Análise de investimento — DueLaser

Bruno Peroni
VC sem ego
Published in
7 min readSep 14, 2017

Estive um pouco parado com as postagens de análise, pois estava analisando outras empresas com rodadas de equity crowdfunding fechadas, que não podem ser publicadas. E também envolvido com a minha mudança de volta para o Brasil. Em breve farei um post sobre a minha experiência em Boulder.

Agora, voltando ao ritmo!

Neste post vou analisar a empresa DueLaser, com rodada de investimento disponível na plataforma EqSeed, que tem lançado diversos novos deals. Clique aqui para acessar a página da oferta.

Descrição da empresa:

Empresa que fabrica máquinas de corte a laser portáteis.

Descrição da oportunidade:

Com o barateamento de componentes eletrônicos e evolução nas tecnologias de comunicação, ferramentas que unicamente eram apenas acessíveis em escala industrial estão chegando ao grande público. O exemplo clássico dessa tendência são as impressoras 3D, que possibilitam prototipagem rápida e criação de pequenos objetos a preços módicos.

Tudo começou com impressoras 3D de plástico, que agora estão evoluindo para outros materiais, como metais, resinas e até materiais orgânicos. Mais recentemente, outras aplicações industriais também têm sido democratizadas, como máquinas CNC e corte a laser.

A DueLaser fabrica máquinas de corte a laser portáteis no Brasil, com nível de inovação internacional. Competindo com empresas antigas e quadradas, que possuem soluções que custam no mínimo cinco vezes mais caras, a Due pretende ser uma opção acessível.

A empresa começou em 2015 e recebeu recursos não-reembolsáveis do projeto Sinapse da Inovação em Santa Catarina e no mesmo ano recebeu um investimento anjo. Em 2016, lançou um projeto no Catarse para financiar a fabricação das primeiras máquinas, bateu a meta e vendeu 8 impressoras. Entregou o produto no prazo, coletou o feedback dos early-adopters e começou a operação comercial em março de 2017.

Atualmente, a empresa vende entre uma e duas impressoras por mês, faturando entre R$5 e R$10 mil e está captando uma rodada de R$300 mil para investir em vendas e marketing e também para profissionalizar a operação de montagem.

Produto e inovação:

O produto é realmente inovador. A máquina é comparável a poucas a nível internacional. É rápida, pequena e sem fio. A Due tem dois modelos que custam entre R$5.500 e R$7.000. Segue abaixo uma fotos das impressoras.

Fotos de uma das impressoras da DueLaser

O grande benchmark é a Glowforge, americana que teve U$27 milhões em pré-vendas no Kickstarter. Vale a pena ver o vídeo da empresa abaixo. É incrível.

Mas apesar da Due ter um produto mais singelo, já estão operacionais, enquanto a Glowforge ainda não entregou os primeiros produtos.

Algo que realmente diferencia a Due é que eles desenvolveram um software proprietário para tornar muito fácil a operação da máquina. Na minha visão, essa é a principal barreira para uma adoção em massa das impressoras 3D. Não é trivial encontrar alguém que entenda bem de Solidworks, agora pegar uma imagem JPEG e conseguir rapidamente imprimir isso em diversos materiais é realmente incrível.

Os empreendedores têm uma visão bastante interessante de evolução do software, criando um marketplace de compra e venda de modelos pré-prontos. Na minha opinião, o software vale mais em termos de propriedade intelectual do que a impressora e é o grande diferencial da Due.

Mercado:

Máquinas de corte e marcação a laser têm aplicações muito amplas e uma das dificuldades da empresa foi aprender com os early-adopters para escolher um mercado-alvo. O mercado escolhido foi o de personalização de objetos. Hoje, poucos players podem pagar por uma máquina própria e acabam terceirizando esse trabalho. Com a Due, pequenas lojas e ateliês podem pagar por uma ou mais máquinas. Esse é um mercado grande, mas difícil e pulverizado e não acostumado a comprar tecnologia.

No seu deck, a empresa apresenta o seu mercado-alvo como sendo um corte do mercado de máquinas de corte laser de pequeno porte importadas, valendo R$80 milhões, conforme abaixo.

Slide sobre tamanho de mercado apresentado pela empresa

Mas na verdade, a Due cria um novo mercado, de máquinas super portáteis, que vai aumentar o bolo e não só pegar uma fatia, já que vai dar acesso a muitas empresas que atualmente não têm condições de ter uma máquina própria.

Uma maneira mais inteligente de apurar o tamanho de mercado seria fazer uma avaliação bottom-up. O mercado-alvo é o de customização, geralmente formado por artesão e pequenas empresas. Segundo o IBGE, existem 8,5 milhões de artesãos full-time no Brasil.

Pense comigo:

Se considerarmos que 5% desses artesãos podem ser clientes, ou seja, que trabalhem com materiais que possam se beneficiar de corte/marcação a laser, são 425.000 potenciais clientes. Considerando que cada um pode comprar uma máquina a um ticket-médio de R$5 mil, o mercado endereçável total da empresa seria de R$2 bilhões, apenas neste mercado.

Concorrência:

Existem outras máquinas compactas à venda no Brasil e fora do Brasil, mas não muitas. A empresa apresenta 4 concorrentes em seu deck. Veja abaixo.

Slide de concorrência apresentado pela empresa

Fora do Brasil, além da Glowforge, existe a Mr. Beam, na Alemanha, que arrecadou quase €1 milhão no Kickstarter. Localmente, temos a Laserline e Automatisa. Achei também a Inovalaser e Eurostec, mas todos possuem soluções maiores e mais caras que a Due. A solução da Automatisa me parece ser a mais próxima. A empresa produz máquinas para diversos mercados e parece bem capitalizada. A empresa também é de Santa Catarina e achei bem estranho um dos modelos menores se chamar DUA.

Mesmo com concorrência de fora do país bem forte, acho que existe espaço para um player local, que talvez tenha força também para competir fora do país. No mercado doméstico, as soluções estrangeiras vão sair no mínimo o dobro do preço da Due. Vejo a Due se tornando a Cliever (investida pelo Criatec 2 e líder em impressoras 3D no Brasil) das máquinas de corte laser.

Existem opções chinesas e americanas que utilizam a tecnologia de laser de CO2 para corte, que possui qualidade e tempo de corte bastante inferior, além de ser muito menos eficiente em termos de gasto de energia.

Estratégia de crescimento:

A empresa atualmente vende 2 máquinas por mês e precisa de capital de giro e também recursos para investir em atividades comerciais e de marketing.

Atualmente, a principal estratégia da empresa é inside sales, com uma pessoa do time vendendo para potenciais leads. Falta conhecimento e expertise em marketing, mas o time parece obstinado para aprender sobre vendas.

No deck a empresa apresenta alguns canais possíveis, mas sem muito aprofundamento. O maior desafio da Due vai ser construir uma estratégia de revendedores que a permita chegar aos potenciais clientes. Certamente um dos pontos fracos.

Time:

O time é formado por três engenheiros mecânicos e eletrônicos, e por uma equipe de mais três pessoas, que apoiam com vendas, montagem e design.

O time pareceu bem técnico mas bem coeso e com vontade e paixão pelo problema. Gostei muito da conversa que tive com eles durante webinar organizado pela EqSeed.

Acredito que falte uma pessoa sênior na empresa para tocar a estratégia de crescimento, marketing e vendas e de preferência que tenha experiência em como crescer uma empresa de hardware. A Due vai precisar dessa pessoa no médio prazo.

Valuation:

A proposta de investimento é de R$300mil em troca de uma participação de 15%, sendo que o investimento mínimo é de R$3 mil.

O valuation da empresa de R$1,7 MM pré-money está bastante adequado com a sua realidade, de ainda faturar e vender pouco. Mas acredito que o crescimento será bastante rápido e como o ticket da empresa é alto, acho que a empresa tem potencial de multiplicar por dez o seu faturamento rapidamente.

Cláusulas e riscos contratuais:

Contrato padrão do EqSeed, onde não há custos de transação, mas uma taxa de performance mais alta, de 10%.

Cap table:

Fundadores: 69%

Investidor anjo: 31%

A Due tem no captable um problema claro. Após a rodada da Eqseed os empreendedores terão menos de 60% de participação, o que é ideal para uma empresa pós rodada institucional (Series A). Normalmente, essas condições seriam um deal breaker. Eu só vou investir porque gostei muito do case e do negócio e acredito que isso será resolvido mais para frente, em rodadas futuras.

Pontos a favor:

  • Produto realmente inovador
  • Valuation justo
  • Bom momento de entrada na empresa (alto potencial de crescimento)

Pontos contra:

  • Captable problemático
  • Falta de clareza da estratégia de crescimento
  • Mercado pulverizado, difícil de atingir

Veredito:

Vou investir.

Para ter acesso aos documentos da oferta acesse a página da Eqseed.

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Disclosure: a análise apresentada tem como único propósito fomentar o debate com a comunidade interessada em investimentos de risco em novos negócios e não é uma recomendação de investimento. Os leitores devem, portanto, desenvolver as próprias análises e estratégias.

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Bruno Peroni
VC sem ego

Venture Capital, Inovação e Startups; VC @ Astella ; Host @ A Virada Podcast