestras, workshops e exposições, com nomes gigantescos e com temas absurdamente interessantes e instigantes, disputando o mesmo espaço na sua agenda, num pedaço da cidade onde a locomoção era facilitada pelas scooters, mas ainda assim impossível de garantir a presença, porque as filas eram enoooooooormes… OMG!!!!

Várias empresas de scooters para os participantes do evento

Já que citamos scooters (patinetes para os íntimos), a cidade estava EMPESTEADA delas. Umas 6 ou 7 empresas ofereciam esse tipo de transporte e permitiam que o last mile fosse percorrido de forma rápida, barata (a bagatela de 0,20 centavos o minuto) e prazerosa).

A propósito, Austin parecia ter sido projetada para transportes alternativos, mesmo antes de serem tão popularizados.

Resumindo… é muita coisa pra pouco tempo!

Depois do baque inicial, num fenômeno que gera uma outra sigla que acabei de batizar de DDD (deslumbre, depressão e decisão), tudo o que eu vi reafirmou muitas coisas e derrubou diversos paradigmas que enfrento no dia-a-dia.

Os assuntos foram extremamente diversos, mas uma pauta extremamente recorrente, que me chamou bastante atenção e que está em absoluta evidência, era relacionada a confidencialidade e utilização de dados pessoais.

Confidencialidade de dados

Discussões cada vez mais acaloradas, em especial em plataformas sociais, ditaram o tom dos painéis de personalidades como Elizabeth Warren (senadora e pré-candidata a presidência dos EUA) e Roger McNamee (autor do livro “Zucked” e principal mentor de Mark Zurkenberg). A facilidade com que as informações trafegam entre as empresas de tecnologia e o viés que a abordagem pode ter de acordo com o perfil e comportamento individual é aterrorizante.

Roger McNamee (autor do livro “Zucked” e principal mentor de Mark Zurkenberg)

A morte da privacidade também foi abordada na palestra de Amy Webb. Como já é possível explorar emoções vividas, gostos pessoais e até traços de personalidade para alimentar algoritmos e utilizar IA para produzir algo que certamente atinge (e até certo ponto manipula) o target.

Content Strategy

Ainda falando sobre comportamento e conteúdo, Jonah Peretti (CEO e Co-Founder do BuzzFeed) comentou em sua palestra sobre o quanto estamos tão conectados e ao mesmo tempo tão divididos. Como informações compartilhadas (e muitas vezes equivocadas) promovem o surgimento de verdades absolutas inexistentes, pelo simples fato de ganharem força através do engajamento.

Ao mesmo tempo, como as empresas conseguem se aproveitar de conteúdos relevantes e de qualidade são fundamentais para aumentar o trafego e a conversão, ao mesmo tempo que diversificarem seus negócios, criando necessidades e vendendo produtos que não são seu core.

Jonah Peretti (CEO e Co-Founder do BuzzFeed)

Um grande exemplo foi um case “da casa” que Jonah apresentou.

Case Cheesecake: views, engajamento, compartilhamento de resultados e mais… venda de produtos atrelados

Uma receita de cheesecake que tinha o intuito de ser mais um conteúdo altamente compartilhado como todos os que a empresa produz, trouxe um outro nível de engajamento, com o altíssimo índice de usuários compartilhando a receita pronta com comentários em suas redes sociais.

E como efeito colateral, a panela na qual a receita foi feita, passou um período sendo a mais vendida do país!!! Como as pessoas deixaram simplesmente de visualizar e passaram a compartilhar, se engajar, atuar “na causa” e elevar a experiência ao nível máximo de imersão e execução.

Imersão e cross media

E falando em imersão, as abordagens foram as mais diferentes que a interpretação e imaginação poderiam alcançar. George Hotz (Criador do primeiro Jailbreak para iOS) mostrou sua visão da realidade que vivemos ser nada mais que uma simulação. Um jogo onde somos controlados por alguém ou alguma coisa e nossas atitudes são baseadas em estímulos sinestésicos.

George Hotz (Criador do primeiro Jailbreak para iOS)

Também houve a abordagem da ampliação da imersão através de PopUps Experiences, num painel com cases de como eventos de grande porte, como o Burning Man, ganham em adesão e relevância por utilizarem ao máximo o espaço físico e o quanto o Brooklyn Museum diversificou a audiência de suas mostras por inserir elementos interativos em suas instalações.

Oportunidades para aproveitar tecnologias estereotipadas exclusivamente para entretenimento foram abordados no painél da Microsoft (VR/Hololens), onde trouxeram a informação de que mais de 80% da força de trabalho mundial não tem um desktop em sua frente para trabalhar.

O quanto os sentidos são responsáveis pela tomada de decisão, muitas vezes irracionais, mexem com a emoção e despertam sentimentos que são associados a algo que não pode ser expressado por palavras. Language of Aroma, projeto apresentado peloa Tealeaves que dá luz a esse tema. Afinal, qual vocabulário temos para descrever um cheiro? Como expressar um aroma em uma palavra? Como ampliar a percepção, utilizando elementos que potencializam a inclusão em experiências imersivas?

VR, AR, até XR (extended reality), permitem com que, independente de qual seja a visão, o usuário possa escolher de qual ponto de vista deseja viver aquele momento. O mercado de entretenimento em geral, esportes, música e cinema por exemplo, surgem como principais beneficiados por esse tipo de experiência, mas simulações em geral, como participar da manutenção de algum equipamento industrial ou até mesmo ser expectador de uma cirurgia cardíaca (tem gosto pra tudo) são tecnicamente viáveis a partir dessa iniciativa. Jessica Brillhart abordou o tema.

E poderia continuar! É MUITA COISA!

E além das palestras

Paralelamente a tudo isso, as instalações, ambientes onde as empresas ofereciam degustação de produtos, regados a comes e bebes e muito networking, também eram parada obrigatória. Inclusive, muitos painéis e discussões aconteciam em algumas delas.

As casas temáticas de cada país ou região (Brasil, Japão, Escandinávia, etc…) promovia eventos e encontros todos os dias. Confesso que essa foi uma parte do festival que infelizmente não consegui aproveitar.

E outro elemento que ajudava a apimentar todo esse molho eram as exposições de startups e suas soluções, de todo lugar do mundo. Também passei bem rápido, mas coisas que me chamaram bastante atenção foram o Sushi Singularity — alimento impresso em 3D!!!, o Mars Base Camp — onde o usuário “consertava equipamentos” num ambiente que simulava a superfície de Marte, a Levio Polo — um micro-passeio virtual aéreo pela cidade de Tokio e a Stradigi Coffee Bar — uma coffee shop self service, onde os pedidos eram feitos em libras, com um obvio tutorial para os analfabetos nesse idioma (como esse que vos fala).

Local das exposições no Convention Center, Sushi Singulariry (ou Sushi 3D), simulador da Mars Base Camp e Stradigi Coffee Bar, o jeito inclusivo de pedir café.

Sem mais delongas… ir ao SXSW é algo que ultrapassa a expectativa inicial de “ficar em dia” com o que está acontecendo no mundo.

A sensação de que tudo acontece ao mesmo tempo, num movimento quase sincronizado e ao mesmo tempo aceleradíssimo, traz ao mesmo tempo sentimentos de excitação para começar fazer e desespero de quanto ainda falta para chegar!

E uma certeza… Ficar parado só vai adiar o primeiro passo e aumentar a distância para percorrer. Porque mesmo na inércia, é inevitável termos que caminhar para frente. Afinal, o mundo está correndo nessa direção.

Ja estamos atrasados! Bora tirar essa diferença?

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Fares Saba
UX Santander

Designer, publicitário, baixista, corinthiano. Head de UX (Card&Seguros) do PicPay.