O Design centrado na experiência e no desenvolvimento da mulher-atleta no Futebol Americano. [Parte 1] 🇧🇷

Luana Marques
ux, ux.
Published in
8 min readOct 11, 2019

Este é um resumo da Palestra em que compartilhei na UxConf BR, realizado em 17 de maio de 2019 em Porto Alegre-RS. Você pode acompanhar o material completo aqui e no também no primeiro capítulo do Podcast Ux, ux.

Foto por @mayabreu.photos, adaptado para este post.

Título comprido, né?! rs
Mas não teria outra forma em definir este projeto, onde eu tive a oportunidade de fazer a imersão, sentir as dores e conflitos e principalmente presenciar as conquistas.

Reconheço que é necessário aprofundar no que de fato é UX, quais são seus fundamentos e definições. Futuramente contarei especificamente sobre os processos aplicados à este esporte. 💪🤓🏈

Foto por @emanuellemattosfotografia
Foto por @emanuellemattosfotografia

Oi, eu sou a Luana, Designer UI/UX. Por quase dois anos fui atleta e membro da Diretoria do Cold Killers FA, equipe de Futebol Americano Feminino do Sul do Brasil. E aqui estou justamente para contar a minha experiência em juntar a minha profissão com um hobbie, aplicando fundamentos de UX em um time amador de um esporte não convencional na modalidade feminina.

E como aplicar UX se não estamos falando de produto ou serviço e sim lidando diretamente com a experiência de imersão e levar a cultura do Design para o cenário esportivo?

O Cenário

Atualmente contamos com federações, organizações, membros e diretorias técnicas, um time impecável de arbitragem e elencos incríveis de atletas espalhados pelo País. Embora o esporte exista há pouco mais de 10 anos no Brasil, ainda trabalhamos fortemente na busca por seu posicionamento no cenário esportivo, principalmente na modalidade feminina.

Mas por qual razão eu, mulher, tornaria como prioridade um esporte não convencional, de alto impacto e que possui uma infinidade de dificuldades no cenário esportivo?

Embora as primeiras impressões sejam o alto-risco, causador de uma certa estranheza quando se diz respeito à modalidade, o Futebol Americano é um jogo extremamente estratégico e colaborativo, e dentro do círculo feminino, é notável a diversidade que ele proporciona.

Foto por @barbrabrgs | Cold Killers na estreia do Campeonato Paranaense de Futebol Americano Feminino de 2019.

Nascemos! 🚩

E assim surgiu o Cold Killers Futebol Americano Feminino, com o objetivo de tornar o esporte mais acessível para mulheres e proporcionar a melhor experiência de imersão no Futebol Americano.

Nos primeiros passos da equipe que continha pouco menos de 10 atletas, já tinha seu objetivo muito bem definido: jogar futebol americano. Eu não fiz parte das 10, mas fiz parte das 20, das 30 e hoje das pouco mais de 40 atletas ativas traçando suas histórias dentro da fraternidade.

Como todo começo de ciclo, enfrentamos diversas dificuldades. Superamos algumas, aprendemos a lidar com outras, mas ainda sim enfrentamos problemas que refletem na equipe até hoje.

▪️ ️▪ ▪️️

Pouco menos de 3 meses do projeto ter saído do papel, a equipe já possuía uma comissão técnica, um bom time de base e planejava como compor uma diretoria. Foi quando surgiu o convite para integrar à Diretoria de Marketing, onde comecei a desenvolver os segmentos de Design e Social Media.

Tivemos bons resultados dentro das mídias, e por fim a comunidade e o cenário do Futebol Americano local estavam aos pouco nos conhecendo.

Não foram muitos trabalhos até perceber que as dificuldades e limitações dentro da Diretoria refletia nos trabalhos em campo. E que as dificuldades em campo, refletiam no trabalho que a Comissão desenvolvia, como um looping de problemas.

Eu, como Designer e atleta, entendendo a realidade de ambas as partes, vi uma boa oportunidade de trazer a cultura do User Experience para dentro da equipe.

Kick-off dos processos 📝

Primeiro caso nós já temos; as dificuldades. Destacamos nossas principais e que mais interferem no círculo da atleta e equipe. Segundo passo, compreender nossas reais limitações. Terceiro passo, a execução!

Definindo nossos principais bloqueios, tivemos em destaque quatro situações:

  • O posicionamento no cenário: O esporte não está bem consolidado, principalmente na modalidade feminina.
  • Conhecimento prévio do esporte: Pelo menos 90% de mulheres que chegam/chegaram no time entraram com “conhecimento zero” do esporte.
  • Captação de recursos: Nossa maior dificuldade atual. A atleta ainda precisa arcar com suas despesas, como investir em seus equipamentos, uniformes, transporte e alimentação.
  • Dificuldades e limitações individuais: Lidando com uma diversidade de mulheres com realidades distintas, dentro da equipe já tivemos casos de dificuldades pessoais, financeiras, psicológicas e outros problemas dentro do círculo feminino.

Após mapear nossas dificuldades, apontando os nossos principais problemas, conseguimos projetar e prever soluções e trabalharmos com expectativas em todos os aspectos.

Soluções definidas, set hut! 🏈

Em resumo, após o levantamento das dificuldades e a projeção das soluções, organizamos as tarefas utilizando o Design Sprint para atribuir as funções para a Diretoria, Comissão Técnica e também do elenco.

  • Primeira projeção: Identidade visual
  • Segunda projeção: Storytelling
  • Terceira projeção: Hard/Soft Skill Positions
  • Quarta projeção: Levantamento de dificuldades em grupo/individual
  • Quinta projeção: User Journey aplicado em individual/coletivo
  • Sexta projeção: Estudos de experiência individual/coletivo

Identidade além do visual 🐺

Nossa equipe sempre teve uma identidade predominante, principalmente nas redes sociais. Compreendi toda a identidade da equipe na primeira impressão que tive ao conhecer o Cold Killers. O impacto visual sempre foi nítido, porém não conseguía transmitir nem a metade do que a equipe propunha.

Foi então que demos sentido à nossa identidade visual e apostamos muito no Storytelling dentro e fora da equipe.

O Lobo é o nosso mascote, representado em nosso Logotipo. As cores predominantes dentro da identidade são vermelho, branco e preto, aludindo ao frio, ao sangue da caça e a pelugem do animal. E então aplicamos nossa identidade em todas as oportunidades.

Storytelling; experiência dentro e fora de campo 🐺🔥

Para aplicar o Storytelling e representa-lo com maior precisão, fizemos um estudo de comportamento e hierarquia dos lobos de diversas fontes, onde a principal retirada do Jungle Book, o livro da Selva de Rudyard Kipling.

Cada característica do comportamento dos lobos representa uma característica aplicada dentro da equipe.

Definimos o time como A Alcatéia. Dentro da Alcatéia separamos em bando e denominamos seguindo a seguinte hierarquia:

  • Lobos Alpha que lideram o bando, representado pela Diretoria e Comissão Técnica;
  • Lobos Beta que lideram a caça, a proteção do bando e o bando da caça suja, representado pelas unidades de ataque, defesa e especialistas;
  • Lobos Ômega que dentro de um grupo real de lobos, faz referência ao bando de lobos jovens, representados pelas Rookies ou novas atletas que integram ao elenco.

Dentro destas definições conseguimos expandir os grupos em diversas outras atribuições, proporcionando à atleta sua imersão dentro desta linguagem e mostrando a ela o quando sua posição é importante para o bando.

Fora de campo, empregamos muito bem o uso da linguagem dentro das redes sociais e impulsionando a torcida e os demais times a ter a mesma experiência. Hoje, quem assiste a um jogo do Cold Killers não só vê um time feminino em campo, mas sim a caça no inverno da Alcatéia em disputa por território contra a matilha de Leões, Águias, etc.

Ritual de entrada à caça | Dança dos lobos @coldkillersfa

A cada caça a alcatéia perde-se lobos. A hora da entrada do bando jovem é onde a matilha recupera suas forças e atribui funções ao novo e velho grupo. Separam-se as lobas no grupo de caça, grupo de proteção da matilha e o grupo da caça suja, cujo bando é o primeiro a lutar. Quando as novas lobas integram à matilha, realiza-se o Ritual de entrada na Alcatéia, onde servimos um grande banquete de recepção das novas caçadoras.

Hard/Soft skill positions

Como mencionei, 90% das atletas que chegam ao Cold Killers não possuem conhecimento prévio do esporte. E isso nunca foi um pré-requisito para integrar ao elenco.

Nestas condições e visando o objetivo, nosso maior desafio era levantar o número de mulheres interessadas a compor o time. E como conseguiríamos ensinar o futebol americano, aí já era outra história.

Entendendo nossa maior limitação que é o conhecimento prévio do esporte, sentimos a necessidade e vimos a oportunidade de criar nossa própria metodologia de imersão em futebol americano adaptado à modalidade feminina.

What? A futura atleta que participa do Try Out, demonstra interesse à uma posição específica ou ganha uma posição de acordo com as suas skills e desempenho na seletiva.

Why? Entendendo suas habilidades em atividades específicas, conseguimos identificar onde obterá melhor desempenho e resultado.

Where? As seletivas acontecem em campo, com atividades de fundamentos básicos e drills específicos das unidades que geralmente são realizados em treinos. Essas seletivas em campo proporcionam à futura atleta a experiência em participar de um treino convencional.

When? Em ordem, a imersão começa nas seletivas, desenvolve em treinos de fundamentos, treinos práticos e teóricos e demonstra resultados nos jogos oficiais/amistosos em campo.

Who? Na seletiva, a equipe de atletas ativas para recepção das rookies e Coaches para avaliação do desempenho durante todo o período de atividades. Em treino, os Coaches e Diretoria técnica desenvolve trabalhos práticos/teóricos e outras atividades dentro e fora de campo.

How? Quando a atleta é aprovada na seletiva, já com a sua posição atribuída, ela irá trabalhar somente na sua skill específica. É proposto individualmente a melhor forma de aprendizado dentro das hards/softs skills que foram definidas. Desenvolvendo suas tarefas dentro da unidade, passando por estudos de fundamentos/práticos e teóricos sob suas funções, ela já está apta a participar dos jogos oficiais.

O que aprendemos? Quando a atleta integra ao time e consegue se dedicar 100% na sua posição específica, ela não precisa se preocupar em compreender a alta complexidade do jogo. Isso é desenvolvido ao longo do tempo de uma forma muito natural. E dentro do grupo, cada atleta sabendo executar suas atribuições, o coletivo funciona.

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Na segunda parte do texto, irei abordar estudos de casos e relatos de experiências das atletas. Lembrando que este case foi tema da UxConf 2019 e você pode conferir o` material aqui. Além de que também temos um podcast com os primeiros estudos na versão español, em breve a versão em português! :)

Disfrute!
Um abrazo,
Luana Marques | @6uana

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Luana Marques
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