Chacrinha vive!

Rede Globo
Velho Guerreiro
Published in
3 min readSep 6, 2017

por Artur Xexéo

Para se ter uma ideia do impacto provocado pela chegada de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, à televisão, é preciso entender o que era um apresentador de TV em 1956. Na televisão ao vivo e em preto e branco, apresentadores estavam sempre de terno e gravata. Falavam um português castiço, dirigindo-se com respeito ao espectador. Tinham a voz colocada, quase todos eram também locutores de rádio. Era assim o mundo de J. Silvestre, Murilo Néri, Aurélio Campos. Vicente Leporace apresentava um programa infantil vestindo traje a rigor! Abelardo Barbosa veio na contramão.

Ainda não balançava a pança, como Gilberto Gil registrou em seu “Aquele abraço”. Era bem magrinho até. Usava um boné e calças largas como as de jóquei. Pendurado no pescoço, um disco de telefone de papelão. Deu pra entender? Era uma fantasia de disc-jóquei! E, entre um número musical e outro apresentados pelos cantores que levava ao auditório da TV Tupi carioca, gritava um enigmático “Alô, alô Teresinha!”

Até Chacrinha chegar, o espectador acreditava que também deveria usar terno e gravata para assistir às atrações da TV. Chacrinha nos libertou. A gente podia se esparramar na poltrona, usando pijama se fosse o caso. Se o apresentador estava daquele jeito, por que o espectador deveria se arrumar? Chacrinha tornou a televisão mais íntima de quem estava em casa. A partir dele, o jeito de se apresentar um programa nunca mais foi o mesmo.

Com o tempo, ele radicalizou. Podia vestir-se de baiana, jogar bacalhau na plateia, buzinar calouros. Nunca mais houve um apresentador como Chacrinha. Mas hoje, nas tardes de domingo, quando a gente vê Fausto Silva dirigindo-se a seu público com piadas de duplo sentido, ou quando Pedro Bial abandona sua bancada para dançar com Claudia Raia como se fosse o astro de um musical ou ainda quando Serginho Groissman, num tom acima do convencional, diz que o “Altas Horas volta já”, há um pouco de Chacrinha no ar.

A televisão estava destinada a ser descontraída. É uma característica do veículo. Mas Chacrinha acelerou o processo. Ao mesmo tempo em que era único, tornou-se um exemplo para todas as gerações de apresentadores que se seguiram a ele. “Na televisão, nada se cria, tudo se copia”, costumava dizer o Velho Guerreiro. Não é bem assim. Chacrinha, por exemplo, inventou um jeito de se fazer televisão. Depois dele, tudo foi um pouco cópia.

Com direção artística de Rafael Dragaud e direção-geral de Daniela Gleiser, o especial ‘Chacrinha, O Eterno Guerreiro’, uma parceria entre a Globo e o VIVA, reverencia Abelardo Barbosa, que no dia 30 de setembro completaria 100 anos. O programa celebra a atmosfera do inesquecível ‘Cassino do Chacrinha’, que foi ao ar na Globo entre os anos de 1982 e 1988.

Time de jurados do especial ‘Chacrinha, O Eterno Guerreiro’ (Foto: Pedro Curi)

A exibição na Globo está prevista para o dia 6 de setembro e o especial fica disponível para assinantes pelo Globo Play.

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