São Paulo, primavera de 2017. Eu estava parada em frente a um prédio na Avenida Paulista, no qual sempre foi meu sonho trabalhar, porém ainda estava nas fases do processo seletivo.
O dia parecia estar perfeito, era o início da tarde, o sol não estava forte e nem o vento frio. Eu tinha estudado todo o conteúdo que pude encontrar durante o mês para ser bem sucedida na entrevista. Era um cargo simples, mas foi meu bilhete dourado para o recomeço na carreira.
Depois de uma longa espera na recepção, a recrutadora me chamou para uma sala e a única coisa que eu ficava repassando em minha mente eram os modelos de resposta que deveria seguir de acordo com as perguntas que ela me fizesse.
Depois de uns 40 minutos de conversa, que fluiu muito bem, ela me fez a seguinte pergunta: “Qual a sua missão na vida?”
Me pergunte sobre todo tempo anterior da entrevista e a resposta é que eu não me lembro de nada, mas daquele momento eu me recordo como se fosse hoje. Eu não tinha me preparado para aquela pergunta, nunca tinha me questionado sobre isso.
Parei por um minuto para pensar e simplesmente saiu a seguinte resposta: minha missão nesta vida é ajudar as pessoas através da minha criatividade. Desde então, eu nunca mais parei de refletir sobre isso.
Alguém me desconfigurou
Existem tantas respostas técnicas para o que é criatividade e diversos métodos para desenvolvê-la que só de pensar eu já fico cansada.
Isso se deve ao fato de que ser criativo não é como aprender a dirigir. Todos nós literalmente nascemos imaginativos e mesmo antes de aprender estas palavras já inventamos diversas coisas na infância, tantas que, possivelmente, não nos lembramos.
Conversando com um amigo esses dias ele me disse que não tem criatividade e tem certeza disso, fico me perguntando como ele chegou a essa conclusão, porque em minha mente é tão óbvio que todos nós somos criativos e desenvolvemos isso com o passar do tempo, mas então eu entendi o que ele quis dizer.
Existem alguns mitos que acabam limitando o modo de pensar das pessoas, tem um trecho do discurso de Mark Zuckerberg na Universidade de Harvard em que ele explica exatamente porque isso ocorre:
“Vou te contar um segredo: ninguém sabe quando começa. Ideias não aparecem totalmente formadas. Só se tornam claras conforme trabalhamos nelas. Você só precisa começar. Filmes e a cultura pop apresentam tudo errado. A ideia de um único momento do tipo eureka é uma mentira perigosa. Faz com que nos sintamos inadequados já que não tivemos a nossa. Faz com que pessoas que têm sementes de boas ideias não comecem.”
Medo de errar, fracassar ou o perfeccionismo são alguns pontos que nos fazem acreditar que não devemos prosseguir com uma ideia e encaixotam tudo o que poderíamos fazer.
A grande questão é: Por onde começar?
Deixe Acontecer Naturalmente
Desde criança eu amo estudar. Aprender coisas novas e diferentes me fascina, fiz tantos cursos durante a minha vida inteira que nem me lembro quantos certificados eu tenho, eles variam entre contas médicas ou como fazer flores e frutas artesanais.
Quando eu era mais nova me lembro do meu tio, uma das pessoas que eu mais amava no mundo, me dizer a seguinte frase: do que adianta a Rafaela estudar tanto se todo o conhecimento que ela adquire é inútil?
Acontece que hoje eu sou publicitária, trabalhei com segmentos totalmente diferentes um do outro, públicos diversos, concorri a prêmios por meus projetos e, inclusive, já fui premiada. A questão é que se eu tivesse escutado meu tio — que achava que eu deveria estudar uma coisa, focar nela e trabalhar com isso para sempre — eu nem sequer escreveria este texto.
Na infância, eu estudei um pouco de piano, me coloque em frente a um hoje em dia e acho que mal vou saber tocar Do-Ré-Mi-Fá.
Foi pouco, mas foi suficiente para eu me apaixonar por música, foi o que me motivou a aprender inglês para entender a tradução das letras, ir a festivais em que conheci várias culturas diferentes e posso dizer que os meus melhores projetos tem uma trilha sonora envolvida que sempre me inspira a criar.
O que você ama fazer? Desenhar, ler, cozinhar, jogar, viajar, se exercitar… Faça! Simplesmente faça o que você ama fazer e naturalmente sua criatividade vai fluir, afinal é sobre isso.
Temos Nosso Próprio Tempo
Você já leu em algum lugar a frase “não se apressa a arte” ? Eu aprendi que esse é um conceito simples, mas verdadeiro. Mesmo que tudo tenha um prazo definido de entrega, eu não sento na cadeira e penso que só vou levantar quando terminar o projeto porque esse método não funciona para mim.
Normalmente, eu me programo dentro do prazo para criar com liberdade, já ocorreram casos em que eu precisei escrever um texto em uma hora e passei cerca de 20 minutos ouvindo músicas, lendo algo aleatório ou assistindo animações.
A princípio, parece uma total perda de tempo ou que não levo a sério o que estou desenvolvendo, mas é justamente o contrário, ao fazer isso minha mente começa a conectar diversas informações e de repente eu já sei tudo o que preciso fazer do começo até o fim.
Agora, eu entendo que criatividade também é sobre autoconfiança. Eu fui criada em um ambiente conservador e sempre me criticaram muito por pensar diferente, só que eu nunca dei ouvidos a essas opiniões porque sempre soube que estava no caminho certo. Hoje, posso dizer que realmente estou.
Sabe aquela história sobre pensar fora da caixa? Ela não é sobre fazer algo totalmente revolucionário que ninguém jamais fez, na verdade ela é sobre respeitar seu processo, o tempo de criação e como consequência realmente pode surgir algo totalmente inovador, mas se não, ainda assim, será o algo que você criou e ninguém poderá tirar o seu mérito.
De tempos em tempos, eu leio em algum lugar da internet a seguinte pergunta: se você pudesse voltar no tempo, encontrar seu ‘eu’ do passado e dizer uma única frase, o que você diria? Minha fala com certeza seria: “escute a si mesma”.
Eu não consigo voltar no tempo e fazer isso, mas eu posso dizer que, se hoje você começar a se desenvolver da melhor forma que imaginar, sua criatividade será o mapa até seus objetivos e sonhos.
Escrito por: Rafaela Fernandes
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