A paixão em duas cenas

Thiago Holanda Dantas
vanitas
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3 min readApr 2, 2021
Salvador Dalí. Christ of Saint John of the Cross.1951

Ninguém viu o que Ele via…

E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Lucas 23:39

porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores. Isaías 53:12

A morte do Deus encarnado aconteceu em dois atos diferentes: a visão eterna, que é completa no ato da paixão, com glória e louvor e a visão terrena que se fecha, como derrota e humilhação.

Jesus, em seu ato de amor, finaliza tudo aquilo que ele havia proclamado: Ele era o filho de Deus, que veio para salvar as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt. 10:6;15:24). Coisa que ninguém entendeu, nem mesmo seus discípulos, estava-lhes encoberto saber esse segredo (Mc.4.12;Is.6.9). Ali na cruz, em uma visão pequena e limitada, o sonho de conquista sobre Roma havia terminado. Os dias melhores almejados pelos judeus, morreu junto com Yeshua. Ali morreu um malfeitor qualquer.

Entretanto, em um plano maior, o diretor do drama da redenção dos homens estava a observar o maior dos atos. O Cristo, que se entregou por amor, estava levando sobre si, todas as iniquidades da humanidade(Is.53.6). Ninguém viu o que Ele viu. Somente diretor e ator principal sabiam do roteiro desse drama.

Peter Paul Rubens. Christ on the Cross between the Two Thieves , 1619–20

Dois ladrões na cruz, simbolizavam essa dicotomia de visão. O primeiro pede que para que Ele se salve e que salve ambos. Mas que salvação era essa?

Salvação, para o primeiro ladrão, era fuga. Descer da cruz e libertar os dois, era o que representava para aquele malfeitor ser salvo. Essa era a visão dos discípulos e de seus seguidores, afinal, como o filho de Deus poderia morrer? Isso era inconcebível na cabeça deles e continua sendo na nossa.

Já para o segundo ladrão, salvação se revela de outra forma, e aqui tomo a liberdade de acrescentar a mesma resposta que Jesus deu a Pedro, “Pois isso não foi revelado a ti por carne ou sangue, mas pelo meu Pai que está nos céus.(Mt.16.17). Não era fruto de sua mente, marginalizada pelo pecado e pelo crime que estava agora lhe dando seu salário, era o fruto de revelação especial que o próprio Deus deu-lhe naquele momento. Ele enxergou a salvação como um lugar, um lugar ao lado de Cristo!Logo, estar salvo era estar com Cristo. Ele, com medo do esquecimento de Jesus, pede que se lembre quando vier o reino, ele esperaria até a ressurreição, para estar com Ele no Seu Reino. Cristo, por outro lado, promete-lhe o paraíso hoje. Não haveria mais passado ou futuro. Não importava o que aquele homem havia feito, era o hoje, que, proclamado no “Está consumado!”(Jo.19.30), havia começado, na vida daquele homem e na nossa. Cristo inauguraria seu Paraiso, juntamente a um ladrão. Esse é o cumprimento de Isaias 53.12, Ele foi contado juntamente a malfeitores, carregou seus pecados e ainda por cima intercedeu por todas aqueles que o maltrataram.

O Arcebispo Fulton Sheen uma vez escreveu: “Os dois ladrões se julgaram. Um pediu para ser retirado, o outro pediu para ser levantado … Em todo o Evangelho há alguma fé comparável à deste homem? … O ladrão morreu como ladrão, pois roubou o paraíso ”. O ladrão roubou o Paraiso e adentrou ao lado de Cristo.

Somos esses ladrões, que não merecemos entrar no Paraíso, mas “roubamos” nossa entrada, através do ato salvífico de Cristo. Cristo permite que adentremos onde nunca poderíamos entrar por nenhum merito. Só podemos cantar:

Maravilhosa graça!
Graça de Deus sem par!
Como poder cantá-la? Como hei de começar?
Ela me da certeza, e vivo com firmeza
Pela maravilhosa graça de Jesus

Deus abençoe a todos!

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Thiago Holanda Dantas
vanitas

Teólogo, professor, licenciatura em filosofia, missionário e escritor de blog. instagram.com/vanitasblog . Segundo colocado da 3ª Chamada Ensaios do Radar abc2