Existe muita coisa entre a Esquerda e a Direita
Em comum, a Esquerda e a Direita acreditam na utopia. A utopia da Esquerda é a vitória do proletariado sobre a burguesia, do Estado Máximo e do mercado refém da sociedade. Sua base é a igualdade, ou algo próximo disso. O seu maior erro também é a igualdade, já que as pessoas não querem ser iguais e estão longe de querer ser, como a própria URSS provou com os privilégios de suas lideranças e fortunas seletivas. Atualmente o maior exemplo de Estado Máximo é a China, suas minorias sufocadas, sem liberdade de expressão, e com líderes entre as pessoas mais ricas do planeta.
A utopia da Direita é a sociedade empreendedora, do Estado Mínimo e do mercado autorregulado. Sua base é a Meritocracia, a ideia de que qualquer pessoa pode enriquecer baseada apenas no seu esforço. O seu maior erro é também a Meritocracia, que se esquece dos privilégios econômicos, sociais, e das diferenças até mesmo fisiológicas entre as pessoas, o que inviabiliza a justa competição. O maior exemplo de Estado Mínimo é também o seu maior defensor, EUA, com seus 41 milhões de pobres e o pior sistema público de ensino entre as nações desenvolvidas.
Os milionários do comunismo chinês, como de qualquer outra nação comunista, são um contrassenso tão ofensivo quanto o liberalismo dos EUA, que é incapaz de promover melhores salários para todos ou reduzir os preços do seu sistema de saúde, o mais caro do mundo. Em outras palavras, tanto o comunismo como o liberalismo não promoveram desenvolvimento generalizado, ainda que tenham sido extremamente eficazes em construir impérios capitalistas.
Perigosamente em comum, tanto a Esquerda quanto a Direita acreditam que uma nação inteira pode pensar da mesma forma, como se uma epifania coletiva pudesse ser conquistada através de frases de efeito. Sim, essa epifania é possível, ela se chama autoritarismo.
Os historiadores não entram em acordo sobre os números (que são estimados), mas milhões de pessoas morreram para erguer a URSS, implantar essa “epifania” e construir uma nação industrializada (o que a Esquerda faz questão de esquecer). O EUA não é diferente, espalhando guerras e apoiando ditaduras para conter o avanço do comunismo, além de mais recentemente promover o protecionismo (o que a Direita faz questão de esquecer).
A dura verdade é que a maioria das pessoas não se importa com Direita ou Esquerda. São pessoas promovendo os seus próprios interesses e se usando de ideologias para isso, sejam os capitalistas que abraçam a Direita para pagarem menos impostos e salários mais baixos, sejam os trabalhadores que se fortalecem na Esquerda, com seu sindicalismo e programas sociais. Cada um promove a sua respectiva utopia como aquela que evidentemente resolverá todos os problemas do mundo, mas antes de mais nada, os seus próprios.
É necessário investigar o mundo sem se limitar a visão maniqueísta de duas ideologias que não compreendem a totalidade da questão, apenas pontos de vista diferentes e que não são necessariamente excludentes.
Meritocracia e igualdade são os problemas e também as chaves para a solução. Por um lado, as pessoas querem e precisam ser recompensadas pelo seu esforço, o que irresistivelmente promove a meritocracia, mesmo que ela seja impossível ou desleal. Por outro, ninguém deseja a desigualdade danosa da pobreza e da miséria (ainda que não se importem), o que por sua vez promove a noção de igualdade, o surgimento de ONG´s e programas sociais.
O desafio é justamente governar pessoas que pensam diferente e que tem anseios diferentes. Mais do que isso, que buscam objetivos opostos. Por essa razão a democracia é tão valiosa, porque apenas ela é capaz de fugir das tentações totalitárias, equilibrando esses pensamentos e oferecendo uma saída possível.
Afinal, será tão difícil mostrar para os capitalistas que se os pobres deixarem de ser pobres eles serão consumidores, que enriquecem empresários comprando os seus produtos? Ou mostrar para os trabalhadores que um Estado que controla toda a economia é ineficiente, como tudo que já está nas mãos do Estado?
Nenhuma política pública funciona se não tiver objetivos claros, e talvez seja isso o que falta no Brasil. Como uma das nações mais desiguais do mundo, onde 50% dos trabalhadores recebem menos de um salário mínimo, nada deveria ser mais importante do que unir os programas sociais da Esquerda e a desburocratização da Direita, gerando rápido desenvolvimento e bons empregos.
Com menos pobreza, todos ganham, seja de Esquerda ou de Direita.
