EXTRA, EXTRA! JESUS VOLTARÁ NA SEGUNDA-FEIRA!!!

Thiago Holanda Dantas
vanitas
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7 min readDec 16, 2020

Se os jornais publicassem tal manchete qual seria a reação das pessoas?

Muitos já tentaram prever a volta de Cristo. Desde os irmãos da igreja de Tessalônica, no ano primeiro, passando pelos anabatistas, no séc.16, William Miller no século 19, (não vou mencionar nossas videntes nacionais, como Neuza Itioka ou Valnice Milhomens). Até Isaac Newton se arriscou na seara, baseado no livro de Daniel, calculou que Jesus voltava no ano 2060. Newton descreve seus “cálculos”:

Portanto, os tempos e meio tempo são 42 meses ou 1260 dias ou três anos e meio, contando com 12 meses a um ano e 30 dias a um mês, como era feito no calendário do ano primitivo. E os dias de bestas de curta duração sendo colocados pelos anos de reinos vividos [sic], o período de 1260 dias, se datado da conquista completa dos três reis 800 d.C., terminará 2060 dC.. Pode terminar mais tarde, mas eu não vejo razão para seu fim mais cedo.[1]

Newton escapa de tentar acertar a data exata da volta de Cristo, ele conclui:

Menciono isso não para afirmar quando chegará o tempo do fim, mas para acabar com as conjecturas precipitadas de homens fantasiosos que estão frequentemente prevendo o tempo do fim e, ao fazer isso, trazem as profecias sagradas ao descrédito tão frequentemente quanto suas previsões falham. Cristo vem como um ladrão de noite, e não cabe a nós saber os tempos e as estações que Deus colocou em seu próprio peito.[1]

As intenções de Newton eram boas, ele só queria afastar aqueles que queriam adivinhar a volta de Cristo, mas na realidade estavam desacreditando as profecias bíblicas. Outro personagem ficou famoso por tentar adivinhar quando Jesus retornaria. Esse foi William Miller, o fundador dos adventistas, que fez seus cálculos em cima do livro de Daniel e encontrou a data “em algum momento entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844”[2]. A confirmação de que seus cálculos estavam certos, era a passagem de um cometa, que ficou conhecido como Cometa de Miller ou Cometa Milerita (nomeado em homenagem a John Miller). O brilho do cometa era tão forte que podia ser visto em plena luz do dia. Depois de duas datas frustradas, Miller crava que Jesus voltaria no dia 22 de Outubro de 1844. Entretanto, Ele não voltou, a decepção foi grande, porém, alguns seguidores de Miller argumentaram que o que aconteceu em 22 de outubro não foi a volta de Jesus, como Miller pensava, mas o início da obra final de expiação de Jesus, a purificação do santuário celestial, levando à Segunda Vinda. Os Adventistas surgiram desse episódio e continuam a esperar Jesus chegar em algum sétimo dia.[2]

Os cálculos de Newton e de Miller baseados em Daniel, revelavam uma tendência de sua época em querer “matematizar” o mundo. Se Newton descobriu as leis que regem todo o universo através da matemática, Por que não poderia descobrir, mesmo que só para afastar alguns espertalhões, quando Jesus voltaria? E Miller, com a passagem do cometa, provava que seus cálculos estavam corretos. Eles estão na lista de outros que no passado, tentaram fazer o mesmo, de tentar encaixar fenômenos da natureza, como um cometa ou um terremoto com os avisos de Jesus em seu sermão profético: E ouvireis de guerras e de rumores de guerras (…)Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. (Mt. 24:6–7)

Saber o retorno de Cristo, coloca a presunção de achar que os nossos “rumores de guerra , fomes e terremotos” são maiores do que todos aqueles que passaram antes. Queremos saber para ficar com nossos braços cruzados e aguardar com toda tranquilidade o dia e a hora de Sua volta. Foi esse erro que os irmãos da igreja de Tessalônica fizeram. Pararam de trabalhar, pois Jesus estava chegando, logo, todo trabalho era desnecessário. Paulo precisa escrever uma carta para consertar esse equívoco, mas consertou um erro e colocou outro no lugar. Pois, agora a dúvida era quando vinha e quem era o tal “homem da iniquidade” (2 Ts.2:3–10). Da expectativa do Cristo, mudaram para do Anticristo. Tudo como pretexto para ter algum falso controle e ordem .

Jesus, por outro lado, deixa claro, no seu sermão profético, que “daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai.”(Mt.24.36). Sua auto-ignorância é um sinal claro de que, se Ele não sabe ou se privou conscientemente de saber quando seria seu retorno, imagine “ó, reles, mortal”, se seria possível que eu ou você fizéssemos tal cálculo ou leitura dos astros e fenômenos naturais para acertarmos esse tão esperado dia.

Lewis citando MacDonald, fala sobre os ansiosos pela vinda de Jesus. Ele diz:

Aqueles que dizem: ‘Eis aqui ou eis ali sinais de sua vinda’, pensam estar ansiosos demais por ele e investigam sua aproximação? Quando ele lhes diz para vigiar a fim de que não os ache negligenciando seu trabalho, eles olham de um lado para o outro, e vigiam para que ele não tenha sucesso em vir como um ladrão! Obediência é a chave da vida.[3]

O único sinal claro que Jesus nos deixa de sua volta é que a partir da queda do templo de Jerusalém, no ano 70[4], Ele voltaria à qualquer momento, por isso eos vários alertas à vigilância. Sua volta será sorrateira como um ladrão e veloz como um raio. Desta forma, não devem ser os sinais da terra e do céu que nos colocam para pensar na volta de Jesus. Pois, se pensarmos na volta de Cristo somente em momentos de crise, como argumenta C.S. Lewis, nossas convicções serão transitórias. “A sensação de crise de qualquer tipo é essencialmente transitória. Os sentimentos vêm e vão, e, quando vêm, pode-se fazer um bom uso deles — eles não podem ser nossa dieta espiritual regular.”[5]. O que Lewis está afirmando é que se estivermos somente atentos aos sinais que mostram que Ele virá logo, nossas convicções só durarão enquanto esse evento espantoso existir. A partir do momento que o medo ou o mistério se esvair, com ele a preocupação com a volta de Cristo acabará.

Os três evangelistas (Mateus, Marcos e Lucas) narram o sermão profético de Jesus(Mt.24:1–31; Mc.13:1–27; Lc.21:5–36). Os três repetem quase as mesmas palavras e detalhes. Os três fazem alertas à vigilância. Porém, há uma diferença entre as narrativas. Mesmo que os três usem a parábola da figueira para demonstrar alerta, eles usam-na como ponte para três exemplos diferentes. Mesmo narrando a mesma história e ensinamento, cada um dos evangelistas, ao relatar o sermão profético, coloca um aspecto da vigilância. Marcos cita o chefe da casa que foi viajar e ninguém sabe quando voltará, por isso, “Se ele vier de repente, que não os encontre dormindo!”(Mc.34–37), Lucas que sua volta será como uma armadilha, que enlaçará os incautos, portanto não devemos nos deixar envolver com a “embriaguez e as preocupações deste mundo” (Lc 21.34–36) e Mateus, que Jesus virá como nos dias de noé (Mt.24.37–41). Dos três alertas, esse último é o que mais me chamou atenção. O texto diz que: “Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem.” Obviamente surge a pergunta: O que tinha de especial nos dia de Noé? Mateus continua, “Pois nos dias anteriores ao Dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e eles nada perceberam, até que veio o Dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem.”

Então, o que acontecia? Nada, absolutamente nada. As pessoas comiam, bebiam, se casavam, des-casavam, viviam suas vidas e ocorreu o dilúvio. Foi apenas mais um dia comum, tão comum que podia ter sido numa segunda-feira.

E se Jesus voltar numa segunda-feira?

Ninguém gosta da segunda. Ela não tem o glamour da Sexta, que é o último dia da semana, carregada de promessas. Ou o sábado que “todo mundo espera alguma coisa”; mais, o maior de todos os dias! O Domingo, o grande “dia do Senhor”. Seria muito mais apropriado que o Filho do Homem retornasse, mas numa segunda-feira? Só faz lembrar de trabalho, acordar cedo, mal-humor, mas imagine se Ele voltasse numa simples manhã de segunda?

Era isso que aconteceu nos dias de Noé. Enquanto não veio o dilúvio, Noé era só um velho construindo um barco no meio do deserto,que ninguém dava crédito. Por isso, tantos alertas para que vigiemos e oremos. Pois não sabemos nem dia, nem hora. Jesus voltará em qualquer dia, por isso, devemos estar sempre preparados. Lewis pergunta: “E se a presente fosse a última noite do mundo?”

O que você faria se essa fosse a última noite ou dia? Esse é a vida que Cristo quer que vivemos, como se cada dia fosse ser o último. Não para que vivamos em pânico ou desespero, mas para estar alertas e preparados. Não nos cabe saber o dia e nem a hora, o que devemos é ser vigilantes, Pois Ele pode voltar numa segunda-feira.

BIBLIOGRAFIA:

[1]SNOBELEN, Stephen D. “A time and times and the dividing of time: Isaac Newton, the Apocalypse and A.D. 2060”. The Canadian Journal of History. 38 (December 2003): 537–551. Archived from the original on 25 August 2007. Retrieved 15 August 2007.

[2]https://www.richmond-dailynews.com/2012/12/in-1833-the-sky-fell-but-life-went-on/

LEWIS, C.S..A última noite do mundo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil,2018, p.86

Ibid., p.87

WRIGHT,N.T..Mark for Everyone.London: Westminster John Knox Press, p.182

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Thiago Holanda Dantas
vanitas

Teólogo, professor, licenciatura em filosofia, missionário e escritor de blog. instagram.com/vanitasblog . Segundo colocado da 3ª Chamada Ensaios do Radar abc2