A renascença digital

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6 min readNov 19, 2021

As NFTS são um universo digital a ser explorado

Arte: Magui

Tal como os antigos artistas da Renascença, percebemos uma imensidão à nossa frente de novas possibilidades para que a arte avance e se desenvolva. Ou será que não?

Em outubro deste ano, o artista plástico Leandro Granado ganhou seu trend topic na rede social vizinha ao explodir suas produções artísticas. Sim, explodir. Na chamada dizia, “Artista argentino destrói cinco de suas obras”, ao ler isso, tentei entender o motivo de tal feito, minha surpresa foi descobrir que suas criações valiam muito mais agora que estavam destruídas.

O motivo disso? O surgimento das NFTs, na tradução livre, Tokens Não Fungíveis. São obras e criações que existem apenas no formato digital, ou seja, peças criadas via blockchains, que tornam essas criações únicas e exclusivas.

No mercado atual, essas obras estão sendo vendidas na casa dos milhões de dólares, apenas o mercado de NFTs sozinho chega a valer mais de US$ 2,3 bilhões.

Mas fica o questionamento: por que alguém compraria uma simples peça que custa milhões e que existe apenas de forma digital?

Uma das razões: status, ter uma NFT é muito mais sobre conseguir comprar e obter uma, do que a peça em si. São como as grifes de luxo e carros importados do mundo digital, se você possui uma, faz parte de um grupo seleto de pessoas.

Outro ponto que favorece muito o aumento do mercado das NFTs, é o câmbio das criptomoedas, usadas para transações de dinheiro eletrônico. A compra de uma peça artística digital, feita pelo câmbio das Bitcoins, é muito mais um investimento do que qualquer outro motivo que venha parecer o desejo de ser um “patrono” desses artistas.

Você comprando uma obra nesse exato momento, poderá estar vendendo ela pelo triplo do preço no futuro, por exemplo. O mercado digital está sendo cada vez mais expandido. Antes, somente indo aos museus poderíamos encontrar obras milionárias, agora elas existem também na tela do computador.

Então seria essa a revolução artística do século XXI?!

Não. Mudando um pouco o rumo deste texto, há algo que necessita de atenção ao falarmos sobre as NFTs e que muitos deixam de lado: seu impacto no meio ambiente.

Arte digital e o Efeito Estufa

Ao imaginarmos uma NFT, não pensamos no consumo de energia que é necessário para mantê-la. Por ser um mercado de negócio relativamente novo, todas as transações são feitas de forma virtual em redes como a Ethereum, onde ocorrem as transações criptografadas. O ponto em questão é que essas redes usam como fonte de energia combustíveis fósseis.

Arte: Magui

Para se ter uma ideia, uma transação realizada pela venda de blockchains criptografadas, equivale a 34 kg de dióxido de carbono lançados na atmosfera, o que se transformado em energia seria entre 70.32 kilo watts/hora, o mesmo gasto de uma casa nos Estados Unidos por dois dias.

O número é ainda mais assustador ao ver a quantidade necessária para fungir um token — transformá-lo em uma peça autêntica. Um estudo da Digiconomist mostra que o custo de energia é de 332 kilo watts/hora, superior ao consumo de energia de países inteiros, como a Polônia, Malásia e o Egito.

Esse impacto ecológico fez com que muitos artistas repensem colocar suas artes no mercado das NFTs. O arquiteto e designer australiano, Chris Precht, desistiu de vender suas peças depois de perceber a pegada ecológica que cada token produzia.

“Estamos vivendo numa era de eficiência e produtividade, e a criatividade não recebe o mesmo valor”, para ele, o foco principal acaba sendo posto em segundo plano, deixando em evidência apenas a venda e o lucro que cada obra pode render.

Criatividade VS Mercado

O que anda acontecendo é que muitos artistas se vêem fascinados com a nova oportunidade de venda de suas peças. Por dia, são vendidas em média 1000 novos tokens, em uma semana, as variações das vendas chegam de 15.000 a 50.000 transações.

São esses números e o valor pago por cada peça NFT, que chamam a atenção de novos criadores, e fazem com que artistas já renomados, como Leandro Granado, destruam suas peças — de forma literal -, transformando em tokens exclusivos para quem compra.

Nesse jogo de quem paga mais, a criatividade e a criação de novas obras ficam em segundo plano. O objetivo não é criar uma peça que revolucione o mundo artístico, mas que apenas interesse alguém a ponto de investir.

Existem sim criadores na plataforma que vendem suas obras a valores menores, que não chegam perto à casa dos exorbitantes milhões. Querendo ou não, a venda de NFTs aborda de forma mais simples a compra e venda de artes digitais, criando um interesse internacional nesse mercado.

Digitalmente sustentável

O futuro para a compra e venda de NFTs ainda é incerto e inseguro, como grande parte do cenário do mercado digital com as moedas criptografadas, ainda não conhecemos ao certo todos os danos que isso pode causar. Já sabemos os impactos ecológicos, mas ainda há muito que precisamos descobrir.

Só nos resta ver onde tudo isso irá dar. Já existem algumas iniciativas que visam diminuir o consumo de energia que é necessário para as blockchains. Vemos que ultimamente não podemos mais brincar com questões climáticas e ambientais, achar que isso “não irá dar em nada”.

A natureza pede nossa ajuda e quem sabe não seja através da arte que finalmente começamos a ouvir ela.

Renascimento da Arte

E como nós, pobres mortais que ainda não estamos totalmente por dentro desse universo tecnológico de venda de moedas criptografadas e tokens não fungíveis, nos relacionamos a tudo isso? Não podemos negar que as NFTs trouxeram uma nova visão para o mercado artístico digital, mas existem outras formas de também consumir arte.

Se voltarmos no tempo, na era do Renascimento para ser mais exata, grandes artistas contavam com comissões da igreja ou de nobres reais que pagavam por suas obras. Hoje em dia, o mercado artístico já não conta com reis e rainhas como patronos, agora, cada um se arranja de um jeito.

Arte: Magui

Para se apreciar a arte, você não precisa gastar milhões ou consumir a quantidade de energia básica para uma casa.

Posso comprar aqui do Brasil um desenho feito por uma pessoa do outro lado do mundo. A globalização, de certa forma, transformou como vemos a arte. Temos contato com inumeráveis artistas e movimentos, podemos usá-los de forma positiva incentivando também o comércio de pequenos artistas.

As NFT’s podem parecer um futuro brilhante, mas nem tudo que brilha é ouro.

O incentivo à compra de peças feitas por criadores digitais menores, principalmente de artistas negros, LGBTQIA+, indígenas e de outras minorias, colabora para a diversidade cultural. Além disso, é um apoio a quem busca trazer algum impacto com suas criações, seja expressando quem são ou o que acreditam.

Existem criadores que vendem draft posts, comissões e suas peças criadas por meio das redes sociais. No site próprio da Vale.jo, você pode encontrar e apoiar artistas e criatives que disponibilizam suas peças para compra, como Lary Lemos e Bea Lake.

Escrito por: Izabela Morvan

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