O clube da luta: A busca por sentido em um mundo Irracional

Thiago Holanda Dantas
vanitas
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4 min readJun 11, 2018

“Nós somos os filhos de um país ridículo e sem história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão são nossas vidas. Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia seríamos ricos, estrelas de cinema os astros do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso. E estamos muito, muito revoltados” Tyler durdem

Fight Club - Dir.David Linch(1999)

Tyler Durdem(Brad Pitt) é um alter-ego criado pela mente do narrador (Edward Norton, durante o filme não é dito seu real nome). Tyler é violento e irracional, o oposto do narrador, que é calmo, quase submisso à sociedade. O narrador é alguém que está em busca por sentido através da compra incessante de bens de consumo, mas nada disso o preenche. Sua busca e o clube da luta, retratam a procura frenética por sentido em um mundo irracional.

O filme é uma guerra contra os símbolos do consumismo, um ataque às bases do capitalismo, que de alguma forma, traz sentido à vida de muita gente, com seus símbolos de status. Seja um bom emprego, dinheiro no banco, carro de luxo ou computadores, principalmente da marca Apple. Tudo isso dá sentido, mesmo que efêmero, aos seres contemporâneos.

Apenas a compra e troca de mercadorias de forma quase irracional não traz preenchimento completo. Nessa ação, há a tentativa de encontrar significância e significado por trás desses objetos fetichiosos. Os anúncios publicitários, são a voz que tenta fazer com que esses objetos deem aos humanos algum tipo de salto transcendente à vida ideal. O próprio narrador, diz que estava quase se sentindo completo com a nova sala de estar.

Ao invés de olhar para fora, Tyler Durdem, diz que não há o que olhar, seus seguidores são os filhos indesejados de Deus, apenas vermes, somente matéria orgânica — apenas porcaria sem uso e sem direito a nenhum tipo de redenção.

Brad Pitt e Edward Norton (1999)

Durdem dá sentido aquelas pessoas desesperadas, um esquizofrênico, que consegue ler melhor o tempo atual do que os ditos racionais. A pós-modernidade é uma era onde se acredita que a maioria das pessoas irá sofrer algum tipo de fragmentação e alternância de memoria. Essa era sufocante que aliena àqueles que estão fora da cadeia de consumo. A critica de Tyer Durdem, é contra o capitalismo selvagem, seu “american way of life”, a classe média e todo o papo de “american dream”.

Se não é possível ter acesso ao bens de consumo, a única maneira é destruir todo o sistema capitalista e seus maiores símbolos, os bancos e principalmente os cartões de crédito. Mas será que a fome por sentido será saciada? A simples anarquia é a resposta?

Uma busca insana, substitui a pretensa sanidade moderna, porém é apenas um “tapa buraco”, para despistar a grande questão: Por que estou vivo?

A loucura pós-moderna não vai atrás de sentido, mas experiências, emoções e sensações, que façam toda essa realidade delirante ter algum motivo de existir. Temos raiva porque nos enganaram. Seriamos todos “rockstars”, celebridades e amados por todos. Mas nada disso se tornou verdade.

A resposta Durdemniana é acabar com tudo isso, todo o capitalismo posto à baixo, para que retorne ao estado original de pureza — uma soteriologia marxista,no qual, através da união do proletariado e da revolução, leia-se destruição da burguesia e dos meios de produção, tudo faria sentido e seriamos perfeitos — o que nunca aconteceu e não acontecerá.

Porém, isso também não responde à questão, porque ainda vivo? Se procura a liberdade debaixo dos escombros dessa destruição, o ser será livre finalmente, longe das correntes da vida atual, uma liberdade existencialista, sem Deus ou qualquer outra forma de poder para colocar limites. Nessa liberdade se acredita poder encontrar algo maior, mas o vazio é constante, essa falsa liberdade apenas deixa-o mais prisioneiro de seus instintos.

Porque viver então? A resposta do narrador é enfiar um bala na cabeça. Não faz sentido a existência. Sem a transcendência a vida se torna um grande vazio, o homem se vê só e tem que lidar com o absurdo. Filósofos como Sartre ou Camus, chegaram à mesma conclusão do Narrador.

Durdem, como profeta, diz que a nossa guerra é espiritual. Porém, como ter paz nessa guerra espiritual se Deus está morto ou nas palavras de Tyler, “Ele nunca te quis. Provavelmente, Ele te odeia!”

Essa guerra espiritual foi fabricada por nós, Durdem diz que somos os filhos odiados por Deus, Apóstolo Paulo diz que somos os filhos da ira, que somos inimigos de Deus. (ef. 2.3) Realmente esse profeta pós-moderno está correto. Não há salvação em nós mesmos. Porém, Deus resolveu intervir nessa guerra começada por nós, para alcançarmos a liberdade. Ele envia seu filho para resgatar a raça humana perdida. Somente o próprio Deus poderia fazer isso. Éramos os filhos da ira, os rejeitados, os condenados, entretanto, em Jesus, por seu amor, somos chamados de filhos de Deus. Ele nos salvou e deu novo sentido. Esse vazio existencial humano é preenchido por essa vida, que é para além desse mundo decaído e está em um novo mundo restaurado.

Ele é a resposta à questão: porque estou vivo?
Vivemos para algo maior de nós, acordamos todos os dias e vamos trabalhar porque cremos que esse mundo será restaurado e há sentindo para além da vida. Vivemos por alguém muito maior do que eu ou você. Esse alguém é que preenche o vazio do ser e mostra um caminho além dessa loucura pós-moderna.

Originally published at thiagohdantas.tumblr.com.

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Thiago Holanda Dantas
vanitas

Teólogo, professor, licenciatura em filosofia, missionário e escritor de blog. instagram.com/vanitasblog . Segundo colocado da 3ª Chamada Ensaios do Radar abc2