Homer e o sentido da vida

Thiago Holanda Dantas
vanitas
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4 min readJul 1, 2021

Do it for her!

“Os Simpsons” são o melhor show animado da história. Tem mais de 30 anos no ar com popularidade mundial. Eles não fazem tanto sucesso como antes, mas ainda guardam episódios que marcaram a minha vida, um desses episodios é o “And Maggie makes three” da 6ª temporada do show.

Nesse episódio, Homer fica sabendo que Margie está grávida do terceiro filho e ele fica revoltado. Ele havia acabado de deixar o emprego (que odiava)na usina nuclear liderada, pelo malvado chefe, Sr.Burns e tinha começado um novo emprego em um salão de boliche. As contas estavam em ordem e a vida tinha tomado um rumo melhor.

Quando fica sabendo da gravidez de Margie(aliás, gravidez revela algo grave, não parece mostrar algo bom…coisas da língua) Homer diz o seguinte impropério:

-“Eu odeio meu emprego. Eu odeio minha vida. Desde o momento que soube desse bebê, não houve nada além que azar!”

Um novo bebê significava mais gastos e o tão sonhado emprego, que acabara de conseguir, com a companhia de seus amigos, deveria ser abandonado e rastejar, pedindo o trabalho de volta, era seu destino cruel.

As coisas parecem mudar no momento em que ele olha para Maggie e ela pega o dedo dele. Quando isso acontece, tudo muda para Homer. A humilhação de pedir emprego novamente para o Sr.Burns, a carreira sem expectativas de crescimento, o abandono de seus amigos, sua tristeza por fazer o que não gosta. Tudo isso vale a pena quando ele se depara com mais uma boca para alimentar e criar. O amor que ele sentia por aquele ser de apenas alguns segundos, passou a valer o sacrifício de uma vida inteira.

A cena que se segue a partir disso é, provavelmente, uma da mais emocionante da história do programa. Lisa, no início do episódio, havia perguntado o porquê de não haver fotos de Maggie na casa. Segue o diálogo:

Lisa: Por que não têm fotos?

Homer: Oh, têm muitas fotos!

DO IT FOR HER!

Homer tornou a frase perpétua de Burns: “Não se esqueça: Você estará aqui para sempre!” em uma nova frase: “Faça por ela!” Maggie se tornou a razão de todo o sofrimento que ele haveria de passar. Suas fotos seriam o combustível para enfrentar a rotina. Toda vez que Homer se sentisse triste pelo trabalho sem sentido, a imagem de sua filhinha alimentaria a chama para suportar mais um dia.

E é dessa maneira que conseguiremos retirar sentido das coisas banais, somente quando elas valem mais do que o simples trabalho em si. A partir disso, o lavar chão, operar uma máquina, cuidar de pessoas ou qualquer outra função, passa a valer mais do que ele é, por intermédio daqueles que amamos! Esse é o segredo de ter uma vida significativa: o tanto de amor que doamos em forma de serviço é o que faz um pai de família sair às 4 da manhã, ouvir chefe, pegar ônibus lotado. Sem isso, caímos em um vácuo de existência. Nada passa ter sentido, direção. Se Sísifo era o homem condenado ao trabalho sem propósito, nós somos abençoados ao trabalho que tem propósito fora dele, em algo para além das obrigações mecânicas diárias.

O propósito não está dentro de nós, dizia Frankl, está fora de nós, em um trabalho específico, em um projeto, em alguém para amar. Se não encontrarmos essa expansão de nós mesmos em algo ou alguém maior, a vida é nada além de acordar, pegar ônibus, trabalhar, comer e dormir. Uma rotina sem sentido. Mas se fazemos para alguém, o trabalho passa a ter muito mais valor.

Faça o que tem de fazer, mas faça por alguém!

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Thiago Holanda Dantas
vanitas

Teólogo, professor, licenciatura em filosofia, missionário e escritor de blog. instagram.com/vanitasblog . Segundo colocado da 3ª Chamada Ensaios do Radar abc2