Venture Capital em tempos de crise: inverno e liquidação

Bruno Peroni
VC sem ego
Published in
4 min readApr 1, 2020

Estamos em tempos de crise. O coronavírus é o Cisne Negro de 2020. Ninguém sabe muito bem o tamanho do crash que vai precipitar. É obrigação nossa, como analistas de cenário, projetar alguma luz na escuridão e procurar um caminho razoável para a sobrevivência, a retomada e o progresso.

O jogo vai mudar em muitos tabuleiros diferentes. E vai mudar rápido! Um deles é o capital de risco, de investimentos em novos negócios e startups.

Fui convidado pela Semente e pela Bloxs para falar em lives (sim, até eu!) sobre este fenômeno e como ele vai impactar o mercado. Consolidei neste artigo meus principais pensamentos sobre o tema.

Como o mercado de VC será impactado?

Dados da CBInsights mostram que os investimentos privados já devem cair 16% no Q1 2020, isso com os dois primeiros meses impactando a atividade chinesa apenas.

Assim como o número de negócios global, que deve cair 30% globalmente e 40% na Ásia.

Nessas horas, pode ser um pouco útil olhar para eventos parecidos no passado. Não tem muita utilidade pensar na Gripe Espanhola, por exemplo. Outra economia, outro mercado, outra sociedade. 2008 é nossa referência mais próxima.

Como os investimentos se comportaram durante 2008?

Tomaz Tunguz, cujo blog é imperdível para empreendedores de SaaS, apresentou dados muito interessantes.

Do topo, os investimentos de VC nos EUA caíram 50% e demoraram 2 anos para voltar aos mesmos patamares e quase 4 anos para ultrapassar a última máxima.

E olhando para como esta queda afetou cada modalidade de investimento, fica claro que os estágios mais avançados foram mais impactados. o investimento em Seed caiu mais rápido mas também logo se recuperou.

Se isso for verdade dessa vez, empresas altamente alavancadas que estavam preparando suas captações de Series B e C para os próximos 12–18 meses podem ter problemas.

Mas o mais interessante dos dados apresentados pelo Tunguz foi o número de deals: basicamente inalterado durante a crise.

Isso mostra que os investidores continuaram investindo só que com cheques menores. Ou seja, comprando empresas em liquidação.

Eu acredito que isso deve acontecer de maneira similar dessa vez, pois os fundos de VC e PE nunca tiveram na história tanto capital disponível para investir, o chamado dry powder. Esse dinheiro já foi comprometido e não será reduzido.

Minha visão do que vai acontecer:

Em um primeiro momento, nos próximos 3–6 meses, os fundos vão parar de investir. Negociações em andamento serão concluídas, mas o isolamento, inexistente nas outras crises, vai dificultar a criação de novos relacionamentos com empreendedores. Além disso, estarão focados no seu portfolio, garantindo que as empresas investidas sobrevivam nos próximos 18 meses sem novas captações.

Em um segundo momento, o investimento vai retomar, porém, haverá uma liquidação. Negócios vão voltar a buscar funding, mas os investidores ainda estarão cautelosos. Os valuations vão sofrer uma GRANDE correção. É sempre bom ter em mente que as receitas terão caído e o valuation é baseado em valor futuro. Quando o futuro não é conhecido, há um desconto.

Mark Suster, um dos principais VCs americanos concorda com essa tese e acha que um negócio com a mesma receita pode ter uma queda no múltiplo de sua receita de até 50%.

Fonte: Two Sides of The Table, Mark Suster

E como a crise impacta os investidores anjo?

Todos os investidores pessoa física agora estão em modo de segurança, avaliando como a sua renda será impactada pela crise. Muitos perderam dinheiro, pelo menos no papel, na bolsa. Então, a última coisa que querem neste primeiro momento é falar de risco.

No entanto, depois que o pior passar, aqueles investidores que não tiverem sua renda impactada se verão sem muitas alternativas. Os juros estão na mínima histórica e a bolsa ainda está volátil demais.

.Como será que empresa anti-frágeis, que precisam de dinheiro para aproveitar as oportunidades surgidas na crise, vão performar?

Será possível captar nesse cenário?

Vamos ver os próximos capítulos.

Outras fontes legais: vale bastante a pena ler a carta que a Sequoia mandou para todas as empresas do seu portfolio já no dia 5 de março, antes da maioria ter noção do tamanho do problema. Também recomendo o playbook da Astella, super em linha com o que postei aqui.

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Bruno Peroni
VC sem ego

Venture Capital, Inovação e Startups; VC @ Astella ; Host @ A Virada Podcast