História de Casamento — Divorcio não é legal

Thiago Holanda Dantas
vanitas
Published in
4 min readMay 1, 2020
História de um casamento — Noah Baumbach (2019). (Reprodução/Netflix )

Divorcio não é legal…

Divórcio não é nem um tipo de “passeio no parque”, é uma difícil divisão de famílias, imóveis, bens e etc., tudo é partido ao meio, também, sonhos, planos e expectativas são jogadas fora. Apesar da tentativa de normatizar o divórcio e as facilidades das novas leis, continua sendo um grande desgaste emocional. Se filhos estão envolvidos isso se torna mais complicado e todo esse caos é o que torna História de casamento tão interessante.

Charlie Barber(Adam Driver) é um diretor de teatro de sucesso na cidade de Nova York. Sua companhia de teatro está produzindo uma peça que conta com sua esposa Nicole(Scarlett Johansson), uma estrela de cinema que deixa Los Angeles para atuar no teatro do marido. Eles são o casal perfeito e isso é revelado logo no inicio do filme com Nicole elogiando as várias virtudes do marido, como pai, empreendedor e batalhador que fundou o teatro quase sozinho. Charlie elogia a compreensão de Nicole, por deixar uma carreira em ascensão como estrela de cinema para trabalhar com Charlie no teatro. Você acaba sendo levado a achar que mais uma estória de amor está prestes a começar — tudo engano! A suposta perfeição cai por terra, pois, os dois estão em processo de separação e as falas elogiosas eram somente parte de um exercício do mediador que foi contratado para ajudar no divórcio.

Nicole recusa-se a falar em voz alta esses elogios, que poderiam salvar o casamento, nunca são ouvidos um pelo outro. Esse é o tom de História de casamento, uma quase linda história de amor, que acaba nas salas frias dos escritórios dos advogados.

A recusa de Nicole, em não expressar suas palavras, sugere um temor de perder o controle e talvez voltar atrás . O filme é todo um diálogo, intercalado com cenas em salas apertadas, escritórios e tribunais. As palavras são ditas, mas não compreendidas, temos duas horas do casal em uma franca conversa dura, dolorosa, afiada e elegante, que, no entanto, não conseguem mais ter nenhum tipo de comunicação.

Se já não fosse difícil o suficiente, no centro da disputa está a briga pela custódia de Henry (Azhy Robertson). Os dois amam o filho, entretanto, Nicole decide voltar para Califórnia e de lá abrir o processo de divórcio, porém, Charlie está em Nova York. Isso gera mais sofrimento, pois Charlie tem que se locomover constantemente para ir às audiências periódicas e também visitar o filho.

Em uma das cenas chaves do filme, Charlie e Nicole explodem em rancor acumulado em todo processo de divórcio, e ambos acabam em lágrimas após uma discussão pesada. Adam desmorona, soluçando, depois de desejar morte e doença à sua futura ex-esposa. Culpa, arrependimento e tristeza estão entre as emoções desagradáveis que sentimos após ver algo tão íntimo e pessoal de um relacionamento. Depois das ofensas e palavras mal-ditas, como num momento de catarses, os dois passam a conviver bem e levar melhor todo aquele momento novo pós separação.

(Nicole)Scarlett Johansson e (Charlie)Adam Driver: História de um casamento (2019|Netflix)

Noah Baumbach, o diretor e roterista, que passou pelo drama do divórcio, consegue dirigir Driver e Johansson, para revelar-nos, que não há nada de glamoroso na separação. Todo processo é penoso e estressante. Os dois atores sofrem em cena e conseguem mostrar que o casamento não é algo banal.

Se tomarmos a bíblia como exemplo, a concepção do que é o casamento é expandida, pois, não se resume a troca de papéis, ou um contrato civil assinado em frente às testemunhas. O casamento é uma união misteriosa entre homem e mulher, que nesse evento, se transformam em um(Gn.2.24–25), sendo assim, feito para durar “até que a morte os separe”. Diante de tamanha união, a separação nunca é como alguns parecem demostrar, algo simples como trocar de roupa, mudar de cabelo ou redecorar a casa. É uma cirurgia dolorosa, é como retirar um braço ou uma perna. O Ap. Paulo diz que não é possível odiar a própria carne e chega a comparar a união de homem e mulher, com a união entre Cristo e a igreja (ef.5.29). Esse é o grau de seriedade do matrimônio.

Qualquer pessoa que tenha experimentado o divórcio, seja em primeira ou em segunda mão, viverá novamente a experiência. Baumbach captura as complexidades da vida através da representação de uma dinâmica familiar atraente, enquanto levanta questões pertinentes que envolvem noções de paternidade.

Casamento é coisa séria e separação muito mais. Não é possível banalizar ou glamourizar o término. Como no filme, a vida real, muitas vezes, não tem um felizes para sempre. Os créditos finais põe fim a estória,mas, não sentimos que acabou, pois ficamos com um tipo de tristeza persistente que nos incomoda, pois gostaríamos que os contos de fadas fossem reais.

--

--

Thiago Holanda Dantas
vanitas

Teólogo, professor, licenciatura em filosofia, missionário e escritor de blog. instagram.com/vanitasblog . Segundo colocado da 3ª Chamada Ensaios do Radar abc2