Jonas, o profeta sem caráter
Jonas é um profeta estranho, e o Livro de Jonas também é um livro estranho. O tema de arrependimento e salvação norteiam o livro, mas Jonas é o profeta que não acredita nos dois. Seu caráter assemelha-se a um herói da literatura brasileira, Macunaíma. Ele é a personagem principal do livro de Mário de Andrade publicado em 1928, ele é o herói sem caráter. Individualista e muito preguiçoso, sua frase, que é repetida várias vezes é: “ai que preguiça”. Ele é malandro, egoísta, vingativo e inocente. Macunaíma também é lascivo e gosta da vida fácil e de prazeres.
Jonas não é tão ruim quanto Macunaíma, mas é parecido, O caráter de Jonas também é dubio, sua palavra parece não valer muito, e ainda por cima, não possui as qualidades esperadas de um profeta: não tem discernimento, nem visão, nem compaixão e muito menos coragem. Acima de tudo, ele está sem energia e sem iniciativa. Ele é somente levado pela circunstâncias.
Jonas fala que irá para Nínive e foge para Társis, Jonas engana os marinheiros e dorme no navio, depois vira crente e pede para ser jogado ao mar; é engolido por um grande peixe e no ventre, parece se arrepender. Depois, faz o que Deus manda, mas sem vontade e quando o povo de Nínive se arrepende, ele briga com Deus e quer morrer!
No livro que leva seu nome, somente Jonas age mal: os quatro outros grupos de personagens: o capitão, os marinheiros, o povo de Nínive e seu rei — parecem todos ansiosos para fazer a coisa certa.
Em Jonas, Deus revela-se como Senhor de todos os povos, o galileu Jonas é menos crente do que os pagãos ninivitas. As ordens são viradas no livro. O profeta, não quer anunciar e os pagãos querem adorar a Deus!
Jonas em sua oração(4.2), quer perguntar a Deus, como Ele pode ser misericordioso e perdoar pessoas que fizeram tanta maldade? Como Deus pode ser misericordioso e justo com pessoas que não merecem?
Tim Keller comenta sobre isso:
Essa pergunta não é respondida no livro de Jonas. Como parte de toda a Bíblia, no entanto, o livro de Jonas é como um capítulo que leva adiante a trama geral das Escrituras. Nos ensina a olhar adiante como Deus salvou o mundo por meio daquele que se chamava maior que Jonas (Mateus 12:41), para que ele pudesse ser ao mesmo tempo justo e justificador daqueles que crêem (Rom. 3:26). Somente quando os leitores compreendermos completamente esse evangelho, não seremos exploradores cruéis como os ninivitas, nem os crentes farisaicos como Jonas, mas sim mulheres e homens mudados pelo Espírito, semelhantes a Cristo.
Jesus se identifica com o desobediente Jonas, e com toda a humanidade decaída, em Cristo temos um novo Jonas e uma nova humanidade restaurada. Keller continua:
Muitos estudantes do livro notaram que, na primeira parte, Jonas interpreta o “filho pródigo” da famosa parábola de Jesus (Lucas 15: 11–24), que fugia de seu pai. Na segunda metade do livro, no entanto, Jonas é como o “irmão mais velho” (Lucas 15: 25–32), que obedece ao pai, mas o repreende por sua graça aos pecadores arrependidos. A parábola termina com uma pergunta do pai ao filho farisaico, assim como o livro de Jonas termina com uma pergunta ao profeta farisaico.
Em Jesus, o profeta pródigo, pôde obter perdão e ser salvo, assim, Macunaíma pode ser salvo e eu e você também podemos ser salvos.
BIBLIOGRAFIA:
KELLER, T. The Prodigal Prophet: Jonah and the Mystery of God’s Mercy, Penguin Random House LLC. 2018. em: https://www.thegospelcoalition.org/article/jonah-prodigal-prophet/
