Eu não quero um escorregador no trabalho

Vale.jo
Vale.jo
Published in
5 min readApr 1, 2022

Startups pregam a criação de um ambiente de trabalho acolhedor, divertido e diverso. Mas será que funciona na prática?

Arte: Magui

Quantas vezes você já escutou: “nós não somos como as outras companhias” ou “nossa empresa é diferente”, sendo que no final do dia não há nada que realmente as diferencia de outras companhias?

Esse é um dos frutos colhidos na era de startups e de empresas que promovem a diversidade… mas nem tanto.

Para começar, é necessário falarmos o que são as startups. Elas são negócios que desejam inovar indústrias tradicionais e modificar as estruturas.

Os fundadores dessas companhias, além de reinventarem um universo empresarial já pré-estabelecido, desejam entregar para sociedade o que ainda não foi criado, na busca de gerar algo que atraia o olhar do público e que leve algum dia a uma oferta pública inicial (IPO).

Elas nascem como um grupo de colaboradores que se juntam para criar um produto a ser vendido. O que realmente diferencia as startups são a forma que essas companhias fazem isso acontecer, elas estão dispostas a criar um novo padrão de negócio e ética empresarial.

Se analisarmos nessa perspectiva, o futuro das startups parece muito promissor. Empresas dedicadas à inovação e a transformação do cenário empresarial, que se importam com a inserção de pessoas LGBTQIA+, pretas e na contratação de mulheres que já são mães, entre outras questões sociais relevantes da atualidade.

Infelizmente não é bem isso que acontece.

Carregando a inovação como marca, as startups são polos de crescimento focados no investimento de seus profissionais e na diversidade do ambiente de trabalho. Muitas dessas empresas, lançam programas de trainees e contratações especialmente de pessoas pretas e pessoas LGBTQIA+.

Contudo, ainda vemos uma grande diferença em relação ao número de pessoas que ocupam os cargos de poder das dessas companhias corporativas. Isso pode ser notado através de quem funda essas companhias.

Mas, quem cria uma startup?

Segundo o Mapeamento do Ecossistema de Startups de 2021, realizado pela Associação Brasileira de Startups, que tem como objetivo compreender o funcionamento do mercado empreendedor nacional, há uma discrepância entres os cargos dos colaboradores e fundadores dessas empresas em relação à dita diversidade que pregam.

Arte: Magui

Na pesquisa realizada ano passado entre os meses de agosto e setembro, que contou com mais de 2500 empresas, foi constatado que 92,1% de quem funda essas companhias são pessoas heterossexuais.

Com o Mapeamento, também foi descoberto que 69% de quem cria ou funda essas empresas são pessoas brancas e, dentre essas, 73,8% são homens.

Esses dados evidenciam de forma mais clara a falta de diversidade no mercado corporativo, já que 15,5% das empresas dizem ter a metade de colaboradoras mulheres nos times e apenas 8% afirmam terem a parcela de empregados pretos igual a de brancos na companhia.

Isso mostra ainda uma diferença em comparação com 98% das companhias analisadas. Elas dizem apoiar a diversidade no ambiente de trabalho,mas 92% afirmam não ter pessoas trans como contratadas.

Em resumo, há uma carência de maior adesão de pessoas “fora do padrão CEO” já conhecido.

E ao pensarmos na representação de pessoas com deficiência nesses ambientes, também não temos o tão esperado resultado positivo que gostaríamos de ver: 90,3% dizem não ter pessoas com deficiência em suas empresas.

Não há como esperar que tais empresas entendam as necessidades de quem não faz parte da sua comunidade de trabalho.

De: empresa Para: público

Ter um ambiente agradável e saudável é necessário para quem deseja iniciar em uma empresa e crescer no mercado.

Startups criam um cenário que prega a ideia de trazer a diversão para o ambiente de trabalho, muitas desenvolvem espaços corporativos com cafés, piscinas de bolinha e escorregadores, visando à imagem de lugares modernos e inovadores para o trabalho.

Contudo, esquecem que para se sentir pertencente em uma empresa, é necessário se reconhecer nos locais onde trabalham.

Mas quanto mais essas companhias crescem, mais difícil é incorporar a diversidade.

Um “brainstorming” necessário

O ideal seria que o mercado apoiasse o crescimento das pessoas que representam a diversidade desde o ínicio.

Iniciativas que fomentem o crescimento e investimento em negócios de pessoas LGBTQIA+ e da população preta, por exemplo, são um dos caminhos para solucionar esses desafios.

A contratação dessas pessoas logo no começo de um novo projeto é essencial. Afinal, são eles os responsáveis em reafirmar — depois que a cultura da empresa já está estabelecida -, a importância da diversidade dos colaboradores, deixando sempre evidente o foco na representatividade entre os colaboradores.

Arte: Magui

Além disso, trazer a visão de pessoas “de fora da bolha” é sempre produtivo. Palestras e formações sobre o tema podem ajudar as equipes na realização de mudanças na hora da contratação de novas pessoas.

Uma coisa é certa: sempre há alguém em busca de um emprego, o que faltam são as oportunidades.

Mudar algo que persiste na sociedade por anos não é fácil, mas precisa ser feito. Visto que a mudança faz parte de qualquer negócio, continuar seguindo os modelos que já conhecemos foge dos princípios que as startups tanto pregam: de empresas inovadoras voltadas ao futuro.

Não é possível conquistar alguém que não se enxerga no produto. Então, por que não levarmos esse público para dentro da empresa e provarmos que é possível transformar o que se conhecia como “intransformável”?

Escrito por: Izabela Morvan

Gostou desse texto? Aplauda! Clique em quantos aplausos (de 1 a 50) você acha que ele merece e deixe seu comentário.

Quer saber mais? Nos acompanhe em nossas redes: Instagram | Site | Linkedin

--

--

Vale.jo
Vale.jo

Somos uma comunidade que valoriza e reúne trabalhos de pessoas LGBTQIA+. Acompanhe nossa publicação pelo link: https://medium.com/vale-jo