Jim and Andy — Anulação da identidade

Thiago Holanda Dantas
vanitas
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4 min readNov 27, 2017
Jim & Andy: The Great Beyond (2017) — Netlix

Jim carey, um dos maiores comediantes de todos os tempos, após três grandes sucessos; Ace Ventura, O Maskara e Débi & Lóide, se lança em um projeto arriscado, fazer um filme sobre a vida e carreira de Andy Kaufman, comediante morto nos anos 80, que teve uma breve e marcante carreira encerrada por um câncer no pulmão. Kaufman foi um ídolo para Carey por seu jeito nonsense de com[edia, transitando entre a genialidade e o exagero.

Jim no processo da filmagem do filme O mundo de Andy, se transforma literalmente em Andy e seu auterego, Tony Cliffton, um cantor em decadência com uma personalidade controversa. Jim se recusa em todo processo, a sair da personagem, chegando ao limite de quando iria atuar como Clifton, usar um saco de papel, cobrindo o rosto, até que sua maquiagem estivesse feita. Em nesse ponto,que se inicia uma das melhores experiências psicológicas já filmadas.

A universal pictures, produtora do filme, queria fazer um making of(por trás das câmeras), que fosse lançado como material promocional do filme, entretanto, a experiência foi tão inesperada, que, temendo que manchasse a imagem de Carey, em suas palavras “para que as pessoas não pensassem que Jim era um babaca”.

Andy Kaufman em Man on the Moon (1999) /Jim Carrey em: Jim & Andy: The Great Beyond (2017

Esse material ficou escondido por quase 20 anos e a partir de mais de 100 horas de filmagem, que nasce o documentário “Jim and Andy — Life Beyond”, esse documentário revela a personalidade de Jim Carey, um homem que aprendeu desde cedo a colocar os sorrisos dos outros em detrimento de si mesmo. Ele diz que quando subia ao palco, Hide,o monstro do conto, o medico e o monstro, tomava conta dele, não para destruir, mas para dar amor. Ele aprendeu que devia dar aquilo que as pessoas queriam — uma vida livre de cuidados, e para isso, ele se torna o homem sem preocupações.

Jim revela que em muitos papéis, ele não está atuando, mas ele é a personagem; em O show de Truman, ele é aquele homem, preso pela fama, sendo observado por todos e querendo fugir de tudo aquilo, em Brilho eterno de uma mente sem lembranças, ele é o homem destruído por um relacionamento querendo esquecer a amada. Ele se entrega a cada papel e nesse filme vemos Carey desaparecer para que Andy surja, ele até diz que teve uma visão de Andy, dizendo que iria fazer seu filme — se é verdade não se sabe, mas é isso que vemos em todas as filmagens, levando o diretor Milos Forman, de Um estranho no ninho e Amadeus, à loucura com Tony Clifton, a cada vez que ele se recusava a atuar ou a repetir as cenas.

The Truman Show (1998) — Paramount Pictures

Jim suspende sua própria personalidade para ser Andy, e o que surge disso? Um homem perdido, que não sabe quem é, após todo o processo de quatro meses de filmagem, ele se sente feliz com a liberdade de não ser ele mesmo, que demora algum tempo, para deixar aquela “entidade” que se apoderou dele, ele diz que quando deixou Andy, sentiu todo o peso da existência novamente, “parecia que jim Carey estava de férias” e agora tinha que voltar, e com isso, todos seus problemas.

Na atuação, a suspensão momentânea da personalidade é vital para o sucesso do ator, muitos tiveram o problema de deixar suas pseudo-personas para trás, alguns não conseguindo, chegaram ao ponto de tirar a própria vida, como Heath Ledger, pois a sombra do Coringa foi tão pesada que ele não pode suportar. Tocar nos demônios da alma e monstros escondidos é algo perigoso, ainda mais com uma personagem que pode agradar àquele que a usa. Ser quem não somos pode ser libertador por algum tempo, mas danoso à alma, que pode querer se apropriar da personagem para sempre.

Jim diz que, “A maioria das pessoas anda com uma máscara , e se você tira a mascara por muito tempo, eles começam a dizer: — Ei, coloca a mascara. Você esta estragando o contrato. O problema é que essa pessoa é louca, essa pessoa está depressiva. Eu não estou com depressão — de maneira nenhuma! Eu sou somente mais uma flor no jardim, e eu estou lidando com o mesmo clima como qualquer outro”. Ele tomou a decisão nesse momento de sua vida — não ser o que os outros esperam, viver em busca do que ele deixou para trás. Talvez cansou-se da mascara que usou por tantos anos. Ele termina dizendo “E se eu quiser ser Jesus?” Sua busca por sentido parece continuar.

Jim termina dizendo: “estar deprimido é ser o que o mundo quer que você seja e não quem você é”. Sua depressão parece ter ido embora, no momento em que resolveu tirar a máscara e revelar quem ele era de verdade. Esse parece ser o esforço mais difícil do ser humano, mas ao mesmo tempo, é o mais libertador de todos.

Originally published at https://www.tumblr.com on November 27, 2017.

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Thiago Holanda Dantas
vanitas

Teólogo, professor, licenciatura em filosofia, missionário e escritor de blog. instagram.com/vanitasblog . Segundo colocado da 3ª Chamada Ensaios do Radar abc2