Jesus e o reencantamento do mundo

Thiago Holanda Dantas
vanitas
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5 min readDec 24, 2021

“E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados.
Mas o anjo lhes disse: “Não tenham medo. Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo:
Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador que é Cristo, o Senhor.
Isto lhes servirá de sinal: encontrarão o bebê envolto em panos e deitado numa manjedoura”. De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor’”. Lucas 2:9–14

O mundo estava em trevas antes do nascimento do Cristo de Deus. A luz estava furtada aos homens. Luz e trevas são símbolos da falta e da presença de Deus. Sem Ele, o mundo mantêm-se em escuridão, sem poder enxergar para além de si mesmo, envolto em seus próprios projetos de poder. Por isso, Herodes, o “rei dos judeus”, teme o nascimento do menino-rei, o verdadeiro soberano sobre judeus e sobre gentios. Seu temor reflete o medo das trevas de terem suas obras encobertas pela luz que ilumina a todos. Herodes é apenas o símbolo do nosso desejo natural de permanecer em trevas para continuar com nossas obras más.

Jesus, como luz do mundo, é a abertura para o reencantamento do universo. A partir de seu anúncio, anjos, pessoas simples e poderosos; pastores e magos, são convidados a falar das maravilhas de sua vinda. Isso é feito de forma miraculosa, principalmente com os anjos, visitando pessoas para avisar da vinda do messias. Maria, Zacarias, os magos e pastores, todos eles foram visitados por esses entes especiais, encarregados de entregar a mensagem divina. Céus abrem-se, anjos cantam, uma idosa e uma virgem engravidam, no momento em que o Filho de Deus passa a estar próximo da encarnação, tudo o que era absurdo, passa a ter sentido.

Achamos que isso se trata somente de estórias de Conto de fadas ou estórias para entreter as crianças, mas, elas na realidade, são meros relatos de uma história muito maior, o Conto dos Contos, que está no relato da encarnação de Deus no mundo, que permitiu que a humanidade pudesse ser feita novamente, sem a destruição total, como no Gênesis, mas com a destruição do antigo homem para viver no Reino de Deus. Diz Lewis em “Sobre três maneiras de escrever para crianças”, que: “Seria muito mais verdadeiro dizer que a terra das fadas desperta um anseio pelo que ela não se sabe o que é. Isso […] agita e aflige (para o enriquecimento de toda a vida) com a sensação difusa de algo além do alcance dela e, longe de abafar ou esvaziar o mundo real, dá-lhe uma nova dimensão e profundidade. A criança não despreza florestas reais porque leu sobre florestas encantadas: a leitura faz todas florestas reais um pouco encantadas”.

Não quero comparar a história do Homem-Deus com as estórias de fadas, princesas e príncipes ou contos infantis, mas, com aquilo que temos em comum, um Reino. Entretanto, esse Reino, muito maior que os das estórias de fadas, que apenas apontam para algo perfeito, o famoso, “felizes para sempre” onde a paz e o amor reinam, mas somente se mantem pelo fim das páginas dos livros. O fim das palavras, deixa a sensação que tudo permanececeu assim, “para sempre”. Porém, a História do Deus que veio à Terra, tem a capacidade de restaurar toda a humanidade com sua história, que passa à estar iluminada, e pode ter seu encanto restabelecido pelo Filho de Deus. Em outras palavras, a História das Histórias — A encarnação de Deus na Terra — anunciada, primeiramente por anjos, é incumbida a ser repetida por todo ser humano transformado por ela. Nesse recontar, ela se repete, é novamente reencenada, trazida à vida e permite que nós habitemos em um Reino ou um mundo encantado, no qual os anjos falam, virgens dão à luz e pecadores são salvos.

A profecia de Isaias 9, não parece um conto fantástico? Leia comigo:

O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz. Tu multiplicaste a nação, a alegria lhe aumentaste; todos se alegrarão perante ti, como se alegram na ceifa, e como exultam quando se repartem os despojos. Porque tu quebraste o jugo da sua carga, e o bordão do seu ombro, e a vara do seu opressor, como no dia dos midianitas. Porque todo calçado que levava o guerreiro no tumulto da batalha, e todo o manto revolvido em sangue, serão queimados, servindo de combustível ao fogo. Porque um menino nos nasceu… (Is.9:2–6a)

Luz ilumina a Terra em trevas, alegria é dada a todos; julgo da opressão quebrado, guerreiros com suas botas e capas, feitas para guerra, que levavam destruição, são agora combustível, para aquecer os corações e levar a paz. Tudo isso, porque um menino nasceu! Um frágil menino é o motivo de tudo isso ter acontecido! É claro que não se trata de uma mera criança, mas do Rei da glória, o Príncipe da paz, que tocou a terra e a transformou em encanto. Isaias continua dizendo que “o governo está sobre seus ombros e seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” e o com o aumento do seu poder “a paz não terá fim” (Is. 9:6,7).

Assim, como nas luzes do natal, que emulam a luz que uma vez, expulsou as densas trevas que cobriam o mundo, a humanidade, que se afasta de Deus, procura por seu modo, iluminar-se com essa luz artificial, mas isso não é o bastante, somente com a luz verdadeira, Jesus de Nazaré, que a sociedade pode ser iluminada com a luz que espanta toda a escuridão.

Que a celebração do Natal restitua a fé em Cristo Jesus e, somente Ele, reestabeleça à humanidade Sua luz e com ela, a paz tão desejada.

FELIZ NATAL!!!

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Thiago Holanda Dantas
vanitas

Teólogo, professor, licenciatura em filosofia, missionário e escritor de blog. instagram.com/vanitasblog . Segundo colocado da 3ª Chamada Ensaios do Radar abc2