A Parcialidade do Facebook ameaça a democracia

Eric Balbinus de Abreu
Vértice
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4 min readMay 10, 2016

Desde domingo os Estados Unidos repercutem a notícia do Gizmodo de que o Facebook “esconde” as notícias que possam ser de interesse de seus leitores conservadores. A notícia provocou furor entre os conservadores americanos. O Facebook não respondeu a denúncia de imediato, mas a repercussão do caso tomou volume e a rede se manifestou negando o relato dos ex-funcionários que haviam fornecido.

Por mais que o Facebook negue, a matéria assinada por Michael Nunez apenas confirma algumas teorias que já circulavam na rede. Ano passado dois fatos já haviam escancarado a parcialidade da rede social: primeiro foi a exclusão sumária de postagens de orientação conservadora, justificadas como um “erro do servidor”. Depois houve a declaração do próprio Mark Zuckerberg de que a rede social iria impedir publicações discriminatórias ou anti-imigração. Muitos grupos progressistas e de defesa dos Direitos Humanos aplaudiram a decisão, apontando um caminho para combater a intolerância. Mas como sempre, o diabo mora nos detalhes.

Quando se coloca algo tão subjetivo como “combate ao discurso de ódio” como critério de censura, o caminho é a distorção do debate público e a ditadura de uma linha de pensamento. E é justamente esse o problema do Facebook, que tem se tornado um organismo quase onipresente na sociedade moderna.

O Facebook sempre foi criticado por grupos liberais/conservadores por conta dos nebulosos parâmetros utilizados para a remoção de conteúdo. Páginas são derrubadas após denúncias em massa capitaneadas por grupos políticos, imagens críticas à governos, partidos e grupos de esquerda são removidos pelos motivos mais absurdos: desde cenas de nudez e pornografia até discurso de ódio e violação dos Direitos Humanos. Tudo é obscuro: o usuário é punido não só com a remoção do conteúdo, mas pode ser suspenso por alguns dias ou até ser banido da rede social. O Facebook alega que o faz para manter o ambiente saudável, mas isso é questionável.

Exemplo disso foi ano passado, quando a página Orgulho de Ser Hétero foi derrubada. Longe de endossar ou não tudo o que se posta nessa página, há a questão de que o tal discurso de ódio só é notado em um dos lados do espectro. A página foi derrubada a mando de grupos progressistas. Esse que escreve já teve vários conteúdos removidos, como comentei sobre uma mina que forjou um episódio de abuso em um ônibus de Curitiba (o que é algo extremamente grave, já que tira a credibilidade das verdadeiras vítimas). O Facebook removeu o conteúdo sob a falsa alegação de que o thumbnail do link mostrava nudez explícita. Em outra postagem sobre uma mentira dita por Maria do Rosário sobre o acampamento pró-impeachment instalado no gramado da Câmara dos Deputados. No entanto, uma postagem da página Anarcomiguxos III amplamente compartilhada comemorando o atropelamento de Kim Kataguiri foi entendida como comum, e “não violava as diretrizes do Facebook”.

As posturas do Facebook e de seu fundador são no mínimo contraditórias. Para levar seus produtos para a China, Mark Zuckerberg faz afagos na ditadura chinesa. Sinaliza assim que sua plataforma pode se adequar à rígida censura do regime comunista é imoral, monstruosa e servil, se levarmos em conta todo o passivo daquele governo com direitos humanos e democracia. Ao mesmo tempo em que funcionários de Mark são orientados a removerem conteúdos políticos com o argumento da defesa a democracia, ele senta à mesa com burocratas de uma ditadura para discutir detalhes como a supressão da palavra “liberdade” de sua rede social e aplicativos. Se isso não é cinismo, é algo muito parecido.

É imperativo que o Facebook seja mais claro a respeito de suas políticas. Mesmo se tratando de uma companhia privada, não é aceitável que em pleno século XXI se aceite que uma corporação que mantém uma relação tão próxima com governos e partidos se coloque de maneira frontal contra a liberdade de expressão. Ainda mais quando se trata de uma corporação que lida com informação e ideias, que opera uma dezena de aplicativos e é usada como arena de debate político. Só para lembrar, Mark Zuckerberg foi um dos entusiastas do Marco Civil da Internet, elaborado por parlamentares brasileiros da extrema-esquerda. “O propósito é garantir a neutralidade da rede”, eles disseram. Hoje o dispositivo legal é utilizado para restringir a banda larga e proibir a concessão de serviços abaixo do preço entendido como mínimo pelo cartel das operadoras e a ANATEL. Pouco tempo depois a mesma lei permitiu que um juiz de Lagarto ordenasse a prisão de Diego Dzodan, além de suspender o aplicativo Whatsapp. Zuckerberg reclamou de que aquilo era uma ameaça à democracia, que os brasileiros deveriam ir para a frente do Congresso protestar contra a decisão que foi tomada com o apoio do próprio Zuckerberg. É preciso lembrar ao rapaz que quem tomou decisões que permitem esse tipo de arbitrariedade são as pessoas denunciadas por aqueles sites e páginas que tem seu conteúdo diariamente censurado por sua equipe. Quem cria dragões corre o sério risco de ser devorado por eles, Mr. Zuckerberg.

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Eric Balbinus de Abreu
Vértice

Estudante de Relações Internacionais, ativista e blogueiro.