Love Alarm — Um dorama sobre problemas de heurística (com spoilers de UX)

Isabele Souza
VagasUX
Published in
4 min readJul 11, 2022

Quem está inserido no universo dos doramas sabe que Love Alarm teve um dos desfechos mais aguardados e um dos mais (spoiler de sentimentos?) decepcionantes também. O fator interessante aqui é que o ponto alto — e mais angustiante — da história se dá por conta de problemas simples de heurística: prevenção de erros, liberdade e controle do usuário.

Alguém em um raio de 1 metro de distância te ama :)

Contextualizando

Love Alarm é um app simples que identifica os sentimentos do usuário e os sentimentos de quem está próximo deste e expõe para que ambos saibam se há reciprocidade ou não no amor.

A partir daqui, você entra na zona de spoiler, então fica por sua conta e risco.

Eu avisei!

A protagonista da história, Kim Jo-jo, não tem interesse em expor seus sentimentos e de início se recusa a baixar o app, mas cede à pressão dos colegas de escola e das propagandas incessantes na cidade, passando a fazer uso do Love Alarm. Com o app ela vê que está apaixonada por Hwang Sun-Oh e que ele corresponde a esse amor. Mas um evento ruim faz a garota se afastar de Sun-Oh e ter medo de se expôr novamente, desejando que ninguém mais saiba do que se passa no seu coração. Esse desejo é realizado pelo desenvolvedor do aplicativo e o perfil — e o coração talvez— da Kim Jo-jo fica bloqueado por um escudo, sem a opção de desfazer a ação. Sun-Oh acredita que Kim Jo-jo não o ama mais porque seu Love Alarm não identifica o sinal dela e o relacionamento dos dois acaba.

O status de não se sentir amado também é um dos problemas abordados na série.

Kim Jo-jo nunca mais encontra o desenvolvedor para tentar reverter a situação e tirar o escudo, e também não se sente segura para expressar verbalmente como se sente e o que aconteceu, o que gera um desentendimento enorme que muda a sua história com Sun-Oh. E é aqui que a maior parte da comunidade dorameira se estressa com a história. Não pretendo falar da segunda temporada, pois o problema persiste e isso realmente muda o destino do casal ending-game.

O usuário do Love Alarm não tem liberdade de quando divulgar ou não seus sentimentos. Ou o usuário tem o app e se expõe constantemente, ou não o tem no smartphone caso não queira se expor. E uma vez que há um escudo no coração, reinstalar o app não traz o reset esperado. É nessa problemática que Jo-jo não recupera o amor perdido e sua história muda de rota.

Quando se está elaborando, ou refinando, um produto, é importante se perguntar “e se o usuário quiser voltar?”. Se ele quiser refazer? Se ele quiser voltar atrás em uma ação? E se ele errou uma coisa mínima, como ele corrige?

Sabia que o Spotify te permite recuperar as playlists apagadas? Eu falo sobre isso aqui também.

Recuperação de erro é uma heurística que vai além do Ctrl+Z e dos botões de ir e voltar numa header. É também sobre oferecer para o usuário a segurança de que ele pode voltar a um status anterior a uma ação destrutiva, como recuperar uma foto apagada, por exemplo — a lixeira do app genuíno de fotos dos smartphones Samsung te dá 30 dias para repensar a ideia.

Se o seu produto não tem como fazer isso — se ele não é o Love Alarm que muda pra sempre o relacionamento de alguém — a prevenção de erros é de suma importância que exista:

Dessa forma, sempre que estiver pensando em uma funcionalidade, principalmente uma funcionalidade destrutiva, pense sempre que o usuário é humano e pode querer mudar de ideia. Ofereça dentro da mesma funcionalidade a possibilidade de desfazer a ação em um determinado limite de tempo, pelo menos. Ofereça também um momento de repensar decisão — como o dialog box acima — caso não haja a possibilidade de recuperar.

Se pergunte sempre “Meu usuário pode se arrepender disso?” e então desenvolva as possibilidades para que o processo seja tranquilo. É sempre bom lembrar que projetamos para pessoas. No mais, fica a dica de dorama! Está disponível na Netflix.

--

--